Uma entrevista do economista Aloísio Mercadante, um dos principais nomes do Partido dos Trabalhadores, à Globo News, deu a senha do atual momento em que vivemos.
Considerando "positiva" a aliança de Lula com Geraldo Alckmin, Aloísio Mercadante fala que o "PSDB histórico sempre apoiou o PT e vice-versa".
Mercadante acredita que é preciso "buscar diálogo e entendimento" e "recompor o campo democrático".
É certo que Lula e Fernando Henrique Cardoso são amigos e que PSDB e PT, ou seus líderes principais, independente da situação partidária, estiveram unidos em momentos políticos estratégicos.
Mas não creio que seja o caso de hoje, nesta situação extremamente confusa em que vivemos.
O que se vê é um Lula ainda mais moderado do que o já moderado presidente que empossou em 2003.
A cumplicidade de Lula com o tucanato clássico, o "PSDB histórico" que Aloísio Mercadante falou, tornou-se o tom de sua campanha de hoje em dia. Mesmo quando Geraldo Alckmin decidiu sair, há poucos dias, do PSDB.
O que se nota é que isso acabará prejudicando seriamente o programa de governo de Lula.
E isso é certo. Tanto que Lula amenizou seu discurso.
Não perceberam que ele só está falando de "combate à fome" e, quando cita a necessidade de retomar o desenvolvimento, não faz com a ênfase nem a convicção necessária?
Ele fica dizendo algo do tipo de quem diz que promete fazer mas não quer muito. Algo de alguém que não se sabe se realmente vai fazer o prometido.
Pela aliança que faz com o neoliberalismo, Lula não vai derrubar teto de gastos nem reverter os retrocessos trabalhistas.
O que ele fará, de realmente seu, são apenas medidas paliativas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, cotas para universidades e alguma outra obra que tiver a sua grife.
Projeto de desenvolvimento econômico, mesmo, será o neoliberal, da parte de Geraldo Alckmin.
Lula será o poeta político, Alckmin o técnico. Os benefícios sociais ocorrerão nos limites autorizados pelo neoliberalismo.
Geraldo Alckmin topou se aliar a Lula para ver se o petista realiza um governo mais próximo dos moldes de Fernando Henrique Cardoso e não do próprio Lula.
Nem mesmo os esboços de governos progressistas entre 2003 e 2010 serão considerados. Até porque será o esboço do esboço, ou seja, bem mais tímido do que tímido já era.
O que haverá é o controle da inflação e algum reaquecimento do mercado. Mas isso virá de Alckmin.
Esqueçamos reforma agrária, aumentos reais dos salários, fortalecimento das empresas públicas, preservação das riquezas nacionais.
Não teremos regulação da mídia, até porque a mídia corporativa e Lula acabaram fazendo as pazes.
Haverá o limite do teto dos gastos públicos, que já recebeu uma narrativa "positiva" dos neoliberais, com a limitação orçamentária tratada como se fosse "o primor da disciplina político-administrativa".
E a precarização do trabalho apenas será amenizada. Continuará a pejotização, o trabalho intermitente, apenas a subvalorização salarial será minimizada, mas nada que faça voltar aos tempos de salários próximos de alguma valorização autêntica.
Lula vai ser a versão moderada de um Lula que, já moderado além da conta, governou o país por dois mandatos.
E tão moderado que será mais um Fernando Henrique Cardoso de chinelos, mas sem representar ruptura com o legado do golpe político de 2016.
O que haverá é a suavização desse legado, de forma a evitar prejuízos maiores.
Mas quem espera que Lula fará um governo progressista, de acordo com seu projeto original de governo, desista.
Da forma como se comporta hoje em dia, o Partido dos Trabalhadores até mais próximo de ser o Partido dos Tucanos. O novo Lula Paz e Amor, cheio de amores com o tucanato clássico, dá o tom dessa triste realidade.
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