Não sou eu o arrogante quando peço para o pessoal ler Esses Intelectuais Pertinentes....
Eu sempre disse que o livro merece ser lido não porque fui eu quem escreveu, mas por apresentar visões escondidas por trás desse culturalismo decadente que assola o Brasil.
Quem é arrogante são aqueles que, podendo ler o livro, se recusam a fazê-lo. Desconta-se aqueles que não o querem ler por opção, mas é impossível que absolutamente todos estejam nessa opção.
Sempre há uma desculpa para evitar o senso crítico, que hoje é alvo de muita discriminação.
Desde o golpe político de 2016 vive-se uma positividade tóxica, aquela mania de forçadamente acreditar que "tudo está bem" e "às mil maravilhas".
Mas desde a campanha de Lula em 2002 que se vive essa positividade tóxica, aliás, desde a chamada Nova República.
O falecido intelectual Francisco Weffort, um dos primeiros "petistas de alma tucana", desqualificou os debates políticos do ISEB e CPC da UNE de 1961-1964, definindo-os como "ideológicos".
Não se pode debater a cultura, quando muito se fala apenas num "culturalismo sem cultura", "guerras culturais" em que o termo "cultura" se limita apenas aos aspectos pedagógicos.
Conhecimento? Saber? O que é isso, senão eufemismos usados para a confusão mental das pessoas que criam um engodo "gnóstico" que mistura Filosofia, Astrologia e obscurantismo religioso, mesmo aquele rotulado de "Espiritismo", que é o Catolicismo medieval de botox.
Mistura-se filosofia com obscurantismo religioso. Confunde-se esoterismo (saber ocultista) com exoterismo (saber compartilhado), até porque têm a mesma pronúncia.
E, no âmbito religioso, confunde-se Teologia do Sofrimento (espécie de "holocausto do bem") com Teologia da Libertação (doutrina da emancipação humana pela fé). E mistura-se religiosidade medieval com pensamentos orientais (chineses e indianos).
Mistura imperador Constantino com Confúcio e Buda.
E, dentro desse zeitgeist, vemos que desde o governo Michel Temer, "tudo está bem", um clima de "felicidade" desenvolvido à força, na qual não se admite problemas.
Uma "felicidade" à direita, que via no governo Michel Temer um cenário, ainda que problemático, de "reconstrução do Brasil".
Uma felicidade à esquerda, de uma "classe média de Oslo" brincando de fazer protesto na memecracia das redes sociais.
E aí vemos o quanto o pessoal se irrita quando é convidado a admitir que existem problemas graves no nosso Brasil.
Na literatura, o que vemos é sempre a priorização de livros anestésicos. Conhecimento de verdade, só sob exigência de concursos públicos e ENEM.
Problemas sérios, somente os distantes: ficções medievais ou dramalhões juvenis com mocinhas atormentadas perdidas em florestas góticas.
Tragédias distópicas? Só nos subúrbios longínquos de Varsóvia e Seul. Distopia em Ipanema, Morumbi, Praia de Icaraí, Savassi, Jurerê Internacional ou Corredor da Vitória? Esqueça.
Por isso eu vejo o quanto a obra Esses Intelectuais Pertinentes... é mais vítima de preconceito do que um dos intelectuais focalizados, o intelectual-coitado Paulo César de Araújo, uma das "divindades" contestadas no meu livro.
Paciência. Não posso derrubar pedestais, sozinho e longe da positividade tóxica na qual "gênios visionários da MPB" se chamam Ivete Sangalo, Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó. Se tentar, sou vítima de linchamento digital.
É um contexto em que o mais novo funqueiro da hora é visto como a Salvação do Planeta.
Não posso navegar contra a maré. Tenho que embarcar nos Titanics da hora, com gente me chamando aos gritos sorridentes de me convidar para as festas onde não quero estar, depois de tanto estar barrado nas festas onde gostaria de ter ido.
E é essa positividade tóxica confusa, esquizofrênica e sem autocrítica que, imersa no impulso das circunstâncias, num momento pede a queda de Dilma Rousseff, depois consente com a eleição de Jair Bolsonaro e agora quer ver Lula ganhando na marra em 2022.
Fico vendo o quanto Esses Intelectuais Pertinentes... é rejeitado por uma parte da sociedade dotada de perturbações mentais causadas quando sentem algum cheiro de senso crítico no ar.
Tem isentão na Internet que nem leu uma vírgula de meu livro e sai por aí fazendo resenha do nada, com aqueles comentários chatos e pedantes do tipo "Eu até entendo certos pontos do livro e acho até que fazem sentido, mas...".
A Ivete Sangalo já cantou "Não me conte seus problemas", hino em defesa da positividade tóxica, a maior doença que atinge o nosso Brasil.
Criticar a positividade tóxica? Deixe para os EUA, na distante Athens do Estado da Geórgia, com REM e Kate Pierson (B-52's) na irônica "Shiny Happy People", de 30 anos atrás.
Aqui o que vale é mesmo "não há tempo para chorar". Talvez nem para gemer de dor. O pé pisou num prego infectado e passou a sangrar mortalmente? Nenhum "ai" é admissível, deve-se sorrir, agradecer a Deus e fingir que a dor não existe.
Temos que fingir que culturalmente estamos bem. Temos que acreditar que aquele povo pobre caricatural, meio novela das nove, meio A Praça é Nossa, é o "verdadeiro povo", através do juízo de valor etnocêntrico dos intelectuais "bacanas" que se acham "mais povo que o povo".
Temos uma classe média mofada, velha, intoxicada em sua alegria forçada, antiquada em valores e confusa e burra em percepções de mundo, mas que ainda sofre da Síndrome de Dunning-Kruger.
Afinal, é uma classe média isolada em si mesma, que, olhando para seu umbigo, acha que pode alcançar a percepção fidedigna do universo.
Uma classe média que impõe seus valores no Brasil e quer se impor ao mundo, com seus patrícios se espalhando pelo resto do mundo na tentativa de fazer o mundo se render à sua burrice.
Uma classe média dividida entre o petista / psolista mais complacente e o bolsonarista mais histriônico, havendo, entre eles, uma multidão de "isentos" que se acham 'especialistas" do que não sabem, os chamados "tudólogos".
E é tudo isso que deixa o Brasil refém dessa positividade tóxica, dessa obsessão em acreditar que tudo está bem, enquanto problemas sérios são postos debaixo do tapete ou, quando não for o caso, recebem as generosas passagens de pano de cada dia.
Um Brasil assim nunca vai para a frente. Vai para trás. E ainda querem que o mundo siga os mesmos passos...
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