Um atentado aconteceu numa festa em Foz do Iguaçu, na noite do último sábado, dia 09. O guarda municipal e tesoureiro do PT, Marcelo Aloízio Arruda, estava fazendo aniversário de 50 anos na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, quando o bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, policial penal, invadiu a casa e discutiu com a vítima.
Depois, Jorge saiu de casa e, ao voltar, atirou em Marcelo Aloízio, que, agonizante, ainda atirou no seu algoz, que, ferido, foi socorrido para um hospital. Arruda faleceu ao ser socorrido, mas Guaranho, que chegou a ser dado como morto, continua internado. As imagens do crime são chocantes.
Guaranho era defensor do armamento do cidadão comum e, em 2021, apareceu numa foto ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro. Na ocasião do crime, Guaranho gritava jargões antipetistas e se anunciava como apoiador do presidente Jair Bolsonaro.
Todavia, Guaranho, segundo algumas fontes, não conhecia a vítima, enquanto outras fontes dizem que os dois se conheciam, mas vagamente. Descobriu-se que Guaranho era diretor da associação onde ocorreu o crime e que ameaçava matar todo mundo que estivesse no aniversário da vítima.
Outro ponto a considerar é a posição do jornalista da Globo News, o também "espírita" André Trigueiro - admirador de um "médium" baiano bolsonarista, discípulo de um mineiro, falecido há 20 anos, que também seria bolsonarista se hoje estivesse vivo - , que quase conquistou as esquerdas com suas postagens nas redes sociais, culpou o "extremismo de Lula" pela morte do guarda municipal.
Embora reconheçamos que haja uma polarização, não foi o "radicalismo" lulista que provocou o crime. O lulismo comete inúmeros erros, vários constrangedores, mas Trigueiro foi infeliz ao culpar Lula pela morte de Arruda, porque aqui o crime é culpa mesmo do ódio bolsonarista, o mesmo bolsonarismo que encontra afinidades no ultraconservadorismo evidente, mas nunca oficialmente assumido, dos dois "médiuns" do Espiritismo brasileiro que o jornalista da Globo News tanto cultua.
No dia anterior, no Japão, foi assassinado a tiros, durante um comício, o ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, atingido por um desempregado armado de revólver caseiro, Tetsuya Yamagami, que disse ter atirado no político por ele fazer parte de "uma organização" que o criminoso odiava.
E o que isso tem a ver com o atentado em Foz do Iguaçu? A princípio, nada, a não ser o fato de que o atentado ao ex-primeiro-minstro - que visitou o Brasil nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 - ser um alerta para Lula, que não costuma exigir seguranças em suas aparições públicas, coisa que, felizmente, o Partido dos Trabalhadores não acatou, pois age para reforçar a segurança do petista, coisa que será ainda mais rigorosa nos próximos dias.
Nosso blogue faz críticas enérgicas a Lula, mas dentro do espírito respeitoso da discordância democrática. Repudiamos o crime de Guaranho, que é um reflexo do crescente ódio bolsonarista, algo que é uma consequência dos erros políticos que envolvem o golpe político de 2016. Não somos intolerantes com Lula, e defendemos que Guaranho, se sobreviver, seja preso e punido conforme a lei.
A ascensão de Jair Bolsonaro é fruto de um pragmatismo adotado no Rio de Janeiro desde os anos 1990, que adotava o ideal de "piorar hoje para melhorar amanhã", que resultou num sistema de valores que gerou desde pioras como a padronização visual nos ônibus cariocas (com reflexos em Niterói, São Gonçalo, Nova Iguaçu e Campos) e rádio pseudo-roqueira (Rádio Cidade) até a "solução" dos bicheiros (loteria supostamente facilitada) e milicianos (suposta segurança com serviços diversos).
O Rio de Janeiro - reduto forte, mas nunca oficialmente assumido do bolsonarismo, assim como Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais - , que, seguindo a segunda cidade mineira citada, jogou uma "bomba de fezes" num comício de Lula, também gerou o "funk", um ritmo "popular" marcado pela profunda precarização musical e temática, sendo outro exemplo do pragmatismo que faz do Estado do Rio de Janeiro uma região decadente e, hoje, apagada pelo resto do Brasil.
A ideia de "piorar para melhorar" do pragmatismo carioca foi mais crucial para o golpe político de 2016 do que a "República de Curitiba" da Operação Lava Jato. Afinal, foram os cariocas que elegeram, em 2014, em nome do "moralismo cristão" (mais pragmatismo), Jair Bolsonaro e um nada carismático Eduardo Cunha.
E aí tudo veio sem controle. Dilma Rousseff caiu, Michel Temer a traiu e implantou retrocessos políticos. Tudo isso sob as bênçãos do bolsonarista Eduardo Cunha. O pragmatismo carioca - de um Rio de Janeiro tão direitista quanto o interior catarinense e gaúcho, mas tem uma minoria esquerdista identitária que tenta aparecer mais - foi o ovo da serpente que hoje empoderou o bolsonarismo.
A crise do bolsonarismo não pode ser entendido como uma decadência final. Bolsonaro pode cair, mas tem chances de recuperar e fazer um golpe. Não só ele que fará o golpe, pois a situação está muito complexa. Parte dos golpistas de 2016 estão se aliando, condicionalmente, a Lula.
Em todo caso, o atentado contra o guarda municipal Marcelo Aloízio Arruda é um alerta. A situação do Brasil está mais para distopia. O próprio Lula deveria ter tomado cuidado com alianças, com segurança, com tudo. Sua volta à política não fará do Brasil um país feliz de novo, até porque os bolsonaristas sairão muito furiosos.
Lula não pode sair por aí se aliando com qualquer um, abraçando qualquer um, falando o que quiser, achando que a democracia é o "décimo dedo" de suas mãos que nunca será amputado. Há muita gente fingindo ser aliada de Lula e que, com certeza absoluta, o "apoia" mais para conter o avanço de seu projeto político. Geraldo Alckmin sinaliza que não vai aceitar as ousadias do titular petista.
Grande erro o Brasil não ter apostado numa terceira via em 2018. Grande erro também será o Brasil massacrar a terceira via antes da campanha presidencial propriamente dita começar. A polarização que havia sido uma utopia em 2013 pode se tornar um pesadelo dez anos depois. Convém tomarmos cuidado.
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