Em discurso realizado em comemoração aos 44 anos do Partido dos Trabalhadores (PT), fundado em 10 de fevereiro de 1980, o presidente Luís Inácio Lula da Silva descreveu o histórico do partido, o empenho de sua militância em ajudar a acabar com a ditadura militar e recuperar a democracia.
Entendemos a relevância que o PT teve em sua trajetória e na perseverança de Lula de, após ser derrotado em três eleições presidenciais, ter conquistado o primeiro mandato, em 2002, exercido entre 2003 e 2006, e reeleito para o seguinte, exercido entre 2007 e 2010. Foram dois mandatos bons, com progressos até expressivos, embora longe do tão prometido "governo da mudança".
Mas hoje a coisa decaiu. Por mais que muitos fiquem felizes com figuras com o vice-presidente Geraldo Alckmin - tucano que atua como "estagiário de socialismo" - e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, eles não têm a elegância e a sobriedade que tiveram José Alencar e Marisa Letícia Lula da Silva. O próprio Lula também regrediu, mais preocupado em promover sua imagem e fazer um espetáculo do que governar.
E aí a própria narrativa do PT, de início, omitiu Marisa, que teria "inaugurado" o partido ao costurar, sobre um pano branco, a estrela do partido. Foi na mensagem publicada no X, antigo Twitter. A repercussão negativa da omissão da falecida esposa de Lula fez o perfil do presidente nas redes sociais voltar atrás, não sem antes haver a reação do filho Luís Cláudio Lula da Silva: "Têm acontecido coisas estranhas aqui. A memória da minha mãe ninguém apaga".
Lula, agora convertido numa mascote da burguesia brasileira, e, como um pelego, trai seus princípios sem mostrar autocrítica nem dar satisfações à população - ele até agora não conseguiu esclarecer sobre as acusações de corrupção, oferecendo munição para os opositores - , apenas repete seu discurso em clichês que faziam sentido antes, mas desde 2021 não fazem mais.
Por exemplo, Lula pede para o PT voltar às raízes, coisa que é impossível. O próprio Lula, hoje, é um neoliberal que, em fins de 2020, eliminou o último resto do que havia do antigo líder sindical e que, agora, reduz seu projeto político a medidas econômicas conservadoras e algum assistencialismo social. Seu atual mandato está mais para um cruzamento de FHC com José Sarney, por sinal dois "amigos de infância" do Lula em modo 3.0.
O PT tornou-se quase um MDB mais filantrópico. O antigo esquerdismo de Lula se reduz a artifícios, retóricas e medidas de fachada, que não recuperam a essência das antigas políticas progressistas, mesmo as mais moderadas que fizeram o primeiro mandato de Lula ser uma versão light do que seria o projeto político de João Goulart se não tivesse ocorrido o golpe de Primeiro de Abril de 1964.
Além disso, Lula pedindo para o povo brasileiro militar em favor do governo é como falar no deserto. É impossível que haja, atualmente, as mobilizações das classes trabalhadoras. O proletariado está desacreditado pela "sociedade civil" que predomina nas redes sociais. Os sindicatos estão enfraquecidos, abatidos pelo governo Michel Temer e imobilizados por Jair Bolsonaro, e a única medida anunciada para "fortalecer" as lutas sindicais foi um estranho acordo, focado no peleguismo, entre Lula e o presidente dos EUA, Joe Biden.
O único meio dos apoiadores atuais de Lula fazer manifestações é pela festa identitária, pelas micaretas, pelo clima carnavalesco da "alegria do povo brasileiro". Música popularesca, suor e cerveja. Sem clima de indignação, no lugar apenas o humor irreverente, a chacota, a fantasia, a folia. Nada da velha militância dos proletários, por sinal rompidos com Lula, desiludidos com as atitudes pelegas do petista.
É vergonhoso que Lula, com frases de efeito, apelasse para coisas que não se vê na prática. Ele quer a antiga militância de volta, mas não há contexto para isso, e Lula anda muito impopular entre os pobres, como eu posso observar em tudo quanto é lugar no Brasil.
Lula quer criticar o identitarismo político, mas são justamente os identitários que mais se identificam com o atual presidente, que tenta impressionar falando em não querer líderes políticos que sejam escolhidos pela função identitária, mas pelo "poder de liderança". Pura demagogia de um presidente que tenta recuperar a essência do que já foi e não existe mais.
O "pobre" que aparece na propaganda lulista e que é o foco de apoio ao presidente é o pobre "limpinho", "perfumado", "obediente" e "alegre", que vê sua novela ou partida de futebol na TV e pode fazer festas na laje com muita cerveja e picanha todo fim de semana.
Mas o pobre de verdade, fora dos padrões de estética, higiene e outros "bons modos", ele está excluído da festa lulista (desenhada já nos mandatos anteriores pela campanha de intelectuais pró-brega e sua dita "campanha contra o preconceito") e foi abandonado pelo governo, pois o presidente prefere ser mais um showman do que um gestor, deixando os problemas mais complicados para trás.
Até quem "milita" em favor de Lula nas redes sociais está mais para uma elite confortável, de classe média abastada, e que "milita" mediante as "mesadas" generosas do "Papai Noel do Palácio do Planalto", mais afeito à propaganda pessoal do que à melhoria do Brasil.
Ano que vem, serão 45 anos do número 13. Partido dos Tucanos?
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