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NÃO EXISTE COLHEITA SEM PLANTAÇÃO



Sou de esquerda, mas não estou gostando desse “esquerdismo chapeuzinho vermelho” que está sendo o Lulismo 3.0. um cenário de contos de fadas, um mundo de faz-de-conta que tenta colocar a fantasia acima da realidade, com todo o maniqueísmo fácil e prosaico. Um cenário infantilizado, na ironia perigosa de apostar em um idoso doente para conduzir o futuro do Brasil.

Por sorte, as redes sociais são tomadas pela hegemonia de uma ordem social tida como “esclarecida”, porque tem dinheiro, prestígio e seguidores. Como se trata de uma parcela “mais legal” da sociedade brasileira, essa elite, a elite do bom atraso, fica se achando, e de vez em quando promove boicotes a textos que quebram narrativas consagradas, ainda que sonhadoras demais.

Daí que somos reféns de um solipsismo ilustrado da “galera do SUV”. Os fatos pouco importam, o que importa é o ponto de vista de quem tem mais dinheiro e prestígio, além de ter desculpas prontas o tempo todo.

É uma linhagem social cujos antepassados se envolveram com o IPES-IBAD, a “fábrica ideológica” da direita que, travestida de “instituto científico “, pedia de forma “racional e objetiva”, a queda de João Goulart. Seus antepassados mais recentes se envolveram com a Censura Federal e zelaram pelo AI-5, até sentir que o “poder suave” pode desmobilizar com mais eficiência as mobilizações sociais do que a violência brutal do DOI-CODI.

Daí o contexto de hoje, em que neoliberais convictos são os que mais apoiam o presidente Lula, hoje, mas essa revelação não pode ser difundida, senão a moçada boicota e cancela. Para todo efeito, o Papai Noel do “xopim centis” veio do Polo Norte e Lula é sempre apoiado pelos miseráveis, mesmo se eles receberem só migalhas e restos de comida que a “boa” sociedade se acha no direito de jogar fora, por uma questão de status e de pressa.

Dito isso, e lembrando que a elite do bom atraso está afoita em dominar o mundo, vemos o quanto ela procura manter, a qualquer preço, o jogo das aparências. Não se pode quebrar a “linda” narrativa do lulismo, o conto de fadas da “vida real”, e relatorismos e pesquisismos falam sempre a verdade narrada pelo consórcio da mídia patronal, agora acrescido de “novos sócios” dos dois lados, o Antagonista e o Diário do Centro do Mundo (o Brasil 247 não entrou por ser “petista demais”, mais organicamente lulista).

É através dessas condições que temos as narrativas fantásticas do governo Lula, com realizações “tão incríveis” que não são palpáveis. Supostos recordes históricos e a supervalorização do episódio do tarifaço de Donald Trump - que apenas afeta o comércio relacionado à exportação, não atingindo diretamente o mercado do “Seu José” e a feira da “Dona Maria “ - fazem com que a narrativa lulista seja imposta como “verdade” da mesma forma que a narrativa bolsonarista foi feita há cerca de cinco anos.

Mais uma vez, pouco importam os fatos concretos. A carteirada institucional relacionada ao governo Lula vale, oficialmente, por si mesma. Reconstrução sem canteiro de obras mas em clima de festa e colheita sem plantação valem, bastando a narrativa estar associada ao presidente Lula.

A elite do bom atraso, obviamente, vai almoçar nos restaurantes e recebe a comida sendo oferecida pronta ou quase pronta. Só que essa comida foi preparada, em grandes quantidades, horas antes. Uma reconstrução cujo trabalho é desconhecido e cujos resultados vieram da noite para o dia é bastante duvidosa. Para haver colheita, tem que haver plantação, mas até agora não se viu sequer a preparação do solo.

Por isso, não há lógica essa narrativa, bem ao gosto da elite do bom atraso, dos resultados fantásticos que se divulga assim num estalo de dedos. Antes fossem resultados modestos e ínfimos, mas frutos de um esforço que salta aos olhos de qualquer um.

O presidente do Partido dos Trabalhadores, Edinho Silva, lamentou que o PT tenha dificuldades para dialogar com as classes trabalhadoras. É sempre aquela mesma queixa da “comunicação do governo”. O problema é que Lula se distanciou tanto do povo ao se aliar às classes dominantes que ele hoje sente esse obstáculo que ele mesmo criou. O que podemos afirmar é que Lula e o PT é que têm dificuldade para entender a realidade.

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