A pressa de Lula e seus seguidores em transformar o Brasil em uma potência mundial, sem haver condições socioculturais para tanto, pode não ser compreendida devidamente por muitos que, apegados às narrativas lineares das redes sociais, ignoram que nossa realidade é bastante complexa.
A tendência de Lula arrefecer seu brilho momentâneo na queda de braço fiscal com Donald Trump é provável. Até a edição deste texto, há a negociação para tentar aliviar os tributos a produtos brasileiros no mercado dos EUA. Mas isso será mais um pequeno alívio diante da situação degradante em que vove nosso país.
As redes sociais mostram que muita gente, apegada ao consumo frenético de reels - espécie de menu de postagens existente no Instagram e no Tik Tok - e vendo também seriados de TV, simplesmente não consegue entender os reais problemas do governo Lula.
Além disso, devemos também considerar que a base social de apoio a Lula mudou totalmente. Embora a narrativa lulista renegue essa realidade, é certo, todavia, que quem mais apoia Lula é a classe média abastada, a pequena burguesia, e também setores da alta sociedade. Esses são dados que os fatos mostram, e que indicam que as coisas mudam.
Lula paga o preço de, sob o pretexto da democracia, buscar o apoio das classes dominantes para, em tese, promover diálogo. O presidente imaginou que poderia se tornar unanimidade buscando o apoio igualitário entre ricos e pobres, mas isso se torna impossível. Lula acabou tendo que escolher um dos lados, o das classes dominantes, mas luta para não perder o apoio do outro lado, embora já o tenha perdido. Portanto, são os bem de vida que andam apoiando Lula, atualmente.
Dois fatos marcaram a semana em que Lula bancou o super-herói planetário no imaginário de seus seguidores.
Um deles é a aparente saída do Brasil do mapa da fome, anunciada pela Organização das Nações Unidas com base em relatórios (sempre eles) enviados pelo governo Lula. A medida empolgou os lulistas, embora, fora da bolha lulista, a miséria e a fome ainda são companhias indesejáveis mas permanentes dos pobres da vida real.
Outro é a prisão da bolsonarista ex-deputada Carla Zambelli, que está sendo investigada por vários crimes, entre eles porte ilegal de arma e tentativa de homicídio. Depois da tornozeleira de Jaor Bolsonaro, a prisão torna-se um triunfo e, de certa forma, desmonta um dos polos mais perigosos da polarização.
Só que isso apenas é feito para abafar um governo medíocre que é o de Lula, no seu atual mandato. Por mais justas que sejam estas pautas, elas servem para esconder a péssima atuação do presidente nas medidas de interesse direto para a população. Relatorismos são inúteis, se os dados fantásticos não chegam na mesa dos pobres da vida real, ainda que os “pobres de novela” sejam os beneficiados.
A euforia do lulismo atual, não mais com o respaldo do.povo pobre da vida real, mas com o da burguesia "legal" que, ao mesmo tempo, se julga "a mais esclarecida" mas finge ser pobre, tudo para lacrar nas redes sociais, ainda se extasiou quando o vice Geraldo Alckmin, agora um serviçal de Lula, foi para o programa Mais Você, da Rede Globo, conversar com Ana Maria Braga sobre seus esforços para frear o tarifaço trumpiano. Repercutiu tanto que virou meme e lacrou na Internet dos "bacanas", já felizes com a promessa de Lula de fazer do Brasil a sucursal do Paraíso.
O Lulismo 3.0 mescla sensações de positividade tóxica - marcada pela pressa em botar o Brasil na louca obsessão em protagonizar o mundo - e de contos de fadas, partindo de uma elite de "predestinados" que se acha "o povo brasileiro": uma burguesia "positiva e legal", que se acha o "povo prometido da Terra", procurando desenvolver sua supremacia mundial transformando o Brasil num grande parque de diversões. E isso com os negacionistas factuais patrulhando a opinião pública e zelando por esse mundo da fantasia.
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