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EXPLICANDO O PELEGUISMO DE LULA


O erro mais grotesco de nossas esquerdas é compactuar com a chamada burguesia nacional, e hoje a coisa foi longe demais. Hoje "democracia" é apenas um pretexto para as esquerdas médias do Brasil se lambuzarem na promiscuidade sociopolítica com a direita neoliberal, incluindo o PSDB "clássico" que, discretamente, se dissocia informalmente do partido, hoje um clube de ultradireitistas dente-de-leite.

Lula tornou-se uma vergonhosa e constrangedora decepção política, em seu atual mandato. Já podemos dizer que seu terceiro governo tornou-se um grande fracasso, por mais que seus seguidores insistam em narrativas produzidas em quantidades industriais para defender o presidente, narrativas bastante confusas que tentam alegar que "Lula mudou, mas continua o mesmo de sempre".

A realidade é que Lula mudou, e foi para pior. Um político acovardado, incapaz de dar explicações, fazer autocrítica ou dar qualquer tipo de satisfação. Ele personifica a figura do "pelego", expressão hoje deixada de lado pelo mesmo culturalismo que força a perenidade da cafoníssima gíria "balada", a única gíria que, pelo menos em toda a História do Brasil, é dotada de esquema de marketing e departamento comercial próprios.

"Pelego" é uma expressão do vocabulário do proletariado, difundida nos movimentos sindicais, e que se refere a um representante das classes trabalhadoras que sacrifica as reivindicações de sua classe para oferecer concessões aos patrões, em troca de vantagens. "Pelego" é um termo que se origina num tipo de assento que os vaqueiros usam para montar em cavalos, oferecendo maior conforto e segurança.

Um exemplo do peleguismo é quando um líder sindical, designado para reivindicar benefícios trabalhistas, como um aumento salarial em porcentagem mais expressiva, incluindo garantia de encargos e reposição de perdas salariais, retorna das negociações com baixa conquista dessas reivindicações, geralmente voltando com a garantia de um aumento salarial baixo, sem garantia de encargos e descartando a reposição das perdas salariais.

A "resignação" do sindicalista disfarça os interesses ocultos, que podem incluir presentes que os patrões dão ao líder sindical que aceitar a precária oferta dos baixos reajustes salariais. O líder sindical "dá de ombros" e tenta fazer os "companheiros" acreditarem que ele "fez o que pôde" e "não conseguiu avançar" nos acordos com o empresariado.

No plano presidencial, Lula atua como um grande pelego que as narrativas oficiais se recusam a difundir, num cenário de negacionismo factual - um subproduto "democrático" da indústria de fake news nas redes sociais - , pois há uma intenção em manter uma reputação positiva do presidente, agora que o petista passou a ser um queridinho da burguesia ilustrada brasileira.

Mas Lula tornou-se um pelego justamente por isso: perdeu o que restava do político progressista que se desfez do seu patrimônio ideológico trabalhista aos poucos, ao longo dos 46 anos em que ele contou com a ajuda de Fernando Henrique Cardoso para atuar na vida política.

Hoje o atual mandato de Lula é apenas uma pálida sombra dos dois mandatos anteriores, nos quais o petista até demonstrou serviço. Se antes Lula procurava realizar alguma coisa positiva para o povo brasileiro, hoje seu governo é uma maquiagem, trazida pelos chamados "simulacros de realização", compostos de opiniões, relatórios, cerimônias, promessas e a blindagem nas redes sociais.

Nos bastidores, porém, vemos Lula ameaçando tanto as classes trabalhadoras quanto Fernando Collor ameaçou há mais de 30 anos: cortes de gastos públicos, o não atendimento das reivindicações de professores e servidores do ensino público, proposta pelo fim da estabilidade dos servidores públicos em geral, exclusão da carne e outros itens alimentícios da cesta básica, abandono dos camponeses que são entregues à tragédia de sempre.

