Vejamos o seguinte diálogo (para quem quer adquirir o livro, clique no título em caixa alta):
Dois rapazes conversam em alguma praça pública. Um deles começa a falar:
- Eu não tenho o menor interesse em ler ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES. Que é isso, cara? Criticando essa maravilhosa campanha de "combate ao preconceito"?
- Mas, meu amigo, esse livro toca na ferida da mediocridade cultural vigente. Principalmente na música. Ou você acha que João Gilberto e Mr. Catra são a mesma coisa?
- Não é, mas... Sabe, a questão do outro...
- Você está com medo de ver as questões que estão no livro ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES e que não aparecem na grande mídia nem nas redes sociais.
- Não, não estou com medo. Estou é sem interesse de ler o livro. Além disso, são mais de 300 páginas, o livro é caro, deve ser mais de R$ 30 incluindo o frete...
- Com um preço bem maior, você já completou aquela saga do cavaleiro medieval atormentado, lembra?
- Mas aquilo é outra coisa. É algo mais empolgante.
- Não acho. Essas estórias medievais são uma fuga da realidade. Que se aproveite a leitura como entretenimento, tudo bem, mas há necessidade em você se preocupar com o segredo da espada tal, do diamante qual, do enigma de qualquer coisa?
- Tenho necessidade, sim! E não estou fugindo da realidade, tanto que fico sempre ligado nas redes sociais.
- E rede social é realidade? É outro ponto de fuga. Imagine, dar importância exagerada a ficções literárias que já são fuga três vezes: fuga da realidade, fuga do Brasil e fuga da atualidade. Obras de ficção que passam em lugares nórdicos, do século XIV para trás...
- Eu gosto disso, tá?
- E as redes sociais, o reino da fantasia? Só tem lacração, lá!
- É, mas também tem a realidade, viu? Tem aquela matéria do Brasil Urgente que...
- E Brasil Urgente é realidade? Programa policialesco! É por isso que você tem medo de ler ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES, preso nesse mundinho popularesco em que se encontra.
- Meu mundo sou eu que escolho, tá! Se é para eu dançar sofrência, danço. Se é para torrar fortuna com livros de cavaleiro medieval atormentado, dramalhão juvenil contemporâneo e auto-ajuda, eu torro mesmo. Eu não quero encarar obras difíceis, falou?
Enquanto ocorre essa discussão, um terceiro rapaz pergunta:
- Amigos, vocês estão discutindo sobre um livro chamado ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES?
- Sim, estamos. E o meu amigo não quer ler esse livro.
- Não? O livro é um barato. Eu também não manifestei meu interesse, mas depois que eu li o blogue Linhaça Atômica falando desse livro, resolvi encarar. Muito bom.
- Eu não quero ler esse livro porque não me interessa criticar intelectuais que só cumprem sua missão.
- Esse amigo meu é muito teimoso. Ele prefere ler ficção medieval do que um livro que fala dos problemas culturais do nosso Brasil.
- Ah, sim, o amigo não quer ler ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES? Caramba, o cara está fugindo do problema, prefere fingir que está tudo bem.
- Eu não quero fingir que está tudo bem. Eu vejo Brasil Urgente, assisto ao Netflix, vejo Instagram, Facebook e WhatsApp todo dia para estar por dentro de tudo.
- Dentro de tudo, o quê? Reality show? O novo namorado da Anitta? O novo jogo do Brasileirão?
- Sinceramente, o nosso amigo não está entendendo as coisas.
- Claro que entendo. Vocês ficam zoando comigo, mas é isso que me deixa bem informado, falou?
- Não é mesmo. Eu li ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES e o livro me abriu a mente. Também tive resistência, afinal o livro não lembra Walking Dead, não é romance imitando seriado do Netflix, e isso me desanimou.
- E aí, sabichão? Por que você trocou os "romances de Netflix" por esse livro chato?
- Porque saí da zona de conforto dos sucessos literários. E aí resolvi encarar ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES e me surpreendi. Achei o livro instigante do começo ao fim. Ele requer uma grande leitura, mas sabe que isso é o que mais empolga?
- Com certeza, amigo. E como está a repercussão de ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES?
- Beleza. Falei com um pessoal atento às coisas e o interesse está florescendo, numa boa.
- Gente com sede de conhecimento, e que não vive na Europa do Século XIV nem fica procurando segredinho em espada ou tesouro esquecido cheio de moedinhas sem valor.
- Mas o amigo que não quer ler ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES pode torrar dinheiro com as sagas de cavaleiros medievais atormentados, dramalhões de adolescentes sofridas, livros de coach com palavrão e outras bobagens.
- O pessoal que sabe pega ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES. Não espera que o livro vire documentário do HBO para ser vendido. Quem tem conhecimento vai onde existe o saber, independente da moda. E você, que estava há tempos discutindo com o nosso amigo, já comprou o livro?
- Já. É muito bom. Ele é um grande item para debater a cultura hoje, só os desinformados é que se recusam a adquirir um livro desses. Vão esperar cair um livro desses em concurso para comprar?
Os dois rapazes que leram ESSES INTELECTUAIS PERTINENTES caíram na risada. O outro que se recusou a ler o livro ficou com olhar murcho e aborrecido.
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