A campanha vitimista do "funk" não acabou. Enquanto as esquerdas médias - agora apaixonadas por Geraldo Alckmin - começam a sonhar com o Brasil fantasioso de um neoliberalismo assistencialista, o "funk", sempre que vislumbra a crise da direita política, sempre retorna com seu discurso coitadista contra o tal do "preconceito".
Depois da grosseria do Thiagsson, professor e especializado em música erudita (?!) que disse, de maneira ofensiva, que quem reprova o "funk" é "racista", temos agora um livro que apela para uma visão "sociológica" do vitimismo funqueiro.
Trata-se do livro O funk na batida - Baile, rua e parlamento, do sociólogo Daniel Cymrot, da Editora Sesc, que vai sempre na mesma choradeira de sempre, glamourizando o "funk" através da rejeição social de sempre, inclusive forçando a barra com uma associação tendenciosa à pobreza popular e à negritude.
O livro repete os clichês discursivos de sempre, com o objetivo de manter a imagem "rebelde" do "funk", que nunca foi mais do que um ritmo comercial sem muito valor cultural. É como um pop dançante da Europa, dos EUA (a reacionária Miami), nada que possa ser considerado uma música de protesto ou um movimento de vanguarda.
O "funk", aliás, sempre foi retaguarda, um "Frankenstein" musical ("funkenstein"?) fruto de um repertório culturalista conservador, trazido pela mídia corporativa desde a ditadura militar. Não dá para fazer carteirada da pobreza ou da negritude ou dizer que o "funk" é machista "por causa da sociedade", como se os funqueiros não fossem culpados nem responsáveis por defender valores retrógrados.
O problema é que, como todo fenômeno da bregalização cultural, o "funk" é glorificado por uma classe média burguesa e pretensamente intelectualizada, que domina as redações de jornais, os colegiados acadêmicos, as rodas dos bares, as áreas de lazer de casas e condomínios, que se acha "dona da verdade", julga o povo pobre conforme suas avaliações livrescas, e pensa que pode entender os desejos e anseios dos pobres.
O "funk" foi um subproduto da Rede Globo, embora seu culturalismo tenha absorvido valores trazidos por Sílvio Santos, antes mesmo do SBT, e por veículos midiáticos emergentes no período ditatorial. Não é, portanto, um Quilombo de Palmares musical, pois o "funk" nunca foi mais do que uma falsa Senzala montada para o deleite compassivo e paternalista da Casa Grande.
O "funk" fala tanto que é "discriminado", mas o ritmo discrimina os músicos, sempre se valendo pela precarização musical, linguística e comportamental que há muito ofenderam o legado do funk autêntico, abandonado sem escrúpulo algum. O verdadeiro funk, de James Brown e companhia, se vale de uma intensa estrutura instrumental, bons vocais, boas melodias e até orquestras!
Mas é no folk que oferece subsítios para a grande questão em torno do "funk" brasileiro. No seu tempo, o cantor e compositor Woody Guthrie, certa vez, definiu seu violão como "máquina de matar fascistas". Sim, um instrumento musical.
E cadê o violão, cadê os instrumentos musicais no "funk" brasileiro? Onde estão os bons vocais, as boas melodias, os arranjos? Existe um bom baterista do "batidão"? Existe um arranjador? Não. O que há é a função hierarquizada do DJ, o "cérebro", e o MC, o "porta-voz", transformando o "protesto da periferia" em uma reles mercadoria para consumo.
O "funk" se autoproclama tanto como "canção de protesto", como "uma das forças de oposição" a Jair Bolsonaro, mas se esquece da "máquina de matar fascistas", enquanto seus intérpretes preferem usar o microfone e o rebolado como apelos baratos de expressão, sem o protesto contundente que tanto alegam ter, pois seu maior objetivo é apenas criar um circo identitarista que nem de longe ameaça os interesses das ricas elites, que, por sinal, adoram essa domesticação da pobreza através deste ritmo sonoro.
Com base no pobrismo, a ideologia de gourmetização da pobreza e da glorificação da inferioridade social do povo pobre - "exaltado" desde que se mantenha na sua condição simbólica de miséria social - e que transforma as favelas em safáris humanos e paisagens de consumo turístico, o "funk" insiste no seu vitimismo choroso e desesperado, impondo esta narrativa forçando a comoção popular em torno de seus ídolos mercadológicos.
Isso é mero artifício para prolongar o sucesso do "funk" e permitir que a grana das leis de incentivo à cultura caia nos bolsos dos funqueiros - apesar deles contarem com amplo apoio da iniciativa privada, a partir de ONGs ligadas ao Departamento de Estado dos EUA - , agora repetindo o apoio a Lula sob um novo contexto, quando até a Faria Lima está adorando o petista, agora domesticado pelas elites bilionárias representadas pelo candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin.
Não devemos levar a sério isso. O livro de Daniel Cymrot é mais um a prolongar o discurso coitadista do "funk", um mero aparato acadêmico e "racional" para alimentar o sucesso comercial de um ritmo sem valor cultural algum, mas que precisa da "carteirada" da pobreza e da negritude para forçar o apoio de uma opinião pública intelectualmente frágil e dotada de muito sentimentalismo piegas e subserviente. Daí a campanha do "funk" e seu pobrismo dotado de muita hipocrisia.
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