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A INTOLERÂNCIA DOS LULISTAS SÓ ATRAPALHA A DEMOCRACIA

OS SEGUIDORES DE LULA EXPLORARAM A DISCUSSÃO DE GREGÓRIO DUVIVIVER COM CIRO GOMES COMO MEIO DE DERROTAR O CANDIDATO DO PDT À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

Os lulistas estão histéricos na sua obsessão em derrotar os demais adversários antes da campanha presidencial começar. Em nome da "democracia" que dizem querer recuperar, os seguidores de Lula atropelam qualquer etapa necessária para a reconstrução democrática através do voto.

Se depender dos lulistas, só falta cancelar as eleições, já que, para eles, Lula tem que ser eleito na marra. Mesmo que Lula realmente fosse o melhor candidato - ele seria, mas as alianças com a turma do golpismo de 2016 comprometem a essência do projeto progressista - para derrotar Bolsonaro, seria necessário ele enfrentar outros adversários em debates presidenciais previstos no cronograma.

É o que determina a Constituição, a Lei Eleitoral. Não dá para um candidato favorito atropelar a democracia para tentar recuperá-la. Lula está se nivelando a Sérgio Moro, quando atropelou o Direito para condenar o petista com acusações infundadas, plantadas através de delações premiadas, uma armação feita para "comprar" a redução de pena de certos suspeitos de corrupção por meio da denúncia de outros envolvidos.

O favoritismo não autoriza a Lula e seus seguidores humilharem os rivais, como os valentões da escola fazem em colegas mais frágeis. Sim, isso é valentonismo (bullying)! É uma grande covardia. Por piores que possam ser certos candidatos e por criticáveis que eles sejam, eles precisam ser respeitados no processo eleitoral, porque eles são legítimos competidores da corrida presidencial.

Só que, em vez disso, o que vemos é uma arrogância sem limites das esquerdas médias, que querem Lula eleito na marra. Paranoicos, falam que "é necessário derrotar Bolsonaro", sob o pretexto de "escolher entre a democracia e a ditadura", respectivamente simbolizados por Lula e Jair Bolsonaro.

O grande problema é que os lulistas adotam uma postura autoritária. Em vez de adotar a sutileza de fazer Lula vencer dentro do processo normal da competitividade eleitoral, enfrentando adversários e debatendo no esforço de provar sua vantagem de ideias, a candidatura do petista se impõe num jogo sujo de manipulação psicológica no qual se promove o fanatismo em torno do ex-presidente em busca de um novo mandato.

Nestes meses de pré-campanha, Lula viu seu maior rival, Sérgio Moro, o famoso algoz que comandava a Operação Lava Jato, desistir da corrida presidencial. Ultimamente, a Terceira Via busca um candidato oficial - independente de haver também outros concorrentes - e o PSDB vive uma crise aguda, com desentendimentos entre Aécio Neves e João Dória Jr., a inexpressividade política de Eduardo Leite e a ameaça do tucanato de apoiar a emedebista Simone Tebet, também de pouca expressão.

Já Ciro Gomes, do PDT, é a vítima preferida dos ataques dos lulistas. O ex-governador do Ceará é tratado como se fosse um "desequilibrado" e se torna a mais nova vítima do linchamento dos lulistas contra o que se considera, em tese, como a Terceira Via.

Sendo o único candidato com grandes chances de atrair para si os lulistas descontentes com as alianças de Lula com Geraldo Alckmin, Ciro é humilhado e suas críticas construtivas ao envolvimento do petista com os golpistas de 2016 são vistas como "ataques".

No seu quadro "Ciro Games", em que Ciro atua como um influenciador digital, o candidato do PDT decidiu debater com o humorista Gregório Duvivier, apresentador do Greg News, do canal pago HBO. Embora fosse um debate do canal de Ciro, os lulistas fizeram crer que era um especial do Greg News, tamanha a vantagem dada para o comediante.

Duvivier manteve sua admirável leveza e simpatia, mas a meu ver foi ele que interrompeu Ciro nas falas. O humorista também começou a conversa explorando supostas acusações, atribuídas ao pedetista, de que Duvivier seria um "baixinho maconheiro", o que Ciro desmentiu com persistência.

Duvivier foi eleitor de Ciro em 2018, mas este ano ele decidiu votar em Lula. E a conversa com Ciro, que teve momentos de tensão, sim, no entanto não foi como os lulistas pregam, pois Ciro procurava ser equilibrado, apesar de suas críticas afiadas. E ele não interrompeu as falas de Duvivier nem se comportou de forma decadente.

Ciro, que desmentiu que teria ido a Paris durante o segundo turno presidencial de quatro anos atrás, afirmando que foi para Lisboa, foi ridicularizado de maneira ofensiva pelos lulistas, que de maneira taxativa chamaram sua candidatura de "página virada" e classificaram o pedetista como "politicamente morto".

Isso é um jogo sujo feito por lulistas, pois, mesmo que a figura de Ciro Gomes seja uma coleção de qualidades duvidosas, mesmo que ele fosse o pior candidato, mesmo assim seria bom Lula encará-lo, como deveria encarar qualquer um dos rivais.

Lula acusa os outros que lhe seguem de sucumbir ao salto alto, mas deveria verificar sua obsessão em evitar a Terceira Via e enfrentar somente Bolsonaro. Não seria isso um ato de revanchismo contra Bolsonaro, a exemplo de Sérgio Moro, devido às derrotas de Lula? Não seria também uma paranoia do petista querer retomar o poder a qualquer preço, "queimando" as etapas da campanha eleitoral e se aliando com forças divergentes que podem prejudicar seu projeto político?

O que se vê, mas pouca gente percebe, é a arrogância dos lulistas e a pouca preocupação do próprio Lula em cumprir pacientemente os ritos da campanha eleitoral, sequioso que está em vencer no primeiro turno na marra, enquanto a Terceira Via, que poderia pulverizar os votos potenciais a Bolsonaro, reduzindo a vantagem deste, é linchada sem piedade antes da campanha começar.

Lula imagina ser estratégico derrubando a Terceira Via antes da campanha presidencial se iniciar. Mas isso se torna perigoso, pois, uma vez que um terceiro-viável, podendo ser Sérgio Moro, João Dória Jr. ou Ciro Gomes, é ridicularizado, a chance da maioria de seus potenciais eleitores votarem em Bolsonaro é muito grande. Desta forma, os atrevimentos eleitorais de Lula se tornam perigosos e isso reflete até nas supostas pesquisas eleitorais que servem de termômetro para os analistas políticos.

Em outras palavras: querendo ganhar a qualquer preço, Lula corre o risco de perder. E, mesmo se ganhar, corre o risco de ter seu projeto político prejudicado, uma vez que ao seu lado estão políticos que defendem o Estado Mínimo e aceitam, de forma limitada, os benefícios sociais aos mais pobres. E se Lula errar no seu novo mandato, há ainda o risco de retorno do bolsonarismo.

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