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MINHA FRUSTRAÇÃO COM JUREMIR MACHADO DA SILVA


Fiquei decepcionado com Juremir Machado da Silva ao acolher, no seu programa na Rádio Guaíba, de Porto Alegre, o reacionário militante Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre (ou melhor, Movimento Me Livre do Brasil).

Não imaginava que um jornalista como ele, aparentemente progressista, fosse aderir aos ardis desse rapaz que, sob desculpa de promover o diálogo, sai por aí ofendendo progressistas.

Sabe-se que Kim Kataguiri não quer diálogo, apenas o usa como pretexto para desqualificar seus interlocutores com a edição fraudulenta de imagens e declarações.

O rapazinho foi um dos artífices do golpe político de 2016 e ele não sossegará até ver o PT extinto e seus políticos postos na cadeia ou, quando muito, no ostracismo.

Mas vamos a Juremir.

Ainda morando em Salvador, eu adquiri o livro A Miséria do Jornalismo Brasileiro.

O livro, de 2000, surgiu na onda em que o jornalismo grão-midiático pós-Pimenta Neves começava a perder o pretenso heroísmo contraído no final da ditadura militar.

Quando jornalistas são capazes até de cometer feminicídio, então é sinal que havia podridão na grande imprensa.

Eu, que nunca confiei nessa adoração corporativista, mesmo sendo eu jornalista eu nunca apoiei essa imagem messiânica do jornalista no qual até editores-chefes se vangloriavam com os triunfos dos repórteres.

Mino Carta fala do repórter que chama patrão de colega. Pois os patrões do jornalismo patronal se acham os "heroicos repórteres".

Aí eu acompanhei artigos e alguns livros de Juremir.

Li na livraria Saraiva o livro Jango: A Vida e a Morte no Exílio, e adquiri o livro 1964: Golpe Midiático Civil-Militar, que também já li todo.

Achava que Juremir fosse um jornalista sério a se juntar a tantos críticos do golpe.

Ele até rumava por um caminho à parte em relação a outros jornalistas dissidentes da grande mídia.

Não se juntou a Marilene Felinto e José Arbex Jr. na debandada da Folha de São Paulo, não só por ser um correspondente gaúcho do jornal paulista, mas porque seguiu caminho em separado, mesmo.

Mas também não chegou a ser como Pedro Alexandre Sanches, o aluno exemplar de Otávio Frias Filho que, depois, caiu na imprensa de esquerda de pára-quedas para fazer proselitismo cultural com base nas lições que aprendeu no Projeto Folha.

Ultimamente, Juremir também se destacava no seu blogue no jornal Correio do Povo.

Tornou-se um consistente crítico do poder midiático e do governo Michel Temer.

Mas aí mordeu a isca e foi acolher Kim Kataguiri, um sujeito que se passa por tolerante para depois, nos perfis do MBL, esculhambar e humilhar seus interlocutores de esquerda.

Foi isso que fez Márcia Tiburi recusar-se a debater com ele.

Soube depois que o debate também contou com o senador paranaense Roberto Requião.

Mas Requião tem mais visibilidade que Márcia e é difícil Kim encarar um sujeito desses.

Requião foi logo disparando, chamando Kim de "bandido de quadrinho da turma do Alexandre Frota".

Mas Requião também deu bronca a Juremir pois, assim que foi feito com Márcia, o paranaense também não foi avisado que iria debater com alguém de "kimta katiguria".

Ficou soando estranho, parecendo que Juremir ficou complacente com Kataguiri.

Juremir disse que "não concorda com uma só ideia de Kim Kataguiri".

Mas ele tentou nivelar Kataguiri com Guilherme Boulos, pois este tem o que dizer, é representante dos sem-teto, entende de moradia, é ativista social e político corajoso.

Juremir não se diz de esquerda nem de direita, um discurso similar aos que desembarcam ou já se opõem previamente ao progressismo ideológico.

Juremir se diz "na solidão de sua loucura", como se sua ideologia fosse uma ilha.

Após Juremir acolher Kim Kataguiri e fazer, mesmo "sem querer", o jogo favorável à visibilidade desse jovem reaça, de repente Juremir parece ter incorporado Pedro Alexandre Sanches.

Foi sair em defesa de Jojo Toddynho, um dos ícones do ultracomercialismo musical, quando o chamado "popular demais" do brega-popularesco atingiu as últimas consequências da estereotipação das classes pobres e da americanização musical.

A bregalização cultural foi uma das iscas que fizeram as esquerdas sucumbirem ao golpe político de 2016.

Fez o povo fugir do ativismo social e político necessário para proteger Dilma Rousseff dos opositores.

Fez os debatedores de esquerda falarem sozinhos, afinal o "povão" estava se requebrando, rebolando e descendo até o chão.

Há muita gente, aliás, desembarcando do esquerdismo e, aos poucos, aderindo à "normalidade" da mídia dominante.

A intelectualidade "bacana" está em silêncio, aos poucos preparando sua saída do barco esquerdista, talvez esperando cancelar a volta do PT ao governo republicano para assim não pensar mais naquela verba estatal da Lei Rouanet.

Os jornalistas de esquerda já montam seus espaços estratégicos, enquanto a esquerda fashion espera montar sua comitiva em torno de, quem sabe, Luciano Huck.

E, nesse caminho, Juremir Machado da Silva pode parecer "independente", mas deve se adaptar para os "novos tempos huckianos".

Bom, já estava juntando uns livros para vender e os de Juremir já devem se somar à pilha. Deve dar um valor um pouco mais razoável.

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