Sabe-se que soa divertido, em muitos ambientes de trabalho, conversar sobre futebol, interagir até com o patrão, combinando um encontro em algum restaurante de rua ou algum bar bastante badalado para assistir a um dito "clássico" do futebol brasileiro durante a tarde de domingo. Sabe-se que isso agrega socialmente, distrai a população e o futebol se torna um assunto para se falar para quem vive de falta de assunto.
Mas vamos combinar que o futebol, apesar desse clima de alegria, é um dos símbolos de paixões tóxicas que contaminam o Brasil, e cujo fanatismo supera até mesmo o fanatismo que já existe e se torna violento em países como Argentina, Inglaterra, França e Itália. Mesmo o Uruguai, que não costuma ter essa fama, contou com a "contribuição" violenta dos torcedores do Peñarol, que no Rio de Janeiro causaram confusão, vandalismo e saques, assustando os moradores.
A toxicidade do futebol é tamanha que o esporte é uma verdadeira usina de super-ricos, com dirigentes esportivos se enriquecendo abusivamente, jogadores de futebol vivendo a opulência dos magnatas, e empresários e bilionários estrangeiros virando sócios de clubes brasileiros. E tem gente achando que os donos dos times de futebol são o povo brasileiro. Pode isso, Arnaldo?
O esporte que, no Rio de Janeiro, entra na pauta do assédio moral - no Grande Rio, quem não torce por futebol corre o risco de sofrer cancelamento social e entra até na fila de demissões no mercado de trabalho, o que mostra a decadência do Estado cuja capital já foi chamada de Cidade Maravilhosa - , mostra o quanto o nosso país é profundamente decadente, pois sabemos que, nesse espetáculo todo, há alguém que NUNCA sai beneficiado com essa festividade toda.
Esse alguém é, justamente, o torcedor.
Isso mesmo. O torcedor que vibra pelo seu time de futebol, que se desespera nas tardes de domingo, sacrificando um dia de descanso para se afligir por onze jogadores de sua preferência, preocupado com a vitória de um time que não trará vantagem financeira nem alegria real para a pessoa.
E consideramos isso quando é comum vários idiotas dizerem que o futebol é "a única alegria do povo brasileiro", como se fosse impossível encontrar outras formas, mais saudáveis e mais proveitosas, de se alegrar na vida (nada a ver com as mensagens obscurantistas do medieval "médium da peruca" que defendia que os oprimidos deveriam permanecer na desgraça para "alcançar mais rápido as bênçãos eternas").
Algumas coisas devem ser consideradas sobre essa grande inutilidade que é o fanatismo pelo futebol, que faz muitos brasileiros perderem uma grande e preciosa oportunidade de utilizarem o domingo para descansarem e renovarem as energias para uma nova semana de trabalho:
1) NENHUM TORCEDOR LUCRA COM A TORCIDA - Pelo contrário, descontando as apostas em loterias ou em fenômenos como as bets digitais, e mesmo assim com chance incerta de lucros e mais probabilidade de prejuízos, ninguém ganha dinheiro torcendo pela vitória de um time. Pelo contrário, as pessoas pagam ingressos caros para ir aos estádios e mesmo as audiências dos meios de comunicação servem para "monetizar" em favor dos dirigentes esportivos, dos executivos da mídia e dos patrocinadores envolvidos com as transmissões de futebol;
2) PAIXÃO NÃO CORRESPONDIDA - Os torcedores chegam mesmo a sentir apreço pelos jogadores que se tornam artilheiros e fazem as vitórias de seus times. É certo que não é um amor verdadeiro, pois é condicionado pelo que o jogador faz de agrado ao torcedor, ou seja, garantir gols e pontuações. Mas, mesmo assim, nem um sentimento próximo da afeição, alimentado pelo showrnalismo esportivo do Globo Esporte e afins, comove os jogadores, porque, se para um torcedor um artilheiro de futebol é um semi-deus, para um artilheiro um torcedor é um ninguém na multidão;
3) AFLIÇÕES À TOA - Perder um domingo ou, em muitos casos, os sábados e as noites de dias úteis, vésperas de dias de trabalho, para se preocupar com onze homens desconhecidos, pelos quais se depende a felicidade tóxica de muitos brasileiros, é algo lamentável. A pessoa de repente está com tudo dando certo na vida, e, só porque seu timinho perdeu uma partida importante, ela sofre tensões e mal-estar? Ninguém merece isso!
4) TROUXAS ENRIQUECENDO RICOS - É completamente inútil, por exemplo, os brasileiros criticarem o enriquecimento ilícito de políticos ou de empresários tidos como "vilões de ocasião" pelas coberturas da grande mídia empresarial. Afinal, quem é fanático pelo futebol contribui para o enriquecimento não somente abusivo, mas muito pior do que a dos "magnatas" do espetáculo midiático. Donos das indústrias de cerveja, executivos de mídia, dirigentes esportivos e craques de futebol se enriquecem às custas do fanatismo de uns pobres coitados e estes aceitam jogar seus dinheiros fora.
Sim, não há proveito algum ser fanático pelo futebol. O torcedor é a última pessoa a ser beneficiada por esse espetáculo da alegria tóxica. É certo que tem muita gente que continua alegre, saudável e generosa mesmo com essa diversão obsessiva, mas por outro lado a paixão tóxica gera a violência de torcidas, o coronelismo midiático e político e o mercado ilegal das apostas.
Portanto, a adoração ao futebol, para mim, é bola fora. E tenho muita coisa a fazer no domingo, sobretudo arrumar um tempo para descansar.
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