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AS DURAS LIÇÕES DA BOLÍVIA PARA O BRASIL


Na Bolívia, nos últimos anos, o esquerdista Evo Morales foi expulso do poder, a reacionária Janine Anez tomou o poder, depois ela encerrou o mandato e em seguida foi presa e o esquerdista mais do que moderado Luís Arce presidiu o país em seguida. E, agora, é a direita que disputa o segundo turno no nosso vizinho, com os políticos Rodrigo Paz, ex-senador, e Jorge Quiroga, ex-presidente, concorrendo à Presidência da República boliviana.

São duras lições para o Brasil e um único parágrafo é bastante para descrever o caso da Bolívia num texto que serve mais para o Brasil. Afinal, o governo Lula fracassou no que se refere ao seu projeto político e não convenceram os “recordes históricos” do chamado “Efeito Lula” porque eles eram fáceis, fantásticos e imediatos demais para serem realidade.

Devemos insistir que não dá para fazer reconstrução em clima de festa e, muito menos, sem canteiro de obras. Colheita sem plantação? Com o chefe da nação fora do país? E olha que Lula tem um poder de certa forma centralizado, no sentido de partir dele as decisões, por mais que haja o tal “diálogo democrático”.

Nota-se que a equipe ministerial não tem espírito de equipe. Interações e uniões são muito poucas, e já houve treta entre ministros. Há pouca autonomia, pois é a “orientação de Lula” que determina os trabalhos que, todavia, só são estimulados com a presença de Lula. Na ausência dele, poucos ministros, como o da Fazenda, Fernando Haddad, conseguem ter uma atuação mais efetiva.

Portanto, só nestes aspectos e, em outros, como o desmascaramento da busca dos “investimentos estrangeiros” como desculpa para enfatizar a política externa, demonstram a mediocridade do atual mandato de Lula. De que adianta Lula se vender como um bravo líder gigante, se dentro do Brasil ele é hesitante no tratamento dos problemas de emprego e de preços enfrentados no dia a dia pelos brasileiros?

Luís Arce, xará de Lula, havia pecado por um governo "esquerdista" pasteurizado, como foi o de Alberto Fernanrdez na Argentina. Um "esquerdismo" de fachada, que no entanto não desafia os problemas nem a supremacia capitalista, e que só faz falar e criar artifícios, sem trazer progressos reais e efetivos para a população, que não se ilude com relatorismos e pesquisismos.

E aí vemos o quanto o governo Lula só empolga a fervilhante bolha de seus seguidores, capaz de fazer muito barulho e muito estardalhaço nas redes sociais. Mas tudo isso é fogo de palha, pois nas ruas e nos redutos das classes populares, Lula é visto como um traidor da nação. O povo não é ingênuo para aceitar ver Lula longe dele boa parte do tempo enquanto a tal "reconstrução" do Brasil ainda não se sabe se está concluída ou ainda está para começar.

A passagem de dois candidatos direitistas da Bolívia no segundo turno da corrida presidencial é um aviso para Lula, que parece agir como se quisesse transformar o Brasil num grande parque de diversões. Por sorte, Lula consegue se encaixar no estado de espírito da comunidade woke e na multidão do Instagram e do Tik Tok, mas a realidade vai muito longe disso, com os pobres da vida real não vendo as "coisas fantásticas" que o lulismo fala nas redes sociais.

Desse modo, o que se vê é que, passada a miragem do lulismo e seu "desenvolvimentismo de IA", a direita tradicional voltará ao poder no Brasil, por conta de tanto infantilismo das esquerdas médias e seu pouco empenho em combater o legado da Era Temer. Para piorar, muito do legado da Era Geisel também foi "ressignificado" pelas esquerdas médias, como a bregalização cultural e o obscurantismo religioso do Espiritismo brasileiro, o que sabotou terrivelmente as causas progressistas.

Agora, o jeito será encarar o longo inverno direitista que irá atingir o Brasil, tomando as esquerdas médias de surpresa em plena folia woke que consente com o consumismo desvairado que não pode ser confundido com qualidade de vida. Até porque as esquerdas médias, hoje, também têm seus super-ricos adoráveis, como os empresários do entretenimento, da cerveja e dos cigarros, não estão aí para a justiça social, só a defendendo nos limites permitidos pelo seu hedonismo sem freios.

Como as esquerdas médias estão sonhando demais e achando que podem tudo, somos obrigados a admitir que a direita boliviana, em claro aviso para o Brasil, prenuncia um banho gelado de realidade que não tarda a dar fim aos roaring twenties à brasileira. Quem mandou flutuar demais nas nuvens?

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