PROPAGANDA ENGANOSA - EVENTO NO TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO EXPLORA A FALSA SOFISTICAÇÃO DO CONSTRANGEDOR SUCESSO "EVIDÊNCIAS", COM CHITÃOZINHO & XORORÓ.
O Brasil tem o cacoete de gourmetizar modismos e tendências comerciais, como se fossem a oitava maravilha do mundo. Só mesmo em nosso país os produtores e empresários do entretenimento, quando conseguem entender a gramática de um fenômeno pop dos EUA e o reproduzem aqui - como, por exemplo, o Rouge como imitação das Spice Girls e o Maurício Manieri como um arremedo fraco de Rick Astley - , posam de “descobridores da roda”, num narcisismo risível mas preocupantemente arrogante.
Daí que há um estigma de que nosso Brasil a música comercial se acha no luxo de se passar por “anti-comercial” usando como desculpa a memória afetiva do público. Mas não vamos nos iludir com essa mentira muito bem construída e muito bem apoiada nas redes sociais.
Você ouve, por exemplo, o “pagode romântico”, e acha tudo lindo e amigável. Ouve “Evidências” acostumada a produzir lágrimas durante o refrão. Ouve É O Tchan achando que aquilo é sinônimo de alegria. Curte Odair José e Benito di Paula achando que são relíquias vintage. E pensa que o “funk” é a música de protesto por excelência no Brasil.
Quem foi que lhe fez pensar assim? O ar que respiramos? As tradições autóctones de sua comunidade? Ou a queda da fruta de uma árvore na sua frente?
Nada disso. Elas vêm de uma bem estruturada técnica de marketing. Para o bem e para o mal, temos os empresários e publicitários mais habilidosos do mundo. O que a Faria Lima faz com o inconsciente coletivo das pessoas é algo tão assustador que supera o que ocorre na ficção científica mais distópica.
A gíria “balada”, a gíria que virou mercadoria por vender um suposto ideal de vida noturna, foi um jargão privativo de jovens riquinhos da Zona Sul de São Paulo no começo dos anos 1990. A Faria Lima foi difundir a gíria como se fosse um termo “universal e atemporal”, bastando ter a mídia patronal a seu serviço, a partir da Jovem Pan e da Rede Globo.
Na sociedade hipermidiática e hipermercantil em que se vive no Brasil, tudo tornou-se mercadoria. Na axé-music, por exemplo, até beijar na boca virou produto de consumo. Mas, como em todo consumo, temos que criar uma mentira e dizer que tudo vem da natureza , porque senão ninguém adere. É a tática do Papai Noel de shopping center. Tem que manter a ilusão, é a regra do espetáculo.
Por isso, a música brega-popularesca precisa explorar a memória afetiva do publico, a medir o valor desses sucessos apenas pelas circunstâncias solipsistas de um cotidiano meramente banal. Ou seja, situações tão comuns quanto ir ao banheiro são usadas como pretenso "selo de qualidade" das canções popularescas, através de julgamentos meramente emocionais e subjetivos.
Daí o marketing enganoso em torno da canção "Evidências", a cafoníssima e constrangedora canção de José Augusto gravada por Chitãozinho & Xororó, que virou um hype entre o público em geral, através de uma bem engenhosa campanha trazida pela grande mídia. Fala-se até que a música é um "clássico", exagerando nesses juízos de valor "positivos" que mascaram a mediocridade gritante e vergonhosa desse sucesso do cancioneiro brega-popularesco.
E assim tudo se consagra através de estratégias de marketing que as pessoas, desinformadas, aceitam sem verificar. E aí nós percebemos o quanto o papo de "combater o preconceito" da bregalização musical nunca passou de um papo furado, pois há mais preconceito em quem aceita do que em quem rejeita esses fenômenos musicais e comportamentais da cafonice reinante.
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