Já prevenimos que o cantor Michael Jackson, que teria feito 67 anos ontem, virou um estranho fenômeno "em alta" no Brasil, como se tivesse sido "ressuscitado" em solo brasileiro. Na verdade, o finado ídolo pop virou um hype tão sem imaginação que a lembrança do astro se dá somente a sucessos requentados, como "Beat It", "Billie Jean" e "Thriller".
Na verdade, essa reabilitação do Rei do Pop, válida somente em território brasileiro, onde o cantor é supervalorizado ao extremo, a ponto de inventar qualidades puramente fake - como alegar que ele foi roqueiro, pesquisador cultural, ateu, ativista político etc - , é uma armação bem articulada tramada pela Faria Lima, sempre empenhada em ditar os valores culturais que temos que assimilar.
De repente Michael Jackson começou a "aparecer" em tudo, não como um fantasma assombrando os cidadãos, mas como um personagem enfiado tendenciosamente em qualquer contexto, como numa estratégia de mershandising.
Lá está Michael citado num congresso de dermatologia, como suposto exemplo de vitiligo (sabe-se que o cantor clareou a pele por conta de remédios que tomava e que acabaram por abreviar sua vida). Em seguida, um influenciador brasileiro, ao mencionar a tecnologia de Inteligência Artificial, citou o clipe de "Black and White", sucesso menor do cantor.
Em seguida, uma exposição sobre o "Dia Mundial do Rock" num shopping center de São Paulo, como se não bastasse o caráter patético da efeméride, criação da Faria Lima através de sua rádio, a 89 FM e válida somente no Brasil, incluiu Michael Jackson nas galerias de fotos.
Só que devemos chamar a atenção sobre o fato de que Michael Jackson nunca foi roqueiro de fato e sua intromissão no rock, além de forçada, canastrona e sem um pingo de criatividade, ela teve um motivo auto-racista: envergonhado em ser negro, Michael usava o rock para entrar no mundo dos brancos, atuando como um constrangedor pastiche de Elvis Presley e Mick Jagger.
Michael Jackson, no seu país de origem, os EUA, viveu seus últimos anos como uma subcelebridade. Musicalmente já estava insignificante, e sua fama era alimentada por factoides e polêmicas, um prato cheio para a imprensa sensacionalista.
O finado Rei do Pop nunca foi um gênio. Teve bons momentos, até meados dos anos 1980, mas a partir de Bad, de 1987, tornou-se um cantor medíocre metido a rebelde, mas que cantava canções lentas da mais absoluta pieguice. Sua personalidade, ao mesmo tempo careta e libertina, mostrava aspectos conservadores que nem de longe o encaixariam em qualquer receituário roqueiro, mesmo entre os roqueiros conservadores.
Só no Brasil é que Michael Jackson é superestimado até as últimas consequências. E nós suspeitamos de que existe algum executivo paulistano, ou então um grupo de executivos, que está investindo em realimentar, em território brasileiro, o mito do Rei do Pop, em acordo firmado com os herdeiros do cantor.
Essa desconfiança se dá pelo fato de Michael ter se tornado uma figurinha fácil no imaginário recente dos brasileiros, dentro de uma perspectiva própria do viralatismo cultural enrustido, sempre inclinado a uma vassalagem cultural, como se tudo que viesse dos EUA fosse maravilhoso.
E Michael nunca foi essa maravilha revolucionária. Essa supervalorização do Rei do Pop só o coloca ao lado de nomes medíocres que fazem mais sucesso no Brasil do que nos países de origem, como Johnny Rivers, Outfield, Live e Double You. Nomes que só o provincianismo do público brasileiro médio, fanático por hit-parade, glorifica com bastante exagero. Reflexo de um país ainda tomado de muito atraso cutural.
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