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CAMPANHA PRESIDENCIAL QUE QUER TERMINAR QUANDO LOGO COMEÇA


Pouca gente percebe, mas a campanha de Lula - inclusive a que oficialmente se chama de "pré-campanha" - é uma vergonhosa coleção de erros, principalmente estratégicos. Escolher um neoliberal irredutível, Geraldo Alckmin, como vice-presidente, e criar um clima de festa na campanha, são apenas dois dos piores erros, diante de um contexto de um país em crise profunda (mas profunda mesmo).

E devemos levar em conta que, até agora, Geraldo Alckmin não fez a menor prestação de contas com o povo brasileiro por conta dos erros passados. A atitude de Lula não querer que se faça autocrítica, seja por parte dele, seja de gente como Alckmin, e sob a desculpa de que autocrítica é autoflagelo, só demonstra mais um erro, porque o passado sombrio de Alckmin continua sendo uma sujeira escondida debaixo de um tapete.

Lula cometeu tantos erros, como espinafrar a Terceira Via, que o petista achava que iria lhe roubar os votos. Esquece Lula que a Terceira Via é um subproduto do antipetismo, o que significa que os terceiro-viáveis iriam tirar votos não de Lula, mas de Jair Bolsonaro. Com esse verdadeiro valentonismo (bullying) contra a Terceira Via, Lula deu um tiro no pé.

Com tantas contradições que incluem alianças com forças divergentes à sua causa política, Lula se reduziu a um político "qualquer nota". Já não fala tanto das promessas extraordinárias e sonhadoras demais, várias delas sem condições para serem realizadas. Também, Lula, flertando com a Faria Lima, e com Alckmin como um parceiro fortalecido, não iria manter inteiras as pautas progressistas, que se dissolvem como pó.

Lula vai reduzir o tal "Estado forte" a projetos de grife, quase sempre paliativos: Bolsa Família, Fome Zero, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, Cotas Universitárias. Não vai cobrar impostos dos mais ricos, porque são eles que vão ajudar Lula a ser eleito, e ninguém agradece esse apoio cobrando dinheiro.

Lula já não tem mais fôlego para fingir que é o político audacioso que muitos acreditam ser. Ele vai fazer 77 anos e está idoso e doente. Moderado até demais, Lula não vai realizar as promessas mais ousadas, e seu sistema de alianças é pior do que 2002, porque ela estabelece critérios ainda mais rígidos. A direita moderada que apoia Lula não vai tolerar ele fazendo pautas progressistas ousadas.

Daí que Lula vai ter que respeitar uma parte do legado de Michel Temer, e se contentar em adotar medidas paliativas. Se Alckmin é considerado pelo próprio Lula como um governante parceiro, com amplo poder de decisão, isso significa adeus a muitas propostas do petista, porque o ex-tucano vai impedir, com a certeza do Sol nascente e poente, que se realizem ousadias políticas.

E isso desgastou muito Lula que, agora, só resta ao petista se vender como uma solução urgente contra Jair Bolsonaro. A polarização que se desenha se torna enjoada e cansativa, embora Bolsonaro esteja mais tranquilo, porque é capaz de dar a volta por cima das piores encrencas, manipulando as circunstâncias a seu favor.

E foi tanto incidente surreal, numa campanha presidencial em que Lula não tinha paciência de enfrentar uma diversidade de presidenciáveis, contrariando essa obrigação do jogo democrático eleitoral. Daí que os concorrentes não-bolsonaristas eram humilhados e depreciados pelos lulistas, na esperança de criar um primeiro turno com jeitão de segundo, apenas com dois candidatos.

Foram tantas trapalhadas, sobretudo por parte de setores infantilizados das esquerdas, que Lula está desgastado, tendo que segurar os 45% de votos que potencialmente parece ter, depois que perdeu 13% (número irônico), pois antes era capaz de ter 58% de votos. Lula tenta puxar mais 7% no seu favoritismo, no desespero de evitar que a disputa com Bolsonaro caia no segundo turno.

E agora que a campanha presidencial começa, há um clima de fim de festa. Queimou-se muita munição, jogaram-se muitos confetes e serpentinas, muitos doces, salgados e bebidas já foram consumidos. A festa de Lula começou precipitada, e só teve êxito porque o petista é capaz de explorar o inconsciente emotivo do brasileiro médio, explorando o mito do líder sindical que, na sua essência, desapareceu para sempre.

Agora vemos que a ideia do "ou Lula ou nada" se esvaziou em conteúdo, sendo quase uma palavra de ordem, um grito de desespero, num clima de "vai o Lula neoliberal mesmo". Até os mais críticos seguidores de Lula vêm com o papo de que primeiro se deve elegê-lo para depois discutir seu programa de governo. A campanha se desgasta por parte de Lula e ele mesmo afirmou que só vai governar quatro anos. Se ele tiver saúde em dia para aguentar pressões violentas no dia a dia do governo.
 

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