O Rio de Janeiro paga hoje o "pragmatismo" que adotou nos últimos 25 anos.
A obsessão por fenômenos, medidas e personalidades que representassem o atendimento a necessidades básicas das básicas deixou o Rio de Janeiro naufragar.
Afinal, como muitos dizem, de básico em básico, se vai abaixo do básico.
Aquela conversa de que "não é aquela maravilha, mas até que é bom demais" fez a qualidade de vida despencar até na classe média alta.
A raivinha de cyberbullies que criavam blogues de ofensas contra quem questiona o "estabelecido" também estabeleceu sua conta.
Os valentões digitais, primeiro, brigavam com seus discordantes e chamavam seus amigos para surrarem juntos o "miguxo" da temporada.
Depois, porém, os valentões brigavam com seus próprios aliados e também apanhavam na Internet. Isso quando não eram denunciados por crimes digitais.
Essa raivinha mostra que o Rio de Janeiro parou no tempo.
Duas ocorrências mostram isso, num Estado em que até o pop estrangeiro apreciado pelos cariocas é velho, preso ainda nos anos 70 ou no mais convencional dos anos 80.
A poluição, o excesso de fumantes (inveterados, convictos e arrogantes) e a urbanização ecologicamente predatória fizeram o clima do Grande Rio decair, gerando tempestades arrasadoras.
A insegurança e a exclusão social faz com que os assaltos se multiplicassem em dimensões assustadoras. Até Juliana Paes chegou a ser ameaçada de morte, numa ocorrência.
A atrofia cultural gerou tanto o "funk", a receptividade carioca aos "sertanejos" e os "roqueiros de Artplan" que gostam de bandas por causa de um único hit.
Até os gerentes de supermercados se acomodaram, levando duas semanas para reabastecer produtos nos estoques e colocar mais de uma marca de cada produto nas prateleiras.
É um Rio de Janeiro tão decadente que passou a votar errado, em políticos que hoje estão associados à decadência no Estado.
E ainda assim insistem: uma pesquisa recente revelou que cariocas elegeriam Jair Bolsonaro presidente da República e Eduardo Paes governador do Rio de Janeiro.
O voto podre dá nisso: mais assaltos, menos qualidade de vida, mais corrupção, mais arbitrariedade, mais tempestades.
O burguesinho da Barra da Tijuca que, aos olhos do Facebook, "mora na Pavuna", também paga com a tempestade que cai, tendo dificuldade de se deslocar de carro com congestionamentos em ruas alagadas.
E agora, o voto podre dos cariocas, que resultou indiretamente na queda de Dilma Rousseff - vide eleger Eduardo Cunha - , tem mais uma farsa.
É a intervenção militar no Rio de Janeiro, mais um jogo de cena que só serve para intimidar as classes populares, que já têm que conviver com a perda de parentes e amigos por balas perdidas em tiroteios.
Michel Temer, o paulista "adotado" pelos cariocas na atual pauta neoconservadora, mergulhou de bandeja na intervenção.
Nomeou o general Walter Souza Braga Neto, de 61 anos, para a função de reprimir o chamado crime organizado no Rio de Janeiro.
O interventor substitui, excepcionalmente, o secretário de Segurança do governo do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Sá, que decidiu se afastar do cargo.
No entanto, como um interventor federal, o general Braga Neto terá poderes de governador do Estado, enquanto o titular Luiz Fernando Pezão se manterá como titular formal do cargo.
Pezão havia continuado no cargo, depois que recuaram do processo que pediu seu afastamento, meses atrás.
Da parte de Temer, a intervenção militar seria um meio do temeroso governante "limpar" sua imagem, "queimada" pelo "vampiro" da Paraíso do Tuiuti e pelos problemas políticos da reforma previdenciária e do caso Cristiane Brasil.
Essa intervenção vem, curiosamente, pressionada por duas ocorrências.
Uma é a vitória da Paraíso do Tuiuti, que no seu segundo lugar foi mais vencedora que a primeira, a Beija-Flor, no julgamento do Carnaval 2018.
O tema contrário à reforma trabalhista do governo Temer foi a senha para a ameaça de rebelião popular que motivou a intervenção.
Ela também foi expressa numa faixa colocada por moradores da Rocinha: "STF: Se prender Lula, o morro vai descer".
E ainda teve o conservador Luciano Huck renunciando à intenção de se candidatar à Presidência da República.
Pronto. Agora se terá mais intervenção militar, quando se podia combater a criminalidade com mais emprego, melhorias na Educação e desfavelização.
A desfavelização ocorreria através de urbanização, de reorganização dos espaços residenciais nas atuais favelas, com prédios populares de qualidade e oferta de serviços públicos.
Mas não. Vão recriar o mesmo espetáculo que se vê desde 2010 com a instalação das UPPs.
É apenas aquele "espetáculo de choque", que só serve para constranger e intimidar a gente pobre trabalhadora.
E essa intervenção é um reflexo da decadência que o Rio de Janeiro sofre em todos os sentidos, refletindo também em áreas vizinhas como a Baixada Fluminense e Niterói, esta por sinal feliz em virar capacho da cidade vizinha.
O Rio de Janeiro parou no tempo porque se tornou refém das próprias convicções "pragmáticas" que contraiu desde os anos 1990, e, em certos casos, nos anos 1970 e 1980.
Aquela mania de dizer "não é 100% mas está acima da média" ou "não é aquela maravilha, mas está bom demais", que virou desculpa para a queda de qualidade de qualquer coisa.
É também reflexo do poder abusivo da Rede Globo, que, vendo a vitória da Paraíso do Tuiuti (chegar ao segundo lugar com "aquele tema" teve o gosto de uma grande conquista), resolveu "mandar" no Estado.
Isso diante de cariocas transformados em gado bovino, a defender o estabelecido e aceitar sua queda de qualidade de vida, de cultura, de visão de mundo e até de percepção da realidade.
Os cariocas mais intransigentes reagiam com arrogância contra aqueles que contestavam essas quedas de qualidade.
Daí a criação de blogues ofensivos e de tanta campanha de cyberbullying (valentonismo) que só expõe o infrator como criminoso da Internet.
É a intolerância de ver o Rio de Janeiro sendo passado para trás por causa de decisões equivocadas tomadas por gente ligada ao poder, ao mercado e à mídia no Estado.
Agora, esse clima "Calibama" (Califórnia + Alabama, este o Estado mais reacionário dos EUA) do Grande Rio está pagando a conta por tanto "pragmatismo" e valentonismo.
Agora é esperar que o valentão da Internet e dos blogues difamatórios esteja impossibilitado de voltar para casa por causa dos tiroteios ou das ruas alagadas pelas tempestades.
Vamos ver se nessas situações ele vai dizer "até que está bom demais". Isso quando não levar um tiro na cabeça antes.
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