O grande problema do nosso Brasil, sob o governo de Luís Inácio Lula da Silva, é esse clima do "tudo ao mesmo tempo agora", sem que a gente saiba se a reconstrução do Brasil já ocorreu ou ainda vai ocorrer. Muito confusos em seu pensamento binário e seu raciocínio algorítmico, os lulistas não entendem a complexidade de nossa realidade, que vai muito além do maniqueísmo fácil entre Lula e Bolsonaro.
Temos uma polarização política que Lula agora renega, pois ele hoje defende um "Brasil único". Só que esse Brasil mostra uma desigualdade pior do que antes, pois nesse "país único", uns são "mais únicos" do que outros. A concentração de renda apenas muda de mãos, para uma elite emancipada formada das camadas relativamente baixas da pirâmide social, cuja "riqueza" foi fabricada por favorecimentos como sorteios, concursos, promoções e até o chamado Q.I., o "quem indica".
Temos, portanto, uma bova elite de "emancipados" que, na essência, não difere muito da burguesia tradicional. Até porque a elite do bom atraso consiste numa burguesia convertida em um contexto politicamente correto, quando os netos dos antigos golpistas de 1964 e do final de 1968 aprenderam, com o desbunde tropicalista, a ser "esquerda festiva" e colocar o hedonismo no lugar da justiça social.
E aí temos quatro componentes da massa lulista: as esquerdas aburguesadas que romperam com seu passado trabalhista, as esquerdas identitárias herdeiras diretas do desbunde, os pobres remediados e, em boa parte, novos ricos, e a direita moderada supostamente adaptada aos "tempos democráticos" de hoje.
É um clube de gente bem de vida, que, no seu protagonismo artificialmente conquistado pelas brechas jurídicas do Supremo Tribunal Federal (STF), resolveu desejar demais para si. Já não é mais uma elite que se acha apenas "dona do Brasil", mas uma elite que quer dominar o mundo, esnobando tanto o existencialismo distópico europeu quanto os fundamentalismos rebeldes afro-asiáticos (aqui se inclui o Oriente Médio).
Daí um momento mais complicado do que se imagina. Temos uma elite megalomaníaca que se acha protagonista do futuro da humanidade. A serviço dela, um presidente que abriu mão de sua origem esquerdista para, mediante concessões ao neoliberalismo, se pavonear para o mundo e abrir as portas para a nova burguesia bronzeada que quer mostrar sua falta de valor na humanidade.
Com a Operação Lava Jato e os golpismos posteriores tendo causado estragos diversos, Lula está desnorteado. Querendo colocar o carro na frente dos bois, o presidente brasileiro não vê prioridades, querendo botar o espetáculo acima da gestão. Cria artifícios de governabilidade, com canetadas, cerimônias, encenações e discursos. Tudo para permitir que Lula faça turismo no exterior, dando a crer que a tal "reconstrução" se concluiu.
E isso cria tanta expectativa que o realismo é deixado de lado em nome da histeria lulista coletiva. As esquerdas prometeram o resgate do verdadeiro jornalismo e o que vemos é o contrário: a mídia progressista, mesmo com profissionais competentes, trocando a informação pela tietagem, num contexto em que, na Bahia, o principal entrevistador de Lula é um canastrão radiofônico, Mario Kertész que, como prefeito da capital baiana, realizou um vergonhoso esquema de corrupção que construiu sua fortuna pessoal.
Foi antiético o esnobismo dos lulistas quando uma jornalista entrevistou o presidente perguntando o que ele achou do protesto bolsonarista na Avenida Paulista. As vaias e chacotas destoavam do aparente teor democrático prometido prlos lulistas, e também vai contra o espírito do verdadeiro jornalismo, pelo jeito uma promessa em vão diante da necessidade de combater as fake news do período bolsonarista.
O Brasil está numa situação confusa, complicada, com a polarização política entre lulistas e bolsonaristas cujo cabo-de-guerra exclui muita gente nos dois polos de verdadeiros excluídos, sejam os intelectualizados com visão crítica e realista do mundo, sejam os proletários de chão de fábrica, sejam os artistas genuínos, sejam as pessoas em situação de rua. Todos vendo Lula e Bolsonaro brigando pela posse dos excluídos que eles excluem sem escrúpulos.
Lula não reconstruiu, ainda, o Brasil, e quer reconstruir primeiro os outros países: a Ucrânia, a Venezuela, a Etiópia, e construir a nação Palestina. Lula quer fazer demais pelo mundo, fingindo que faz muito para o Brasil, e querendo demais, realizará menos. Hoje, tudo o que Lula faz é histórico. Mas, daqui a cem anos, Lula só será um esquecido nome a denominar praças, avenidas, ruas, bairros, viadutos e escolas públicas. O legado do atual mandato de Lula mostrará seu falso brilho e sua vergonhosa mediocridade assim que passar o trem do tempo. Quem quer demais, perde tudo, no caso de Lula o seu lugar na História.
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