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O CENÁRIO COR-DE-ROSA DA ALIANÇA LULA-ALCKMIN

GERALDO ALCKMIN E LULA COM SUAS MULHERES, LU ALCKMIN E JANJA DA SILVA, NO "JANTAR PELA DEMOCRACIA", OCORRIDO ONTEM EM SÃO PAULO.

De repente, o golpe político de 2016 não passou de um pequeno pesadelo.

Um pesadelo que nem pesadelo pareceu, porque todo pesadelo sempre termina com uma situação de impacto, que provoca susto na pessoa dormente e a faz acordar de repente.

Esse "pesadelo" que está aí, que começou com a derrubada de Dilma Rousseff e se seguiu com os retrocessos de Michel Temer, está terminando com um Jair Bolsonaro isolado e decadente, parecendo mais um sonho fraco que nem dá o susto necessário para o despertar forçado de um sonho ruim.

As pessoas esqueceram a gravidade do golpe de 2016. Aliás, nunca o levaram a sério de verdade.

Desde 2016 vejo a maioria das pessoas da chamada "classe média" - que, com base em Jessé Souza, vai daquelas pessoas comuns com algum conforto significativo até famosos muito ricos mas longe de ter o poder decisório dos magnatas - achando que vivem o melhor de todos os tempos.

Todos passaram a viver o mundo cor-de-rosa, numa preocupante despreocupação, insistindo em colocar o otimismo ilusório e o pensamento desejoso acima da realidade.

Um pátio virtual foi montado nas redes sociais, para todo mundo ser tão feliz como se estivesse cantando na abertura do filme A Noviça Rebelde (The Sound of Music), de 1965.

Que os antipetistas horrorizados só em ver Dilma Rousseff falando firme na televisão pudessem viver o seu "paraíso na Terra", vá lá. Mas as esquerdas passaram também a entrar nesse clima.

E isso é tão certo que elas se tornaram inofensivas, suas lacradoras manifestações na "memecracia" das redes sociais nunca conseguiu derrubar Michel Temer, apesar do famigerado "Fora Temer", e fizeram falir o "Fora Bolsonaro" que hoje não espanta sequer uma mosca, quanto mais o terrível presidente.

E agora temos a onda do Lula, agora oficialmente "favorito" até pela mídia venal que antes era hostil ao declarado presidenciável.

Mas como Lula optou pela aliança com seu ex-rival Geraldo Alckmin, os neoliberais de repente passaram a ser favoráveis ao petista, virando a casaca.

As esquerdas se iludem com essa tendência, que explicarei depois. O que se sabe é que Lula teve que amenizar, e muito, o seu discurso, o que refletirá, também, em seu programa de governo.

Um indício dessa tendência é o chamado Jantar pela Democracia, promovido pelo grupo de juristas progressistas Prerrogativas, no restaurante caríssimo A Figueira Rubaiyat, aqui em São Paulo, que normalmente cobra R$ 100 por um prato individual.

O restaurante chique fica na Rua Haddock Lobo, no Jardim Paulista, bairro nobre de SP.

A rua é homônima à famosa Haddock Lobo que fica na Tijuca, Zona Norte central do Rio de Janeiro, local onde estive uns dias.

Fiz concurso público em Aracaju e, como a passagem aérea que comprei em 2020, quando me inscrevi para a licitação, ligava a capital fluminense à capital sergipana, tive que passar uns dias na casa de minha prima, provisoriamente emprestada ao meu pai, no Rio Comprido.

Perto dali, fica a Rua Haddock Lobo, onde, curiosamente, vi um carro com placa de São Paulo em uma oficina de automóveis. Nesta rua, meu pai arrumou uma residência definitiva, na hipótese de minha prima voltar da Itália, onde trabalha e mora com o atual marido, natural daquele país.

Curiosidades pessoais à parte, vamos ao jantar, que fez o Prerrogativas arrumar um Criança Esperança para chamar de seu (embora não seja exclusivo para a criançada).

Ancorando a nova narrativa de Lula, que agora fala apenas em "combate à fome" sem enfatizar muito o desenvolvimento - o que sugere que Lula ficará com os projetos "sociais" (como o Bolsa Família), enquanto o lado econômico fica com Alckmin - , o Jantar promoveu doações filantrópicas.

Através de uma conta corrente e um serviço de PIX (uma nova moeda digital em moda no mundo), o Prerrogativas arrecada doações financeiras para medidas de doações de alimentos para populações pobres.

O evento arrecadou, no primeiro dia, R$ 200 mil, e foi bastante comemorado, embora a complexidade da pobreza dos brasileiros merecesse um valor de investimentos infinitamente maior.

Nada contra eventos desse tipo, e vejo até boa intenção no Prerrogativas, mas a realização num restaurante chique e o caráter filantrópico desse evento mostra o quanto mudou o discurso de Lula.

Aquele Lula que eu admirava muito desapareceu, talvez para sempre, e vamos ver um "Lulinha Paz e Amor" ainda mais domesticado do que o de 2003.

A retórica da fome não é ruim em si, é até boa até certo ponto. Mas no contexto de Lula e sua atual aliança com Geraldo Alckmin - curiosamente, seu rival em 2006 - , essa retórica se torna muito estranha e parece abafar as renúncias programáticas previstas para seu governo.

Lula deixará de reverter os retrocessos do golpe político de 2016, como os da dita reforma trabalhista, e não reverterá as privatizações nem a venda de boa parte das riquezas naturais existentes no Brasil.

Recentemente, grandes reservas de pré-sal foram vendidas para empresas como a francesa Total Energias (daquele comercial "Fucker & Sucker" exibido no Brasil), a QP (petrolífera do Qatar) e a Petronas, da Malásia.

A Petrobras, hoje decadente, ficou com "preferência" de 30% das reservas, com atuação apagada em dois consórcios com as empresas acima citadas, curiosamente estatais. As reservas vendidas foram as últimas do pré-sal, envolvendo gás e petróleo, as de Sépia e Atapu, na Bacia de Santos.

Há os projetos de privatização da Eletrobras, previsto para 2022, e a aparentemente cancelada venda dos Correios, ambos legados da tenebrosa atuação de Paulo Guedes como ministro da Economia.

Enquanto isso, para a equipe econômica de Lula, nota-se o estranho entusiasmo do neoliberal Armínio Fraga, com o mesmo DNA tucano de Alckmin, para ser talvez ministro da Fazenda. Fraga é uma espécie de "Paulo Guedes do bem" que virou "esquerdista de ocasião".

E aí vemos um cenário cor-de-rosa da aliança Lula-Alckmin que, no entanto, gera revolta em muita gente progressista, que acha que esse papo de "revolução republicana pelo diálogo e pela coalizão", sob o pretexto da "democracia e da governabilidade", são papo furado.

No momento, tudo é lindo e maravilhoso. Mas já vimos essa farsa das alianças progressistas-neoliberais causarem consequências horríveis para o país.

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