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BIG BROTHER BRASIL SE ACHA A "HOLLYWOOD" BRASILEIRA

JADE PICON, AQUI EM CENA DO BIG BROTHER BRASIL 22, CAUSOU INCÔMODO AO SER ESCALADA PARA SER ATRIZ DA REDE GLOBO.

Muitos acreditam que o culturalismo se limita a assuntos políticos, educação familiar e hidrofobia jornalística.

Tudo bem. Temos, entre outras coisas, Sérgio Moro sendo investigado por mudança irregular de domicílio político, do Paraná para São Paulo, e a cassação do deputado estadual paulista Arthur do Val, o Mamãe Falei, por causa de comentários ofensivos machistas contra mulheres ucranianas.

Certo. O culturalismo conservador se manifesta por conta desses episódios, sim. Faz parte, com certeza.

Mas achar que culturalismo conservador é só isso é estar desinformado de muita coisa.

Neste contexto de gourmetização da mediocridade cultural, que atinge níveis estratosféricos e quase monopolistas - apesar do papo de "muitas vozes e muitas narrativas" dos flanelinhas culturais de plantão, supervalorizando as bolhas sociais - , o Big Brother Brasil é uma atração típica.

A atração, que já sofreu desgaste poucos anos atrás, se revigorou como fenômeno de massa e até como atração pseudocult, nessa mania do falso vintage que faz muita gente "tomar no cool".

O BBB acabou se tornando supervalorizado a ponto das páginas de famosos, no Brasil, conter mais subcelebridades do que famosos com alguma consistência entre atores, escritores e músicos.

Nem preciso detalhar que já se foram 62 anos quando uma figura como o filósofo Jean-Paul Sartre, na TV Tupi de São Paulo, conseguia atrair uma grande audiência no contexto da TV aberta, então em popularização ainda não plena, mas ascendente.

Não bastasse o sucesso exagerado do BBB 22, dois fatos envolveram integrantes do BBB dos últimos dois anos.

Primeiro foi o caso de Jade Picon ser anunciada como nova atriz da Rede Globo, passando a rasteira em muitos atores e atrizes com dificuldades de seguir suas carreiras.

Numa época em que a Globo anda perdendo ou demitindo profissionais de gabarito, a contratação de Jade Picon gerou protestos de vários atores e atrizes, que acusaram a influenciadora digital que estrelou o BBB 22 de não ter os requisitos necessários, como formação em teatro, por exemplo.

A atriz Ana Rita Cerqueira, por exemplo, despejou uma amarga ironia, depois de ter se indignado com o comentário de Picon sobre "se aventurrar no teatro":

"Se aventurar no teatro... na minha época, isso significava anos de estudo e panfletar para encher o teatro e receber por fim de semana. Às vezes, o que não pagava nem a ida e volta pro teatro. Sem comentários. Amanhã vou acordar e virar médica, ou quem sabe advogada... bora que estudar não tá com nada. Meus dez anos de curso de teatro se encontram de luto após essa notícia".

Já o ator Murilo Rosa foi mais diplomático, e sugeriu que a mesma novela em que estreará Jade Picon, Travessia, tenha no elenco o experiente Douglas Silva que, apesar de ter também integrado o BBB 22, é um dos mais talentosos e conceituados atores brasileiros.

Diante da polêmica em torno da escalação para uma novela, Jade Picon reagiu às críticas com deboche, dublando no Instagram um trecho da música "Olha", da banda Lagum: "Vê se não é um lindo dia para ofender alguém, principalmente se alguém sou eu".

A ATRIZ SAMANTHA SCHMÜTZ CRITICOU A CANTORA JULIETTE FREIRE, CAUSANDO CONTROVÉRSIA NA INTERNET.

Já outro caso envolve a campeã do BBB 21, Juliette Freire, paraibana que começa a carreira como cantora.

Depois que, numa entrevista ao programa Altas Horas, de Serginho Groisman, da Rede Globo, Juliette falou que, "como artista", acredita "ser importante se posicionar (politicamente)", a atriz e humorista Samantha Schmütz escreveu um comentário que depois apagou.

"Acho ótimo se posicionar, mas ela é artista?", questionou Samantha, ao ver a reprodução da entrevista no Altas Horas publicada pela Mídia Ninja.

Apesar da postagem ter sido apagada, ela viralizou e chegou ao conhecimento da própria Juliette, que respondeu em seu perfil nas redes sociais:

"A arte abraça, encanta, emociona e transcende qualquer rótulo. Ser artista é algo tão bonito e maior que tudo isso… é tocar o outro com o que há de melhor em você, é doação, é amor, é verdade... Então, sim, eu SOU artista e aprendiz de muita coisa".

Samantha aparentemente deixou o assunto para lá, mas depois veio com duas indiretas.

Uma é uma postagem com uma foto dela alegre com a seguinte mensagem: "Indo encontrar arte em...".

Outra, publicada mais tarde, mostrava um frasco de enxaguatório dental com nome francês, "Eau de Bouche" ("Água na boca") que, graficamente, no entanto sugere um trocadilho com a frase "É o deboche".

Quanto à Jade Picon, não a vi porque não vejo Big Brother Brasil, mas pelas notícias que vejo não creio que ela possa ser bem sucedida como atriz, a não ser que tenha que se esforçar muito.

Quanto à Juliette Freire, em que pese os senões artísticos - os prosaicos referenciais musicais que alternam entre uma MPB de trilha de novela e os sucessos popularescos - , creio que ela tem potencial e possa desenvolver seu talento, sim, como uma Grazi Massafera do pop brasileiro.

Não sou um fã da Juliette e não tenho um posicionamento fechado em relação a ela, mas creio que ela possa ter méritos que se tornem claros com o passar do tempo.

Pode ser que o BBB acerte de vez em quando no lançamento de famosos, mas o problema é que o "riélite chou" tem a pretensão de ser mais Hollywood do que Hollywood.

Na verdade, são poucos com talento que são lançados pelo programa, mas isso não põe mérito no BBB como um "celeiro de talentos".

A mediocridade cultural é gigantesca, e o público está tão acostumado que o que era ruim acaba parecendo "ótimo". E, o que é pior, não se pode criticar sem sofrer agressões.

Vivemos numa época em que, no Brasil, só se deve passar pano e nunca tocar o dedo na ferida.

Não tomo partido de Samantha Schmütz no caso Juliette, mas a atriz e humorista é uma das poucas vozes que destoam do desfile de flanelas que é a chamada opinião pública no nosso país.

Se há pessoas talentosas vindas do BBB, é lamentável que dependam desse programa para obter visibilidade e projeção.

Como foi lamentável, até pouco tempo atrás, que os novos artistas de MPB autêntica dependiam das hoje extintas trilhas de novela da Globo para divulgarem seu trabalho para o grande público.

Vivemos uma sociedade hipermidiatizada e hipermercantilizada, mas que finge que seu "maravilhoso" culturalismo - no fundo tão vira-lata quanto Operação Lava-Jato, os passeios de Jair Bolsonaro e a hidrofobia do jornalismo político - é tão natural quanto o ar puro de um bosque.

E aí vemos que até existem manifestações culturais de qualidade, mas elas vivem em bolhas quase incomunicáveis com o "mundo externo", este contaminado pela mediocridade e idiotização gritantes nos quais pouca coisa se salva.

E num momento em que até Hollywood começa a descer do pedestal, cria-se, sem necessidade, um pedestal para o Big Brother Brasil, para servir de entretenimento para internautas arrogantes e vazios que nunca aceitam uma crítica contra aquilo que faz sucesso no contexto medíocre e comercial de hoje.

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