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O PERIGO DE JAIR BOLSONARO "DOMINAR" AS PAUTAS DA MÍDIA DE ESQUERDA


O Brasil, com certeza, não vai atingir o Primeiro Mundo. Deixa quieto e vamos digerir a decadência trazida pela velha ordem social que, dominando nosso país, é causadora direta e indireta das convulsões sociais que causam tantas violências e misérias.

O culturalismo brega-popularesco, que cresceu sob a retórica chorosa do "combate ao preconceito", gerou ídolos musicais mais burgueses do que a antiga Bossa Nova acusada de aristocrática. O obscurantismo religioso travestido de "espiritualismo futurista" força o retorno a uma fé medieval, mesmo sob o aparato de multidões vestidas de pijaminhas brancos caminhando pelo bosque.

Tudo isso criou as condições para o golpe político de 2016, um episódio causado "sem querer" pelo culturalismo brega-popularesco, embora aparentemente tenha surgido a partir dos protestos estudantis contra os aumentos das passagens de ônibus e 2013, o "isqueiro" das "jornadas de junho".

Isso porque, em que pese as tais "jornadas", contribuiu muito para o golpismo contra Dilma Rousseff as gracinhas da intelectualidade "bacana" que, levando ao extremo a defesa da bregalização, inspirou professores a chamarem Valesca Popozuda e Márcio Victor - cantor e "tocador de sirene" (?!) do grupo baiano Psirico - de "grandes pensadores". As piadinhas inseridas em questões de prova inspiraram a reação de nomes como Rodrigo Constantino e Olavo de Carvalho, que embarcaram na revolta contra a imbecilização da cultura popular.

E aí vimos a linha do tempo do golpe de 2016. Houve mentores, como os políticos veteranos do PSDB e do atual MDB, e os criadores do golpe, como Aécio Neves, Eduardo Cunha, Janaína Pascoal, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e Kim Kataguiri. Houve uma série de intérpretes de um roteiro alheio, dos quais se destacou Jair Bolsonaro, que, do contrário que muitos tentam afirmar, não foi o autor do "roteiro" golpista de oito anos atrás. Foi apenas um ator destacado do processo.

Ao longo do tempo, tentou-se sutilmente mudar as narrativas e, hoje, se subestima o legado do governo Michel Temer, que em certo aspecto foi até pior do que o de Bolsonaro, no sentido de que o temeroso governante preparou o terreno para seu sucessor. Lembremos que Bolsonaro foi apenas o garçom que ofereceu aos brasileiros o cardápio preparado por Temer.

E aí vemos o bolsonarismo ofuscando o temerismo de tal forma que o presidente Lula não teve, até agora, a mínima coragem de romper com os legados de Temer. Nota-se que Lula se silencia e se omite em criticar o vice traidor de Dilma Rousseff, tanto que, nos bastidores da política, nota-se que Lula e Dilma estão tão brigados quanto Joey e Johnny Ramone foram nos Ramones e Paul Stanley e Gene Simmons estão no Kiss. Dilma não gostou de ver Lula passando pano naqueles que a derrubaram.

Jair Bolsonaro não é a expressão máxima do mal, mas uma cria dele. É uma figura nefasta, nociva, corrupta, porém é medíocre demais para ser considerada a fonte dos malefícios de toda a História do Brasil. 

A supervalorização da figura de Bolsonaro pelas esquerdas médias faz com que até o plano de atentado contra Lula fosse algo que partisse diretamente do "capitão". Na verdade, a logística do atentado foi feita por outros parceiros do ex-presidente, como Braga Neto, Mauro Cid e Augusto Heleno. O atentado seria executado antes da diplomação de Lula e seu vice, Geraldo Alckmin.

Bolsonaro, neste caso, até foi um dos planejadores do atentado, mas ironiza as acusações de golpismo. "Ninguém dá golpe de Estado num domingo, com bíblias, em Brasília", disse o ex-presidente, que continua não se sentindo intimidado pelo atual contexto político.

Hoje vemos o lulismo se pautando a partir do bolsonarismo, como uma antítese a ele. Mas, mesmo sendo antítese, é perigoso ver os adeptos de Lula se moldando no bolsonarismo para se tornar oposição a ele. Oposição, mas considerando Bolsonaro como uma "fonte", como uma "inspiração".

Até mesmo a "sociedade do amor", termo usado para se contrapor ao "gabinete do ódio", demonstrou ser muito menos amorosa como sugere o nome, sendo uma sociedade identitarista tão odiosa quanto seus antagonistas. Uma sociedade que representa o woke à brasileira. O caráter raivoso das feministas identitárias é um claro exemplo dessa sociedade "sem medo e sem amor".

Por isso, as esquerdas médias erram muito num contexto em que as alianças políticas com o tucanato clássico - agora mascarado pela etiqueta da "democracia" - , o mesmo que planejou o golpe de 2016, com o lulismo tornam o Brasil ainda mais confuso e desastrado. 

O protagonismo artificial das esquerdas a partir de brechas do STF mostra o quanto as forças progressistas estão enfraquecidas, abrindo mão de um projeto real para o Brasil, pois preferem se envaidecer da ilusão de achar que os esquerdistas reconquistaram plenamente os espaços sociopolíticos perdidos. Na verdade, não conquistaram, só pegaram emprestado das brechas do Judiciário, tal qual se pega emprestada uma ferramenta do vizinho para fazer obra em uma casa.

O bolsonarismo foi "aumentado" pela burguesia "democrática", antes solidária ao reacionarismo pós-2013, e cada vez mais a imagem de "meu malvado favorito" que Jair Bolsonaro exerce nas esquerdas médias pode ser um tiro pela culatra, na medida em que se ignora o fato de que Bolsonaro não é o líder do golpismo de 2016, mas um dos operadores.

O risco que existe neste cartaz que a mídia de esquerda dá a Bolsonaro é o de fortalecê-lo, o que pode fazer com que a extrema-direita, através de seus derivados como a ultradireita (espécie de "fascismo" moderado) e a "direita alternativa" (fascistas caraterizados pelo aparato de "rebeldia" e "arrojo"), pode recuperar os espaços políticos que lhes foram parcialmente tirados das mãos em 2022.

O risco é do "furacão Trump" atingir o Brasil a partir dos próximos dois anos. O que será ruim para o país.

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