Pular para o conteúdo principal

RECONSTRUÇÃO... EM CLIMA DE FESTA?

LULA NO LANÇAMENTO DO MOVIMENTO "VAMOS JUNTOS PELO BRASIL", ONTEM, NO EXPO CENTER NORTE, EM SÃO PAULO.

O golpe político de 2016 e seu legado são considerados "marolinha" ou "gripezinha", e isso não é bom.

Houve retrocessos diversos. Tragédias com perdas materiais ou humanas. Convulsões sociais, muitas vezes trágicas. Congresso Nacional aprovando medidas contrárias aos trabalhadores. Difusão ampla de fake news. Corrupção política na direita pós-golpe, que jurava ser o "primor de honestidade".

Com a Amazônia sendo devastada, as tragédias ambientais de Mariana e Brumadinho ainda sofrendo seus efeitos e o Museu Nacional sendo reconstruído com novo acervo, o Brasil está em momentos próximos a uma distopia.

É para ficar sorrindo? É para ficar em clima de festa? Não.

Mas a classe média que ficou nas redes sociais e não sofreu essas tragédias todas, sempre ficou feliz.

Dilma caiu, as pessoas ficaram felizes. Temer abusou do poder, as pessoas ficaram felizes. Bolsonaro foi eleito, as pessoas ficaram felizes. Crise do governo Bolsonaro, as pessoas ficaram felizes.

Eventualmente, só lágrimas de crocodilo, indignações de mentira, ativismo de sofá. E não se fala só do pessoal da direita. Muita gente progressista, de esquerda, indo nessa onda lamentável.

O ator e agora cineasta Lázaro Ramos disse uma coisa sábia: "A gente vê tragédia e a primeira coisa que faz é meme". Foi na entrevista para o OtaLab, de Otaviano Costa.

Lázaro gosta de memes e eu também, mas a memecracia causa incômodo, principalmente por ser a zona de conforto que desnorteia muita gente. E que já fez enfraquecer as passeatas do "Fora Bolsonaro".

Meu voto em Lula estava certo em 2020 e até parte de 2021, mas ao ver a mudança de comportamento dele, comecei a ter um pé atrás.

Lula passou a ver a vida como se fosse uma festa. Deixou para trás o realismo que havia expresso nas entrevistas (excelentes) na prisão.

Ainda mantive minha opção de voto por Lula, até que ele resolveu fazer o que alertei que não devia: se aliar com a direita moderada, que diverge do seu projeto político.

Quando ele expressou fazer questão de ter o então tucano Geraldo Alckmin como vice de sua chapa presidencial, resolvi: não vou mais votar em Lula.

E aí veio o otimismo cego, o clima de "já ganhou" de Lula e a Terceira Via recebendo chacotas, como se as esquerdas triunfalistas fossem um bando de valentões.

Reafirmei que não vou votar em Lula. Não admito arrogância, mesmo se a pessoa se mostre a melhor opção.

Mesmo assim, eu, como jornalista, acompanho os textos de apoiadores de Lula e todos os argumentos em favor até mesmo da aliança com Alckmin.

Infelizmente, são argumentações vagas, subjetivas, evasivas. Geralmente em torno de ideias como "democracia".

Lula comete contradições. Costumo considerar que Lula quer voar alto demais, mas se alia justamente com aqueles que querem lhe cortar as asas, proibindo esse voo.

Na teoria, tudo é fácil. Lula falando para a direita moderada, sejam os políticos, o empresariado, o setor financeiro, que é necessário acatar as propostas do petista porque "é em nome do povo brasileiro", que se acatarem a Economia cresce e as elites não perdem etc.

No mundo ideal, a direita moderada cede às decisões de Lula e mesmo o empresário mais empedernido vai aceitar ceder seus privilégios em benefício dos trabalhadores.

Mas já citei várias vezes sobre o que ocorreu, antes, com João Goulart e Dilma Rousseff.

Na prática, tivemos uma elite retrógrada que torceu para a implantação dos retrocessos sociais, políticos e econômicos do período golpista.

E hoje parece que foi apenas um período de nada, que muitos afirmam que é "ruim" só porque boa parte dessa dura realidade é obra de Jair Bolsonaro.

E vemos o que ocorreu ontem, aqui em São Paulo, no Expo Center Norte, próximo ao Terminal Rodoviário do Tietê e do Shopping Center Norte.

Lula lançou o Movimento Vamos Juntos Pelo Brasil e ainda recebeu de presente da noiva Rosângela da Silva, a Janja, um CD com vários cantores cantando a música "Sem Medo de Ser Feliz", de Leonardo Leone, lançado na campanha presidencial do petista em 1989.

Li os discursos de Lula, presente no evento, e de Geraldo Alckmin, em convalescência por conta da Covid-19.

Tudo muito esperançoso, cheio de expectativas muito boas. Propostas corretas, tudo muito atraente.

O problema é se tudo isso vai ser realmente implantado. Não vai haver gente querendo puxar o tapete de Lula?

Será que, com os apóstolos do Estado Mínimo como aliados de Lula, será possível manter um Estado forte mesmo se argumentar que é "pelo interesse público"?

O grande problema de Lula é que ele acredita que a direita moderada aceita se aliar a ele de maneira incondicional.

Engano. Boa parte da direita moderada só se alia a Lula visando derrubar Jair Bolsonaro. Depois disso, Lula terá que acertar as contas e selecionar, do seu projeto político, aquele que agradar as elites.

Lula fica dizendo o tempo todo que "não vai governar para o mercado", achando que as suas propostas serão inteiramente aceitas pela direita moderada que se tornou aliada circunstancial.

A situação do Brasil está frágil. A cultura está sucateada e isso não é obra de Mário Frias ou da família Bolsonaro. Vem desde um sistema de valores conservador de mais de 50 anos atrás, que impôs a bregalização como pretenso paradigma de cultura popular.

O pessoal não lê Esses Intelectuais Pertinentes... e fica achando que basta jogar Lei Rouanet, Lei Paulo Gustavo ou Lei Aldir Blanc, enchendo ídolo popularesco de dinheiro público, para transformar um MC Créu num Tom Jobim.

É neste contexto que Lula prefere agir como se estivesse numa esfera de sonho e fantasia.

E o pior é que o lulismo fala mesmo em sonho, em fazer "o brasileiro voltar a sonhar".

E vemos seu projeto de reconstrução do país... Em clima de festa?

Vamos reconstruir um Brasil ou transformá-lo numa Suécia de vez?

Nem a floresta amazônica têm fôlego para ser recuperada em quatro anos, e, além disso, é difícil o Brasil chegar ao Primeiro Mundo, porque não tem um povo à altura.

É muito sentimentalismo em torno de Lula. Para o bem e para o mal. Para as fantasias dos lulistas e para as chacotas que os apoiadores de Lula fazem contra os terceiro-viáveis.

Lula está fora da realidade. E está criando expectativas demais para um país devastado que é o Brasil.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...