Lula também se aliou ao presidente dos EUA, Joe Biden, para promover uma armação que os lulistas deixaram passar, que foi um projeto de "fortalecimento dos movimentos sindicais" dos dois países, uma lorota com forte cheiro de peleguismo, vide a liderança do Imperialismo estadunidense, tão conhecido pelas esquerdas-raiz, mas de vez enquanto recebendo umas carinhosas passagens de pano nas esquerdas médias (as esquerdas mainstream, que dominam as narrativas na mídia esquerdista).

Já bastou o constrangedor apoio, há cerca de dez anos, das esquerdas médias ao Jornalismo nas Américas, embuste da suposta "imprensa livre" comandado por um instituto sediado no Texas - Estado conservador dos EUA, espécie de Goiás estadunidense - , o Knight Center, apoiado pelo ABRAJI, entidade de "jornalismo investigativo" que não passa de um clube de empregados-colegas dos barões da mídia brasileira.

Vemos Lula atuando de maneira velada, sem a "sinceridade" que só serve como verso para seu jingle muito conhecido. O presidente chegou ao ponto de "ressignificar" práticas contrárias às causas trabalhistas e à transparência política, usando palavras eufemistas. Privatização virou "concessão" e "compra de votos" virou "verbas para emendas parlamentares".

Daí que, fora das bolhas das redes sociais, não é difícil ver que são justamente as classes trabalhadoras que estão revoltadas com Lula. Eu vejo isso nas várias cidades onde frequentei ou vivi, e as críticas são muito duras. Trabalhadores se sentindo abandonados e traídos por Lula. O último Primeiro de Maio e as eleições para prefeituras deste ano serviram de recado. 

É uma realidade que se prova com fatos concretos, mas que o negacionismo factual da "classe democrática" não quer ver divulgada na Internet, pois as narrativas dominantes ainda apostam na ilusão de que é "impossível" Lula decepcionar as classes trabalhadoras, pois, supostamente, o presidente brasileiro tem nelas a sua maior prioridade.

Mas é verdade. Os trabalhadores se sentem traídos e abandonados por Lula e eles são os primeiros a se revoltarem só ao verem o presidente falando na televisão. É evidente que a campanha antipetista da mídia venal, alimentada depois pelo lavajatismo de Sérgio Moro, ajudou bastante nessa indignação, mas hoje o peleguismo de Lula faz essa revolta ultrapassar os limites do bolsolavajatismo.

Paciência. Lula não é uma pessoa acima da mentira ou da verdade, acima do bem e do mal. E o presidente, que prometeu "não errar" no seu atual mandato, está errando tanto que, hoje, ele já vê como incerto seu futuro presidencial. Embora afirmasse estar confiante na sua reeleição, Lula sente, no íntimo de sua alma, que o "Efeito Trump" possa dar fim à carreira do petista, pois, se Lula for derrotado em 2026, a tendência é que ele se aposente da vida política.

Vemos Lula negociando com a direita moderada, promovendo uma "democracia" que só atende a uma burguesia ilustrada, que se julga a "única classe legal da humanidade planetária". Uma burguesia mal disfarçada em trajes informais, se achando no direito de "falar em nome do povo", realiza o desejo de seus avós golpistas de 1964 em ser "dona do Brasil", com a pretensão de substituir o povo brasileiro, eliminando as forças sociais "incômodas" ao longo dos tempos, com "iniciativas" que incluíram o DOI-CODI e a Covid-19, passando pelos feminicídios e pela violência contra camponeses e indígenas.

Por isso, quando Lula, agora um pelego político, fala em um "Brasil único", devemos desconfiar: adaptando a frase do livro A Revolução dos Bichos (Animal Farm), de George Orwell, de que "todos somos iguais, mas uns são 'mais iguais' do que os outros", podemos dizer que, no Brasil, "todos somos único, mas uns são 'mais únicos' do que os outros".

PT Saudações.

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