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LIVROS PARA COLORIR DEVERIAM SER SOMENTE DIGITAIS

JORNAL DO BRASIL DEIXA DE SER IMPRESSO PELO CUSTO DO PAPEL. COM MATERIAL MAIS CARO, OS LIVROS PARA COLORIR CONTINUAM EXISTINDO NO PAPEL.

O mercado literário, neste contexto de crise cultural não-assumida mas crônica que o Brasil vive, tem suas aberrações.

Numa época em que jornais impressos como Jornal do Brasil desaparecem - hoje o periódico só existe na Internet - , temos um grande desperdício chamado "livros para colorir".

Não bastasse nosso mercado de livros se nivelar à idiotização cultural, com obras analgésicas que fogem de qualquer compromisso com o Saber, os "livros para colorir" ainda são risivelmente incluídos no quesito "não-ficção".

Embora esses livros prometam um entretenimento anti-estresse, o que se vê é uma estressante situação de que livros assim tiram o espaço de quem quer transmitir Conhecimento e acrescentar algo na vida das pessoas.

Mas o pior é que, comparando com o fim da versão impressa do Jornal do Brasil, a persistência dos livros para colorir tem um dado agravante: o custo do papel é ainda mais caro.

O fim da versão impressa do periódico carioca, depois de um breve período de cerca de dois anos em 2018 e 2019, foi justificado pelo alto preço do papel e da gráfica, que não conseguiram ser compensados com as vendas.

Só que o papel jornal tem um custo menor do que o de um livro. A gráfica pode ser maior, mas o tipo de papel usado é mais barato para um jornal, se comparado com o material usado para um livro.

Eu sei o quanto um livro custa caro, com material de capa e de páginas influindo no preço caro do papel usado. Por isso, por exemplo, meus livros impressos têm um preço bem amargo.

Na medida em que livros supérfluos que seguem modismos tão diversos - cachorros com nomes de músicos, vampiros estudantis, sagas medievais, livros "administrativos" com palavrão no título - , muito papel é gasto à toa.

Surgem fogos de palha como livros de influenciadores digitais de quinta categoria, ou, no mercado editorial independente, há até biografias de gente surgida, pasmem, do nada.

Sim, isso mesmo. São biografias de anônimos que, só porque são conhecidos por umas duas dezenas de vizinhos no seu bairro, escrevem seus "diários" prometendo alguma "lição de vida", e acabam vendendo mais do que sugere o seu meio.

Tudo isso cria burburinho durante um tempo, "pentelham" as listas dos mais vendidos tirando o lugar de quem quer mostrar um trabalho mais consistente, e, passada a onda, são descartados e vão para os sebos "repousarem" no encalhe de vendas.

E nesse embalo temos os livros para colorir, que, embora com bom resultado de vendas, também "morrem" nos sebos, sem encontrar algum comprador.

Já imaginou quanto papel é desperdiçado com tantos livros desses, que fogem de qualquer compromisso com o Saber, independente de ser ou não ficção?

Isso é um custo tão caro que uma boa sugestão é recolher os livros que mais encalham e reciclar o papel, se desfazendo desses livros.

É muito modismo, muita manipulação da mídia, muito escritor medíocre tendo mais espaço com obras que mais parecem pastiches de seriados da Netflix. Gente riquinha do Leblon achando que pode escrever romances medievais só porque passaram uns meses vendo Game of Thrones

No caso dos livros para colorir, é uma necessidade recolher todos eles e dar cabo em quase tudo.

Os livros para colorir deveriam ser vendidos apenas digitalmente, através do seguinte esquema.

Primeiro, a pessoa faz uma assinatura numa editora ou livraria virtual, pagando uma taxa de serviço.

Segundo, ela escolhe um título de um livro para colorir e paga através de boleto ou cartão de crédito.

Terceiro, ela recebe um linque da página da editora ou livraria na Internet, que lhe permite baixar o livro para colorir em formato PDF ou similar.

A pessoa, se quiser ter o livro para colorir no papel, ela pode gravar o arquivo digital baixado e enviar para ser impresso na loja de serviços gráficos de seu bairro, podendo inclusive encadernar, no caso de ser uma porção de páginas.

A pessoa não precisa imprimir tudo de uma vez, e pode até mesmo pagar barato.

Além disso, o custo do papel couchê, que é usado nos livros que se vende no mercado, acaba sendo abatido, porque não se desperdiça papel à toa.

É certo que isso tira os leitores da zona de conforto, porque é mais cômodo a pessoa ir para uma livraria e comprar um livro para colorir no formato impresso.

Só que é necessário sair dessa zona de conforto, porque, do jeito que está, o mercado de livros mais está contribuindo para o emburrecimento da população do que para a divulgação do Conhecimento.

Que os livros para colorir possam ser publicados somente em formato digital, disponibilizado pela Internet. Será mais barato e menos oneroso para o mercado. Será uma grande porção de papel que as editoras pouparão para a impressão de seus livros.
 

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