O Rio de Janeiro, digo a região metropolitana que inclui a capital e cidades vizinhas - como Niterói, São Gonçalo e Baixada Fluminense - , vive no verão o mesmo pesadelo de sempre, as tempestades da estação.
Constantes trovoadas, chuvas intensas, alagamentos e deslizamentos diversos, várias mortes.
Isso influi até na queda de energia elétrica e no trânsito das cidades.
Trata-se de um drama que possui um diagnóstico pouco generoso (na melhor das hipóteses) para os cariocas.
Esse triste quadro é um retrato de muitos vícios que permitem essa lamentável situação ambiental.
Primeiro, o excesso de favelas, motivados pela exclusão imobiliária, que se tornam estruturas suburbanas caóticas e ecologicamente predatórias.
Se amontoam casas precariamente construídas, sob o preço de derrubar árvores e plantas e fazer queimadas nos matagais.
Isso elimina muitas árvores que poderiam, com a fotossíntese, "limpar" o ar que circula no Grande Rio.
O clima é quente e seco, e se alterna entre um calor insuportável de 40 graus, em dias de sol, e tempestades intensas, chuvas pesadas, raios e trovoadas assustadores.
Não há um plano diretor que invista na desfavelização, substituindo as casas precárias por edifícios populares.
Haveria reaproveitamento de espaço, pois o deslocamento dos moradores seria vertical, abrindo espaços vagos para novos edifícios e mais árvores, arbustos e gramas.
Poderia até haver edifícios mistos de comércio e residência, para diversificar o aspecto urbano.
Em vez disso, setores das esquerdas "soros-positivos" ("contaminados" pelo "vírus" de George Soros) preferem deixar as favelas como estão e promover um ufanismo que, de forma surreal, lembra mais o ufanismo dos tempos da ditadura, sobretudo no governo do general Médici.
Outro problema no Grande Rio é a falta de ações do poder público para remover as ervas de passarinho, plantas parasitas que se alojam nas árvores e, se alimentando de sua seiva, as enfraquecem e matam.
As pessoas pensam que aquilo é parte da árvore ou algum tipo de samambaia, e circulam tranquilas enquanto árvores agonizam atacadas por esses parasitas.
Enfraquecidas e até mortas - sim, muitas árvores que permanecem de pé estão mortas e, quando há uma tempestade, são as primeiras que caem, atingindo carros e até pessoas - , essas árvores não podem fazer a fotossíntese.
A fotossíntese consiste em absorver o gás carbônico e criar uma reação química que faz as árvores decomporem essa substância, liberando mais oxigênio.
Ela serviria para suavizar os danos ambientais que causam as tempestades ou o clima de sauna a céu aberto no Grande Rio.
Mas enquanto os cariocas veem a erva de passarinho e acham uma coisa bonita, e as autoridades não agem para remover esse parasita em ações constantes, um dos fatores que ajudam no extremismo climático carioca continua influindo nos súbitos transtornos e tragédias vividos no Grande Rio.
A poluição dos veículos e das águas também ajuda muito nas tempestades.
Parece muito cruel, lá em Salvador, que o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) enumere como praias impróprias para banho várias localizadas na imponente parte da orla marítima em direção a Itapuã, como Boca do Rio, Jaguaribe e Piatã.
Mas vejamos bem: isso é correto, pelas análises técnicas que chegam a conclusões desagradáveis, sobretudo envolvendo praias vizinhas a pontos de saída de esgotos.
Em Niterói, porém, até a Praia de Icaraí, situada em ponto de saída de esgoto e uma das áreas prejudicadas pela "eterna" poluição da Baía da Guanabara, é liberada para banho.
A poluição também é constatada pela grande presença de automóveis velhos e mal conservados e pela liberação de poluentes de muitos veículos.
Isso só reduziu um pouco por causa da nova regra do BlueTec, que obriga os ônibus a serem fabricados com tecnologia ecologicamente sustentável, sem apelar para os antigos escapamentos de fumaça.
Agora, um ponto muito pouco agradável para os cariocas: o fumo.
Quantos cariocas se orgulham em fumar um cigarro, fumam até com as mãos, cheios de pose e de muita vaidade.
Muitos cariocas ainda vivem nos anos 1970 - até as músicas que ouvem reflete isso - e acham que o cigarro ainda é um meio de ascensão e autoafirmação social.
Se esquecem que engolem um coquetel de poluentes e substâncias existentes até em veneno de rato.
Veem amigos morrerem cedo e não entendem coisa alguma por que eles partiram tão precocemente. Se esquecem que o "gostoso cigarrinho" ajudou muito nessas tragédias.
O cigarro também solta fumaças que contribuem para a poluição.
Daí que o Grande Rio vive esse clima instável que não é só de segurança, política e economia.
A decadência do Rio de Janeiro envolve também cultura e hábitos sociais.
O Rio de Janeiro já está pagando um preço caro pela mesmice.
Basta de tanto pragmatismo, porque a satisfação sucessiva pelo básico pode se transformar na conformação com o pior.
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