As esquerdas médias ridicularizaram a declaração do veterano corredor de Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, pelo simples fato dele ter sido bolsonarista e não ter utilizado bem a sua fortuna, se atolando em dívidas financeiras.
Mas, em que pese esses senões, realmente lamentáveis, temos que dar razão a ele quando ele lamentou a escolha do piloto britânico Lewis Hamilton para pilotar o MP4/5B da McLaren que o falecido competidor utilizou na ocasião do bicampeonato de 1990.
Emerson sugeriu que um brasileiro, como Felipe Massa ou Rubens Barrichello ou mesmo o próprio Fittipaldi - paciência, o hoje falido piloto foi uma figura histórica da Fórmula 1 - , pilotasse o veículo, como uma homenagem aos 30 anos do legado deixado por Senna, morto em 01 de maio de 1994.
Já o jornalista esportivo Juca Kfouri ridicularizou o comentário de Fittipaldi, escrevendo o seguinte:
"Com estimada dívida de 50 milhões de reais, apesar de manter sorridente vida de milionário, sua preocupação deveria ser em pagar os credores em vez de manifestar opinião xenófoba contra alguém que só faz elevar o nome de Senna. Em matéria de ética dispensamos suas opiniões".
Emerson recebeu a solidariedade de Rubens Barrichello, que também manifestou o apoio à ideia de um piloto brasileiro assumir o volante para homenagear sena. Creio não ser questão de xenofobia, mas de um consolo pelo fato de não termos mais um campeão brasileiro de Fórmula 1.
Aparentemente, a sobrinha de Ayrton, Bianca Senna, aprovou a escolha de Lewis Hamilton, também pela "valorização" da memória do piloto. Pode soar compreensível, uma vez que Hamilton é o único que consegue atuar como grande campeão da Fórmula 1, carente de grandes competidores brasileiros.
Em que pese o caráter politicamente correto de "combater a xenofobia", nota-se que o apoio das esquerdas médias segue uma perspectiva que se encaixaria melhor no imaginário do PSDB dos tempos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Nota-se que as esquerdas médias aderiram a uma espécie de viralatismo chique que as fez abrirem mão de seus princípios fundamentais.
Afinal, para quem acha que favelado só pode ouvir "funk" e trap enquanto os sambas originais foram sequestrados pela burguesia ilustrada, faz sentido usar o "combate à xenofobia" em causa própria, num contexto em que PT e Faria Lima, por mais que finjam criar tretas entre si, vivem numa apaixonada e permanente lua-de-mel.
Nada pessoal tenho contra o piloto inglês. Mas, de certa forma, fica muito estranho Lewis Hamilton levantar a bandeira brasileira. Lembra muito quanto empresas estrangeiras instalam filiais no Brasil, com propagandas na TV ostentando a bandeira brasileira, expressando um pretenso "patriotismo de fora" que, da parte dos estrangeiros, é muito raro de ocorrer. Não é qualquer Noam Chomsky ou um Paul Simon que surgem aos montes manifestando profundo respeito e identificação com o nosso país.
Só falta defenderem que Beyoncé Knowles cantasse o Hino Nacional Brasileiro, se bem que a escolha infeliz do canastrão musical Daniel, comprometido com o pastiche à brasileira do Tex-Mex, fosse constrangedora. Maria Rita Mariano, a filha de Elis Regina, teria sido escolha melhor para cantar nosso hino, e seria mais emocionante e digna homenagem.
Enquanto isso, nossas esquerdas médias bradam, hipócritas, "Viva o SUS" enquanto frequentam hospitais e clínicas da rede privada, não raro indo para hospitais no exterior, principalmente EUA. Abandonaram os trabalhadores e resolveram ir para as festas do grand monde, para citar um termo do falecido prematuro, Cazuza.
São essas esquerdas que estufam o peito falando em nome dos palestinos, o que não é errado em si, mas é um equívoco diante do desprezo que os próprios esquerdistas têm diante dos muitos favelados e moradores de rua mortos diariamente pela fome e pela violência, desprezo mascarado pela falsa solidariedade, tardiamente expressa após a tragédia ocorrida e manifesta apenas visando a lacração nas redes sociais.
Nossas esquerdas decepcionam e causam indignação quando, em vez de defender nossos valores nacionais, se contentam em defender e priorizar um estrangeiro na homenagem a um piloto brasileiro, justamente as esquerdas que, quando podem, disfarçam seus flertes com a burguesia empresarial nacional, entreguista e vira-lata, com o apoio hipócrita ao patrimônio estatal brasileiro que, na prática, é desprezado e deixado às moscas.
Dizer que Lewis Hamilton foi a escolha correta para homenagear Senna e agitar a bandeira brasileira, preterindo pilotos nacionais, é o mesmo que dar preferência à Shell e não à Petrobras sob a desculpa de que a Shell "enaltece" o patrimônio natural do Brasil. Que esquerda é essa, minha gente? Assim não dá para levar a sério Lula querer botar o Brasil para protagonizar e liderar o mundo!
Essas esquerdas aburguesadas, acompanhando os namoros pelegos do presidente Lula com o rico empresariado, hoje passam pano na "turma da Privataria", agora aliada dos lulistas na "democracia de um homem só", sempre usando como pretexto o combate a um tipo de fascismo que, até agora, soou como um fenômeno político irresponsável, nefasto, porém mais circense e patético do que violento. Um fascismo que, vamos combinar, nunca ameaçou em um só segundo e um só centavo a "nata" dos atuais apoiadores de Lula e seu "democrático" patrimônio financeiro abusivo e supérfluo.
Nos bacanais da burguesia, dá para perceber o quanto nossas esquerdas, sob a desculpa de "combater a xenofobia", olham mais para fora do que para dentro, como se achassem que o mundo se ajoelharia para os esquerdistas que se ajoelham para os gringos. Daí Lula estar mais preocupado com a Ucrânia e com o Estado Palestino do que com a reconstrução do Brasil, processo que, até agora, só teve festa e quase nenhuma reconstrução.
Desse modo, vamos combinar a desistência de votarmos na reeleição de Lula, e deixarmos nosso Brasil sob umas duas décadas governado pela direita moderada, para aprendermos a respeito do episódio da "homenagem" de Lewis Hamilton.
Quem sabe, assim, nosso país, presidido por um Tarcísio de Freitas da vida, faça os lulistas se encherem de orgulho com Kamala Harris balançando a bandeira brasileira, com nossas esquerdas médias felizes com seu viralatismo chique das falsas festas da laje nos condomínios de luxo das grandes capitais.
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