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BURGUESIA "DEMOCRÁTICA" AJUDOU A "AUMENTAR" O BOLSONARISMO


As investigações em torno do golpe de Oito de Janeiro, em 2023, que recentemente contaram com as revelações do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, indicam que houve um plano de atentado contra o presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Os inquéritos foram estimulados por uma explosão que ocorreu em Brasília, dias atrás, matando o próprio autor, Francisco Wanderley Luiz, o Tiu França.

O golpe de Oito de Janeiro ofuscou o golpe político de 2016 e fez com que as narrativas mudassem ao sabor das conveniências. Dos mentores do golpe, apenas Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Eduardo Cunha e Aécio Neves permanecem identificados como tais, enquanto a direita moderada que derrubou Dilma Rousseff teve a esperteza suficiente em fugir do barco em naufrágio e posar de "democrática".

Jair Bolsonaro não foi mentor do golpe político de 2016. Como numa produção cinematográfica, ele foi apenas um destacado ator a interpretar um roteiro escrito por outra pessoa, num filme dirigido por outro indivíduo e produzido por um dado grupo de pessoas. Bolsonaro foi apenas um intérprete, cujo papel foi superestimado e "aumentado", para o bem e para o mal, pela burguesia que hoje finge que não fez o golpe de oito anos atrás.

Se Jair Bolsonaro tornou-se, em vários aspectos, uma figura ameaçadora para o Brasil, é porque ele foi "aumentado" pela burguesia que hoje se faz de "civilizada". Bolsonaro era um político inexpressivo, medíocre e estúpido - seu comportamento demonstrava essa estupidez - , e em condições naturais dificilmente teria chance de ser eleito presidente da República.

As narrativas oficiais do golpe político contra Dilma Rousseff nunca tiveram a transparência necessária dos fatos. Como no golpe de 1964 contra João Goulart, o episódio foi antecedido por um falso movimento libertário de esquerda. 

Se em 1964 tivemos a revolta comandada pelo militar Cabo Anselmo, depois revelado agente da CIA, em 2016 tivemos o "baile funk" de Copacabana, comandado pelo Rômulo Costa, e o protesto contra a Rede Globo, comandado por Bruno Ramos, da Liga do Funk. Rômulo e Bruno foram os "Cabo Anselmo" da vez, e, depois de consumada a queda de Dilma, os dois apareceram ao lado dos respectivos artífices do golpe, Rômulo fazendo parceria com um bolsonarista e Bruno apoiando na surdina sua Liga do Funk se ostentando num programa da Rede Globo.

Ninguém admite essa realidade, e eu coloquei essas informações pesquisando os fatos, desafiando o negacionismo factual que só aceita as informações oficiosas de certas ocorrências, tornando a realidade escrava dos interesses pessoais de grupos estratégicos.

Os retrocessos de Michel Temer, subestimados por Lula, dão o tom da narrativa que passou-se a fazer do golpe político de 2016, com o dado errôneo de atribuir a Bolsonaro a autoria desse ato. Jair foi apenas um intérprete, mas foi erroneamente creditado como o roteirista maior da derrubada do governo Dilma, poupando os verdadeiros mentores, que "sobreviveram" no contexto da "democracia" lulista.

Se o tucanato clássico estava querendo derrubar Dilma e viu em Eduardo Cunha, Sérgio Moro e companhia uns reacionários úteis, hoje o mesmo tucanato, ainda que permaneça com o vínculo formal do PSDB, sinalizou ter deixado a sigla partidária para o controle da "ultradireita dente-de-leite", como se o partido tucano fosse um jardim de infância para os bolsonaristas.

A burguesia que derrubou Dilma quis porque quis eleger Bolsonaro em 2018, só para "experimentar". Talvez se isso tivesse sido evitado e Lula não tivesse sido preso, era possível que o hoje presidente do Brasil estivesse mais próximo das causas progressistas, diferente do governante que hoje compactua com o neoliberalismo que critica da boca para fora.

Hoje o que temos é uma polarização na qual Lula torna-se o fator principal, e a disputa do antipetismo e do lulismo torna-se a competição entre o pesadelo e o sonho, enquanto a realidade é marginalizada e jogada para o escanteio.

É um Fla x Flu político, no qual Lula, agora dominando as narrativas oficiais, tenta se parecer "invisível" no radar da polarização, como se só ele pudesse ser a "democracia". Lula combater a polarização é como se, num jogo entre Corinthians e Palmeiras no Campeonato Paulista, fosse chamado um árbitro corintiano para apitar a partida.

A burguesia criou um "monstro" em Jair Bolsonaro e Lula se "enlouqueceu" na prisão, saindo dela sem saber a diferença entre reconstrução do Brasil e carnaval político. Lula foi ler as biografias de grandes personalidades e, sonhando em ser um item nobre nas enciclopédias, foi priorizar a política externa, sem dar o devido apreço à verdadeira necessidade de reconstruir o país.

Com isso, o golpe de Oito de Janeiro mostrou que esse Fla x Flu político continua de pé, de um lado com o protagonismo artificial dos lulistas, que pegaram emprestado dos neoliberais os espaços de ação política e sociocultural. De outro, porém, temos o bolsonarismo que nunca se sentiu intimidado com a volta de Lula ao poder, e que por isso faz ameaças diversas.

O sonho lulista e o pesadelo bolsonarista tentam disputar a supremacia no Brasil. É a luta do coração contra o fígado, enquanto a realidade e o cérebro são alvos de um desprezo ao mesmo tempo arrogante e perverso, na medida em que a velha ordem social que, um dia, já derrubou João Goulart e foi premiada com o "milagre brasileiro", e agora finge ser "democrática" ou de "centro-esquerda".

Dessa forma, os golpes de 1964 e 2016 se distanciam do imaginário mainstream do Brasil, no esforço de poupar seus personagens e inseri-los como penetras na festa das esquerdas médias. Com isso a velha burguesia golpista se esforçou em "aumentar" o bolsonarismo e criar um cenário político, entre 2018 e 2022, que pudesse depois ser isolado, enquanto os velhos algozes de Jango e Dilma agora posem de "amigos de infância" do presidente Lula.

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