Pular para o conteúdo principal

LULA NÃO CONSEGUE SAIR DO PALANQUE


Diz a sabedoria que quem muito faz, fala menos, porque não precisa ficar falando o tempo todo. Já quem fala muito vive uma neurose de dizer que é "necessário agir", mas fala tanto nessa necessidade que as ações não são feitas, só são faladas, pedidas, reclamadas. O falastrão fala demais, até para dizer que está agindo muito, mas só faz falar.

Lula faz muito pouco pelo país. Deixou de ser o presidente progressista, embora sempre moderadíssimo, dos dois mandatos anteriores. Hoje Lula é o marketing de si mesmo, suas medidas são mais espetaculosas do que benéficas, pois os benefícios são poucos. Como presidente, Lula está mais próximo a um mash up entre José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. E está mais próximo de um showman do que de um governante ou gestor.

Tudo o que Lula faz é propaganda. Discursos, cerimônias, e artifícios que vão da blindagem das redes sociais, da ficção dos dados estatísticos e de jornalistas solidários brincando de ser historiadores, num país em que comediante brinca de ser jornalista para roubar emprego de jornalista de verdade. Tudo isso faz do atual mandato de Lula um governo de faz-de-conta, não pela falta de ações, mas pelo fato delas serem meramente paliativas e de baixos resultados para o país.

Depois do espalhafatoso espetáculo da visita à fábrica da Volkswagen, em que o pelego-presidente, contrariando a sobriedade necessária e obrigatória a um país em reconstrução, falou bobagens sobre qual o carro ideal para namorar, vemos Lula discursando e discursando demais, como se o balé das palavras fosse suficiente para fazer andar um país.

Desta fez, foi no Rio de Janeiro, em que Lula, recorrendo ao artifício da combinação entre cerimônia e canetada, assinou um investimento para a instalação do Instituto Federal do Rio de Janeiro, com recursos de R$ 15 milhões. Medida correta, mas nada revolucionária. Mas que rendeu discursos e o oportunismo de Lula de se apropriar do legado de Leonel Brizola (lembrando que, se vivo estivesse, o político gaúcho seria um dos maiores críticos do presidente hoje em dia).

Lula veio com um discurso politicamente correto e previsível, em evento que contou com a presença do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, agora ícone da "esquerda fofinha" junto a Tábata Amaral e André Janones (este enrolado com acusações de "rachadinha", a mesma que assombou os filhos de Bolsonaro). 

O "novo esquerdista do pedaço" Eduardo Paes, junto ao político niteroiense Rodrigo Neves, faz parte do clube dos "Kubitschek de botequim", que muito falam de desenvolvimento e quase nunca agem. Cadê a rodovia de ligação entre Rio do Ouro e Várzea das Moças em Niterói?

Vamos ao que Lula disse, no evento realizado no Complexo do Alemão:

"Eu queria pedir uma edição especial para a capa do jornal O Globo, do jornal O Dia, do Extra: hoje, dia 7 de fevereiro, não foi um delegado ou um capitão da polícia que veio anunciar a quantidade de mortes no Complexo do Alemão. Hoje, o governo federal e o governo municipal vieram aqui dizer: dia 7 de fevereiro, quem veio ao Complexo do Alemão foi a educação, para salvar essa gente. Eu estou até ditando a manchete para os jornais. Dia 7 de fevereiro foi o dia da educação no Complexo do Alemão".

Queremos ver menos cerimônias, menos discursos, menos canetadas, menos ficções estatísticas das supostas pesquisas de opinião pública. Infelizmente Lula só quer saber da promoção pessoal, pouco importando se é em prol ou não dos brasileiros. O ano de 2023, de viagens desnecessárias, quando era mais do que necessário o Brasil ter passado por um hiato para uma reconstrução de verdade, mostrou o quanto Lula despreza os brasileiros e vive preso na sua bolha particular, sob a companhia dos aliados e de seu fã-clube deslumbrado.

Lula não consegue sair do palanque. Enquanto ele discursa, fala, promove encenação, com atores fazendo papéis de "pobres" nas cerimônias, os preços dos alimentos não caem de maneira expressiva e, recentemente, os preços dos combustíveis aumentaram. O emprego aumentou as vagas, mas a mentalidade caquética de nossos empregadores, que impõem critérios etaristas se esquecendo que eles também serão velhos, continua não empregando os trabalhadores certos.

Tudo é um espetáculo, uma encenação, que a gente teme que esse sonho da "democracia consolidada" possa ruir de vez. E tudo indica que vai. Afinal, não se consolida um processo com arrogância, vaidade, alegria excessiva e "invertidas" nas redes sociais. 

Se tudo se torna uma maquiagem publicitária, superestimando ações simplesmente amenas, não há instituições que protejam o Brasil de um novo golpe, que pode cooptar os que estão excluídos na festa identitária do lulismo que finge criticar os identitários, como naquele discurso em que Lula cobrou "verdadeiros líderes" que não usem o identitarismo como critério de escolha.

A situação do Brasil está complicada, pois mal acabamos de viver o pesadelo lavajatista, temeroso e bolsonarista. Não se migra desse pesadelo para o sonho dourado do lulismo de contos-de-fadas. Pelo contrário, muitos dos piores pesadelos que temos enquanto dormimos começam como sonhos bons. E quando vemos que a elite do bom atraso é que toma as rédeas desse "Brasil único", a coisa se mostra bastante arriscada, com tanta gente "não tão única assim" sendo excluída e vulnerável à cooptação golpista.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...