LULA DISCURSANDO NO "JANTAR PELA DEMOCRACIA", EVENTO DO GRUPO PRERROGATIVAS QUE CONSAGROU A ALIANÇA DO PETISTA COM GERALDO ALCKMIN.
Já dá a entender que Lula não vai mais cumprir inteiramente seu projeto de governo.
Em seu discurso, o petista passou a enfatizar demais o "combate à fome", suavizando em extremo o seu discurso,que em 2002 já era moderado demais em relação aos seus tempos de líder sindical.
Há 20 anos, pelo menos Lula tinha algum vínculo essencial com suas raízes políticas e ainda se respirava um progressismo mesmo em seu programa de governo, mais moderado até do que o de João Goulart nos seus discursos sobre as reformas de base de 1963-1964.
Não é que discursar contra a fome seja errado ou defender o combate à fome fosse um equívoco.
Combater a fome é mais do que necessário e fundamental para a humanidade. Só que enfatizar a retórica dessa causa é algo que temos que desconfiar.
Afinal, existem palavras-chave que podem indicar ideias boas e necessárias, como "combate a fome" e "fazer caridade", mas que atraem o interesse de oportunistas, de facínoras que veem nessas ideias o gancho para promover bom mocismo para obter vantagens pessoais abusivas.
Há quase dez anos, deixei o Espiritismo brasileiro, religião de moral punitivista, movida a positividade tóxica e que se ascendeu através de ações desonestas.
O discurso dos chamados "kardecistas" sobre a "caridade" encanta a todos pela suavidade das palavras, mas na essência nada difere da hipocrisia de um Luciano Huck.
Nota-se que Lula vai ceder, e muito, do seu programa de governo. Vai negociar tanto com a direita gurmê com que se aliou que de seu antigo projeto político não sobrará sequer os rascunhos.
A senha desse novo discurso, que "só fala da fome", é que veremos que o desenvolvimento do Brasil simplesmente não ocorrerá, pelo menos da forma com que as classes populares desejam.
Lula revogando os retrocessos trabalhistas? Desista. Lula revalorizando as empresas públicas? Pode tirar o burrico do temporal.
Lula não será metade do que ele mesmo foi entre 2003 e 2010. E olha que estamos falando de um Lula moderadíssimo, acusado de ser um cosplay político do antecessor Fernando Henrique Cardoso.
Sabemos como será o programa de governo de Lula: somente Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, cotas para universidades, ou alguma outra coisa similar.
O grosso do programa econômico será por conta de Geraldo Alckmin.
Tanto que as narrativas agora mudaram para certas coisas.
As privatizações, por exemplo. As esquerdas médias passaram a acolher a ideia, agora sob o eufemismo das "concessões". Finge-se que as estatais continuam e que a privatização é disfarçada pela retórica da "concessão" ou da "parceria público-privada".
E o teto de gastos públicos? Agora temos a narrativa na qual a terrível medida de Michel Temer é defendida como um "primor de disciplina administrativa".
Ou seja, dificilmente Lula deve fazer um governo melhor do que os dois anteriores. Ou será "melhor", no sentido de benefícios para o empresariado.
Lula fala vagamente em "promover o desenvolvimento", mas sem a ênfase necessária com que ele fala do combate à fome.
É como alguém que diz que quer fazer, mas não quer muito.
O grande temor é ver Lula como uma repetição do governo Dilma Rousseff, começando com medidas de caráter bastante conservador.
Lula terá que se manter nessa linha, caso contrário o golpe será inevitável.
E aí Lula terá que se contentar com o apoio do empresariado e da burguesia aos quais recorreu para viabilizar sua vitória eleitoral. Terá que abandonar os trabalhadores e camponeses e se limitar a dar paliativos para eles.
Por isso, o máximo que Lula vai alcançar em seu governo, pelas forças que irão compor seu governo, será algo como o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.
Pode parecer piada, mas será sonhar demais ver Lula fazendo um governo melhor do que o da fase 2003-2010. Seria até muito acreditar que ele irá se equiparar aos dois governos anteriores.
O Brasil está fragilizado demais para retomar sequer parte da relativa prosperidade perdida.
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