MERVAL PEREIRA E ABÍLIO DINIZ.
É muito estranha essa reviravolta do lulismo, um fenômeno que cheguei a apoiar e hoje não apoio mais.
O contexto do golpe político de 2016 já alertou sobre a reação de Lula, que passou a subestimar os retrocessos ocorridos desde então.
Ele os admite nominalmente, mas não parece sentir os prejuízos que aconteceram depois que Dilma Rousseff deixou o poder.
Quando Lula passou a dizer "Vou fazer o Brasil ser feliz de novo", em pleno cenário de distopia, já comecei a pensar: não vou votar mais nesse cara.
Não virei um antipetista doentio, e eu até respeito Lula como pessoa, assim como aqueles que estão em torno dele.
Critico quando se deve criticar. Como no caso de Tereza Cruvinel, que não acredita que Geraldo Alckmin irá impor sua agenda para Lula, por ser apenas cotado para a Vice-Presidência da República.
O histórico de Geraldo Alckmin, eu pesquisei na Internet, é de arrepiar. Foi dele a decisão de ordenar o prefeito de São José dos Campos a usar a polícia para expulsar os moradores do bairro popular de Pinheirinho, para atender a uma massa de empresários falidos.
Repressão às greves de trabalhadores, acusações pesadas de supostas ligações com o PCC e com os incêndios nas favelas de São Paulo e associação com a seita neomedieval Opus Dei também pesam no currículo do "Santo" que governou o Estado de São Paulo.
De repente, de uma hora para outra, Geraldo Alckmin virou "esquerdista desde criancinha" e hoje deixou o PSDB, formalizando sua saída, embora sem decidir para que partido vai.
Em todo caso, as esquerdas ficaram estranhamente eufóricas ao ver Alckmin como o mais cotado para ser vice de Lula.
Leio textos de seus defensores, e eles tentam argumentar de diversas formas.
Um fala do "pragmatismo" de buscar alianças de centro-direita porque Lula, a despeito das "vitórias fáceis" nas supostas pesquisas de intenção de voto, não venceria sozinho uma eleição.
Outros falam que Geraldo Alckmin mudou, apesar de não haver qualquer indício de que ele tenha revisto seus valores.
Em 2018, Alckmin já se declarou favorável à prisão de Lula, dizendo que "a lei vale para todos", "ninguém está acima da lei" e que "discursos populistas e mentirosos nos levaram à pior crise da história".
E Alckmin foi rival de Lula na corrida presidencial de 2006.
Mas nada como um dia após o outro.
Vemos hoje duas declarações de antipetistas que, supostamente, se renderam a Lula.
Um é o empresário Abílio Diniz que, dentro do movimento Renova BR, era um dos artífices da "terceira via raiz", do político-empresário que representaria o "novo" na política nacional como candidato à Presidência da República.
Ao saber da futura aliança Lula-Alckmin, considerada quase certa, Abílio ficou entusiasmado. "Vem coisa boa aí", disse o empresário.
Já Merval Pereira, um opositor enérgico de Lula, admitiu que "irá votar nele" na hipótese da chamada terceira via "encalhar".
Juntemos as peças. E vejamos agora o cartaz que o G1, das Organizações Globo, e UOL, da Folha de São Paulo, agora fazem em favor de Lula, depois de anos de antipetismo histérico.
Já dá para perceber que Lula abriu mão de alguns de seus princípios. Para os opositores se renderem a ele, existe algum motivo, e não é o corpo saradão ou a beleza do petista nem a tal "irresistível alegria do povo brasileiro".
Infelizmente, vejo nessa campanha antecipada de Lula uma das coisas mais confusas e contraditórias de toda a corrida presidencial.
E o que mais espanta é que as esquerdas ainda acreditam no "Lula-raiz", dos chãos de fábrica, que, infelizmente, desapareceu há um bom tempo e, pelo jeito, não volta mais.
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