Lula foi o entrevistado de ontem do UOL, no canal do jornalista Kennedy Alencar, de tendência progressista. No entanto, é a primeira vez que Lula aparece no portal, antes conhecido pelo antipetismo marcante da família Frias, dona do portal e do jornal Folha de São Paulo.
Com a simpatia de sempre, Lula no entanto manteve aquele clima de sonho, só que sem exibir as promessas exageradas que, por sinal, se dissolvem pouco a pouco. Até o Bolsa Família, que Lula prometeu turbinar, ficará no valor de R$ 600. Juro que imaginava que ele iria determinar o valor em R$ 1.500, que já considerava paliativo, diante de famílias pobres muito numerosas.
A entrevista de Lula não traz novidades. Ele já havia falado, por exemplo, que pretende pautar os preços dos combustíveis da Petrobras em reais e considerar a demanda do consumidor e não dos acionistas. Correto. Ele pretende recriar ministérios e também incrementar políticas em prol da preservação da Amazônia e da garantia da soberania da parte brasileira da gigantesca floresta sul-americana. Até aí, tudo bem.
De início, é até positivo Lula querer e se dispor a reconstruir o Brasil. Mas, como este blogue informou, Lula decepcionou em vários aspectos: criar um clima de festa, se aliar a forças divergentes e se precipitar em se achar o "único" candidato preparado para governar o Brasil. Ainda que realmente fosse, Lula teria que esperar todo o processo eleitoral para mostrar que é mais vantajoso.
Até entendemos que Lula não quer participar de muitos debates porque quer fazer campanha de rua. Mas, em que pese a justificativa de que Lula quer vencer no primeiro turno para gastar menos evitando despesas da campanha do segundo turno, o petista não pode atropelar a democracia, a mesma democracia que ele quer recuperar.
E aí é que entrar o mundo do sonho e fantasia. Um Brasil de contos de fadas, com o vilão Jair Bolsonaro a ser combatido pela alegria identitária dos lulistas, com Lula prometendo um governo mais à esquerda mesmo tendo aliados mais à direita. Só uma visão religiosa, focada em milagres, para acreditar neste disparate.
O Brasil está arrasado, sim. Mas muitos dos que permitiram que Jair Bolsonaro arrasasse o Brasil estão com Lula. Banqueiros e empresários lançaram, no mesmo dia da entrevista de Lula, o Manifesto pela Democracia, que contou também com o apoio de várias personalidades progressistas.
Eu acho exagerado todo esse movimento "pela democracia", embora admita ser real o projeto autoritário de Jair Bolsonaro. Isso porque isso mais parece artifício para justificar alianças tão heterogêneas entre Lula e a direita moderada, lembrando que as forças conservadoras no Brasil sempre usaram a palavra "democracia" para justificar seus interesses privativos. Interesses particulares querendo se legitimar como pretensas vontades populares.
E aí vemos Lula falando coisas como "fazer o Brasil ser feliz de novo" e "fazer o brasileiro voltar a sonhar". Tudo com tons de pieguice, que refletem nas charges piegas e infantis de Daniel PXeira, um dos mais entusiastas apoiadores do petista.
Mas o Brasil não pode ir, diretamente, do pesadelo bolsonarista para o paraíso petista. O Brasil está distópico, os bolsonaristas ainda se acham fortalecidos e são mais estratégicos que os lulistas que, mesmo também se achando fortalecidos, são mais acomodados e pensam que já ganharam a parada.
Os bolsonaristas não ficam achando que ganharam. Infelizmente, eles lutam para ganhar. E ganham sujo e de forma cruel, mas buscam a vitória. Já Lula e seus seguidores acham que não precisam buscar a vitória, porque pensam que ela já está em suas mãos. Até que essa vitória lhes escape das mãos, em algum momento inesperado.
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