O NEOLIBERALISMO DE GERALDO ALCKMIN COMPROMETERÁ O PROGRESSISMO DE LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA.
No Brasil, existe sempre uma mania de guardar vinho novo em odres velhos.
Sempre que surge uma ideia avançada, ela precisa ser condicionada e adaptada ao valor velho e até obsoleto que poderia ser combatido, mas não é.
É como se uma novidade tenha sempre que negociar com o valor antiquado para fazer valer no Brasil.
Por isso, sempre se investe nessa ilusão, e o que se vê são mil fingimentos e defesas contraditórias.
Num dado momento, fala-se que é preciso "equilibrar" o dado novo com o dado antigo, seja por fins pragmáticos, seja mediante supostas tradições populares.
Num outro momento, fala-se que a novidade é "nova demais" para valer por si mesma, e para sobreviver é necessário que ela sempre se ajuste ao "velho", que está há tempos prevalecendo no país.
E isso envolve, pelo menos, desde a Independência do Brasil, uma suposta ruptura com Portugal orquestrada por um herdeiro do trono português.
Em 1822, os EUA eram uma república consolidada e o Brasil optava por ser um império mal liberto de suas condições coloniais.
No fundo, a Independência foi apenas uma desculpa para Portugal não mais concentrar seus investimentos no Brasil, lógica que surgiu na gestão do Marquês de Pombal, que apertou as finanças depois que o país europeu foi atingido por um violento terremoto de 1755.
Nossa República surgiu a partir de um golpe comandado por senhores de engenho descontentes com a relativa abolição da escravatura, que desagradou a todos. Ex-escravos não eram ressocializados, salvo raras exceções, e os senhores de engenho cobraram indenizações.
Temos uma religião falsamente progressista, o Espiritismo.
Essa religião desfigurou tanto o legado do francês Allan Kardec que hoje a doutrina mais parece um Catolicismo medieval de botox, simbolizado por um famoso "médium" retrógrado (ao mesmo tempo, ídolo e fã de Aécio Neves) que colaborou até com a ditadura militar e foi pioneiro na literatura fake.
O Espiritismo que aqui temos é tão podre, hipócrita e farsante que exala um cheio misturado de esgoto fétido com mofo tóxico, daí a minha sábia decisão de abandonar essa religião depois de tanto pedir pão e receber serpentes no lugar.
No rock, temos a introdução do gênero por cantores alheios à sua natureza, embora muito talentosos, o que, em princípio, não era problema algum.
O problema estava numa mentalidade passiva, que aproximava o rock das formas comportadas de ídolos como Pat Boone e Bobby Darin e de ícones italianos como Pepino di Capri (que, antes de ser conhecido pelos sucessos "Champanhe" e "Roberta", fazia roquinho careta).
A cultura rock sempre foi introduzida no Brasil sob as condições comportadas. Havia até gangues de rebeldes, mas até eles tinham que agir nos limites dos valores da Família.
Esse atraso era tal que o Psicodelismo só entrou no Brasil depois de 1968. Em San Francisco, Califórnia, EUA, era uma realidade já em 1963. Aqui a lisergia virou uma curtição atropelada pelo hard rock e pelo progressivo, nos anos de desbunde de 1969-1975.
Mas até na mídia roqueira tivemos também vinhos novos em odres velhos.
Depois da revolução da Rádio Fluminense FM, que tocava bandas alternativas até na programação diária e tinha uma linguagem diferenciada, o radialismo rock sucumbiu a uma degradação só aceita por conta do clima de faz de conta que sempre se tem quando vinhos são servidos em velhos odres.
Hoje o que temos de "rádios rock" são meras "Jovem Pan com guitarras", termo que não pegou porque impera o Efeito Forer, síndrome definida por uma falta de discernimento invertida, quando se vê, em coisas iguais, uma diferença que não existe.
Se, por exemplo, um Emílio Surita da vida anuncia Britney Spears, Backstreet Boys e David Guetta, ele é locutor pop. Mas se o mesmo Surita anunciar, com o mesmo estilo de locução, linguagem, entonação, mentalidade etc, AC/DC, Soundgarden e Ramones, ele vira "locutor de estilo roqueiro".
Tudo isso fruto de uma negociação do segmento rock radiofônico com velhos paradigmas do radialismo pop para tornar "comercialmente viável", e que resultaram, por exemplo, num Frankenstein de FM chamado Rádio Cidade (RJ), que rasgou sua história por uma obsessão burra pelo rock.
Nosso samba compactuou com valores moralistas velhos e com uma religiosidade arcaica.
Jornalistas com algum senso crítico acabam passando pano para personalidades sem um pingo de credibilidade, mas que são essenciais para trazer, aos profissionais de imprensa, a visibilidade necessária para vencer na vida.
Vide, por exemplo, os jornalistas culturais, complacentes com a mediocridade reinante que cresce como uma gigantesca avalanche a soterrar culturalmente o Brasil.
O feminismo brasileiro sempre buscou acordo com o machismo, a ponto de mulheres com perfil feminista namorarem, num passado recente, feminicidas entregues à impunidade.
Nessa negociação, a mulher teria que optar entre o macho e o machismo. Se a mulher era emancipada e culturalmente relevante, teria que ter um marido dotado de alguma posição de liderança. Já a mulher que se consentia com o papel de mulher-objeto, era dispensada até de ter um namorico qualquer.
E o caso de Lula se aliando com Geraldo Alckmin, dentro daquela "necessidade" das esquerdas progressistas em sacrificar seus ideais para buscarem viabilidade eleitoral e política - a tal "governabilidade" - , é mais um exemplo do que era novo que hoje se compactua com o velho.
Lula já está podado politicamente, mas esperava-se alguma proximidade com sua essência progressista original, mesmo perdendo muito de seu estilo combativo já em 2002.
Mas hoje se radicaliza aquela coisa do "vinho novo em odre velho", e ver Lula fazendo papel de uma "sub-terceira via" com um governo fraquíssimo, debilitado em âmbito progressista, será constrangedor e, podemos garantir, até vergonhoso.
Vamos fingindo que os odres são novos ou que eles estão "em bom estado" ou servem para "conservar melhor" os vinhos novos. Até que os vinhos novos apodreçam mais rápido em contato com os velhos odres.
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