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A MODA DA LITERATURA 'FAKE' "ESPIRITUALISTA"


Um modismo preocupante surge não só nas redes sociais, mas nos ambientes presenciais e na eventual propaganda trazida por famosos de qualquer tipo e até com certa credibilidade.

É o crescimento do Espiritismo brasileiro, o Catolicismo medieval com botox, que mesmo com ideias do século XII consegue passar para as pessoas um verniz falsamente moderno e pretensamente progressista.

Na era da positividade tóxica que pretende suceder o ódio bolsonarista, o Espiritismo brasileiro quer ser a Igreja Universal da vez.

Para isto, existe a tal literatura fake, supostamente espiritualista e carregando nos créditos os nomes de personalidades mortas.

Atrizes, socialites, jornalistas e até mesmo muita gente boa, como Régis Tadeu e Wilson Roberto Vieira Ferreira (do blogue Cinegnose) evocam estes livros, trazidos principalmente por um "médium de peruca" que ajudou mais a ditadura militar do que o Cabo Anselmo e o Brilhante Ustra.

Alguns títulos da moda dessa literatura farsante circulam facilmente nas redes sociais, aliciando os incautos: "Nosso Lar", "Paulo e Estêvão", "Violetas na Janela", "Vida Feliz" e tantos outros.

Junto a eles, é claro, tem-se a pintura farsante que evoca os nomes de pintores mortos, mas passa longe de qualquer vestígio mínimo que possa sugerir alguma autenticidade.

O mesmo ocorre com os livros, em que a personalidade do "médium" - ou de terceiros, encarnados, que participam dos reparos editoriais, como consultoria literária, por exemplo - é a única identificável, estando longe de qualquer chance de algum morto ser realmente autor espiritual da obra.

Daí que são conhecidas como psicografakes, num contexto em que a obra paranormal, considerada "mediúnica", é ainda uma atividade nunca devidamente exercida, mesmo pelos ditos "médiuns renomados".

Se no resto do mundo a paranormalidade é ainda um processo cheio de dúvidas, o Brasil a coisa é ainda pior. E ainda mais grave quando muitos acreditam ser o nosso país o que, supostamente, desvendou os mistérios dessa atividade.

Na verdade, não só não resolveu como piorou as coisas, com ações fraudulentas, trazidas mesmo por gente "gabaritada" - como o tal "médium de peruca" - , que passam longe de qualquer aspecto pessoal do autor falecido.

Mesmo assim, são obras aceitas até mesmo por mercados literários sérios e intelectuais com alguma credibilidade, e o mais preocupante é que mesmo os ditos "céticos" e "ateus" passam pano em obras tão farsantes.

E agora vemos atrizes, influenciadores digitais, críticos literários, palestrantes culturais, entre tanta gente boa que fica evocando essas obras literárias, uns na boa-fé, outros posando de pretenso intelectualismo.

Isso é terrível!!!!

Afinal, os nomes dos mortos são usados, usurpados e abusados por essa verdadeira orgia da fé, de uma religião mil vezes pior do que as seitas "neopenteques".

O Espiritismo brasileiro, por trás de sua máscara que reúne supostas qualidades como "intelectualismo", "progressismo", "humildade" e "despretensão", além de não falar o idioma raivoso dos evangélicos neopentecostais, esconde ideias perversamente medievais.

A religião brasileira está muito mais próxima da Teologia do Sofrimento, uma corrente católica que evoca valores punitivistas e meritocráticos dignos da Idade Média, do que do espírita autêntico Allan Kardec, alvo de bajulações em proporção oposta ao acolhimento de suas ideias, que é nenhum.

Mas a seletividade da difusão das ideias "espíritas" faz enganar a sociedade, dando uma falsa impressão de que se trata da "melhor religião do mundo".

Seus palestrantes, quando falam para os mais ricos - ou mesmo para a classe média bem de vida - , evitam falar do sofrimento e se limitam a dizer "como é fácil ser feliz".

Falar de sofrimento se deixa para o público mais pobre, ou mesmo para a classe trabalhadora pouco remediada, mas sujeita ainda a sérios infortúnios: para eles, se fala que o sofrimento é "lindo", que precisa ser suportado sem queixumes, visando as "recompensas eternas de Deus".

Esse pretenso receituário moralista, por não adotar a linguagem agressiva dos neopentecostais, faz com que o Espiritismo brasileiro engane até mesmo setores das esquerdas brasileiras.

Afinal, essa religião explora muito bem a catarse emocional "positiva" que a classe média pequeno-burguesa, a "banda boa" da elite do atraso, exala nos últimos tempos, pretensamente defendendo a fraternidade e a união do povo.

O assédio de certos "espíritas de esquerda" - um movimento risível de papagaios que repetem clichês do imaginário esquerdista  em geral - ao Lula, no livro Lula e a Espiritualidade, de 2019, talvez deva ter contaminado o petista, como sempre contamina o Espiritismo feito no Brasil.

Teve até um pretenso médium, que alega ter expelido sangue pela boca, que disse que Lula é "reencarnação" do imperador Dom Pedro II, em matéria bem do agrado dos donos do UOL, os herdeiros de Otávio Frias Filho que esperam alguma "psicografia" atribuída ao seu finado irmão.

A religião "espírita" é de mau agouro. Ela traz azar. Eu mesmo senti isso, quando fui seguidor dela. E deixemos de fora um certo roqueiro britânico, gente muito boa, da fama de "pé frio" porque o verdadeiro azarento é outro.

O pé-frio, na verdade, é o próprio "médium de peruca", o dito "lápis de Deus" ou "carteiro de Deus", glorificado por uma "caridade lata-velha" (padrão Luciano Huck, que só beneficia o "benfeitor" e quase não ajuda os carentes).

Vários famosos foram idolatrar o "lápis de Deus" e o resultado foi a estranhíssima perda de filhos, mortos prematuramente por tragédias surgidas "do nada".

E aí essa religião e seu "médium de peruca" ressurgem no imaginário de uma classe média em maioria retardada, culturalmente atrasada, apesar do seu alto poder aquisitivo e sua pomposa (mas pouco eficiente) formação educacional.

E aí vêm a moda da literatura fake, das psicografakes, que servem para o recreio místico de pessoas que se acham "inteligentes" mas confundem demais as coisas.

Ou então servem de eventual apelo religioso para gente que é até inteligente, mas ainda possui resíduos de ingenuidade preocupantes que fazem pensar que um livro fictício tipo "Nosso Lar", acusado de ser plágio de um livro britânico, é uma "obra científica".

É assustador ver o quanto cresce um fenômeno desses, e cabe a quem tem um mínimo de sensatez denunciar tudo isso.

Não é porque a pessoa traiçoeira evita falar o "hidrofobês" - a língua raivosa dos reacionários brutos, menos sutis - que ela deixa de ser traiçoeira.

Aliás, as pessoas mais traiçoeiras e perigosas são aquelas que utilizam um discurso mais suave. Os piores venenos possuem sabor doce e agradável. Os animais mais venenosos possuem aparência graciosa.

Mas como dizer isso com as esquerdas preocupadas em matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem, chutando os "cachorros mortos" do neopentecostalismo mais combatido?

Enquanto isso, o Catolicismo medieval de botox, o Espiritismo brasileiro, com sua grandiloquência travestida de simplicidade, consegue enganar até ateus e céticos em geral devido ao discurso melífluo que esconde ideias preocupantemente medievais. Tudo em nome de pretensas paz e fraternidade.

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