Pular para o conteúdo principal

A TERCEIRA VIA MERECE RESPEITO


A arrogante campanha de Lula, movida pelo clima de "já ganhou", sempre ridicularizou e desrespeitou a Terceira Via.

Lula fala tanto em "restaurar a democracia", mas ele mesmo não age de maneira democrática.

Ele impôs uma aliança com forças divergentes, acreditando que, também vai impor seu projeto político para a direita moderada engolir como criança tomando chá de losna.

Tudo isso sem verificar obstáculos, limites, condições adversas. Lula acha que pode fazer o que quer, e isso é muito mal.

Os lulistas se comportam como os valentões da escola, apelando para o valentonismo (bullying) ao ofender e desqualificar o terceiro-viável que aparecer na ocasião.

E essas coisas já foram feitas antes da campanha presidencial começar para valer. Não dá para contabilizar o quanto houve de linchamento sofrido pela Terceira Via por conta dos seguidores de Lula.

Isso não é democrático.

Fosse que fosse a situação excepcional, como o conflito entre a civilização e a barbárie, por exemplo, tanto Lula quanto Bolsonaro deveriam ao menos respeitar a Terceira Via.

Paciência. É uma competição presidencial. Devem haver vários candidatos, inclusive os que são considerados Terceira Via.

Rejeitar a necessidade de concorrer com a Terceira Via é até inconstitucional, antidemocrático e contrário à pluralidade política.

Lula dá um tiro no pé ao rejeitar a Terceira Via, que poderia até lhe ajudar a pulverizar os votos para Jair Bolsonaro.

Com a saída de Sérgio Moro da corrida presidencial, Bolsonaro ganhou pontos e ensaia uma recuperação que pode levá-lo à reeleição.

As esquerdas, ao falar da "urgência da polarização", se nivelam, em termos de excepcionalidade, ao lavajatismo justiceiro de Sérgio Moro, agindo de forma contrária à legalidade democrática.

Mesmo que alguém seja radicalmente favorável a Lula, querendo que ele vença a corrida presidencial, seria um mínimo de civilidade considerar que a Terceira Via tem validade na competição e merece o respeito crucial para um regime democrático.

Lula fala de uma "democracia só para si", embora ele, com contradições acumulando e pesando em suas costas, não quer ouvir seus companheiros, enquanto se submete ao neoliberalismo festivo de gente como Geraldo Alckmin e Armínio Fraga.

E Lula acha que, ouvindo os neoliberais, terá mantidas as condições de preservar o projeto progressista que ele tanto propõe, mas que, na prática, acaba perdendo sua razão de ser.

Lula está tão sedento por uma frente ampla demais que não consegue esconder o desespero e a arrogância, compartilhada por seus seguidores, muitos jornalistas da mídia progressista.

Estes jornalistas, infelizmente, deixaram a antiga lucidez de lado e passaram a fazer uma defesa cega e intransigente a Lula, a ponto de transformar o insosso Geraldo Alckmin ("picolé de chuchu" quer dizer pessoa insossa) em "queridinho" das esquerdas médias.

Mas para essas esquerdas que são capazes de endeusar até "médiuns" que apoiaram a ditadura militar - além de uma megera albanesa que, atuando em Calcutá, virou um suposto "símbolo de bondade humana" - , vale apoiar qualquer coisa.

Apoiam qualquer direitista que pode ser reacionário doente, mas que não fale o idioma da raiva e do ódio, o "hidrofobês".

É só um reacionário falar calminho que entra no clube das esquerdas como se fosse alguém dentro delas. Pode defender do Estado Mínimo à Teologia do Sofrimento que, com uma fala macia e simpática, vira "marxista desde criancinha".

E isso faz com que o lulismo fosse contaminado por forças que fizeram o golpe político de 2016 e atuaram pela reforma trabalhista e pelo teto dos gastos públicos.

Como Lula vai realizar a ruptura dos legados trazidos pelos seus aliados circunstanciais?

Apesar dessas contradições, Lula age com arrogância, achando que está sendo vitorioso e consistente.

Não está. Sua campanha é a mais confusa, contraditória e até mesmo repetitiva entre os candidatos à Presidência da República.

Lula não está sendo estratégico. E está sendo impaciente e, de certa forma, revanchista, embora insista em desmentir isso tudo.

Ele se vende como o "candidato do amor" mas deixa claro que quer fazer revanche com Bolsonaro, assim como fez com Sérgio Moro.

Daí o desprezo à Terceira Via, que também acaba levando surra dos lulistas.

Tudo pela vitória na marra de Lula, algo que atropela os verdadeiros princípios democráticos, deixando apenas a "democracia de si mesmo" do líder petista.

Mesmo que ele seja o favorito, o melhor, o candidato ideal etc, Lula tem que respeitar a Terceira Via, ver que ela pode ser competente e não ser fraca.

Lula não pode agir como se ele estivesse acima de tudo, e nem mesmo a desculpa de que as eleições presidenciais deste ano são "um plebiscito entre a democracia e a ditadura" soa muito patética.

Esse caráter messiânico de Lula, que, apesar de hoje não ser mais do que uma mascote dos neoliberais, se alimenta do mito do antigo líder sindical que virou coisa do passado, acaba estragando sua imagem.

Fora da bolha da esquerda, Lula ainda é alvo de um antipetismo ainda resistente. O favoritismo de Lula mostra-se artificial, frágil, forçado, a ponto dos seus seguidores, nervosos, já xingarem quem não votar no petista de "fascistas" "bolsonaristas", "quinta-coluna" etc.

Os seguidores de Lula estão nervosos, porque no fundo sabem que, com as contradições do petista, sua vitória tida como certa pode se tornar uma miragem ao chegar a consulta das urnas eletrônicas.

A intolerância com a Terceira Via e outros candidatos de menor expressão, associada com o revanchismo de espetáculo na polarização contra Bolsonaro podem fazer até Lula vencer as eleições, mas a isso se seguirá um dos governos mais fracos e problemáticos da História do Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

O PESADELO GAÚCHO QUE DESAFIA O "SONHO BRASILEIRO"

O CENTRO DE PORTO ALEGRE COM ÁGUA QUE ATINGIU CINCO METROS DE ALAGAMENTO. Não há como sonhar grande. O risco de cair da cama é total. A terrível tragédia do temporal no Rio Grande do Sul é algo que nos faz parar para pensar. Isso é normal para um país próspero? Falta alguma consciência ambiental no nosso país? Até o fechamento deste texto, 56 pessoas morreram e vários estão entre feridos, desabrigados e desaparecidos. Porto Alegre, Caxias do Sul e Gramado estão entre as inúmeras cidades atingidas por chuvas intensas, vendavais, trovoadas e transborda de rios, entre eles o Guaíba. E nós manifestamos pesar sobre essa traumatizante ocorrência e solidariedade às vítimas. A situação é muito triste, mas não deixa de ser lamentável o oportunismo das subcelebridades, aspirantes a super-ricos, de oferecer doações milionárias para as vítimas das enchentes. Uma sociedade que, em condições naturais, quer demais para si e, egoísta, não quer abrir mão do supérfluo para ajudar o próximo a ter o neces

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s