Pular para o conteúdo principal

GERAÇÃO "NASCIDA NOS 50" SE EMPOLGOU COM MEIA-IDADE E AGIA COMO SE TIVESSE 80


Ser cinquentão - ou, nos tempos de hoje, entrar na casa dos 60 anos - é uma forma infantil de ser idoso. Chegando os cabelos brancos e as rugas, além de uns tantos anos de experiência profissional e filhos chegando aos 25, 30 anos, eles se empolgaram demais com os 55 e tentaram agir como se fossem idosos.

A geração de homens influentes nascida na primeira metade da década de 1950 se empolgou demais com a entrada na velhice que tentaram antecipá-la mentalmente, principalmente se apropriando de referenciais que eles não viveram ou dos quais eram muito pequenos para terem vivenciado plenamente.

Daí surgem atitudes estranhas de homens nascidos entre 1951 e 1955 falando de reuniões da geração de intelectuais da época - Nelson Rodrigues, Sérgio Porto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade e Carlinhos de Oliveira - como se tivessem sentado ao lado desses intelectuais nos botequins de Ipanema.

Como isso pode acontecer? Paciência! Esses homens "maduros" de hoje não tinham sequer dez anos de idade quando essas reuniões aconteciam, sobretudo por volta de 1957 e 1959. Nessa época, se eles vivenciaram alguma coisa nos anos 50, se refere a Rim Tim Tim, Roy Rogers e os palhaços Carequinha e Arrelia.

As festas do Copacabana Palace e a depois tragicamente destruída boate Vogue, as samba sessions do Beco das Garrafas, as renovações editoriais da revista Senhor e do caderno B do Jornal do Brasil eram coisas que suas mentes infantis não compreendiam.

O único contato que um homem desses, meninote na época, poderia ter com um exemplar da revista Senhor era rabiscando as páginas de um exemplar adquirido por seu pai em alguma banca da cidade.

Mesmo a Copa de 1958 era vista mais pelos olhinhos infantis de torcedor iniciante do que de alguém com mais experiência em ver partidas de futebol, numa época em que o fanatismo esportivo talvez não perturbasse o sono das vizinhanças exaustas, como no vexaminoso caso do jogo Flamengo X Coritiba nas residências do Grande Rio, na noite do último dia 03.

QUARENTÕES DOS ANOS 70 ERAM MODELOS

Sessentões de primeira viagem que, de uma forma elegantemente tola, evocavam clichês do adulto chique como visitar vinícolas na França, viajar para conhecer o centro antigo de Roma, ir a festas de gala, dançar velhos standards em bailes granfinos etc mostram os valores que essa geração passou a ostentar quando completou 50 anos de idade.

O modelo deles eram os homens grisalhos vestindo smoking ou termo e gravata que essa geração, que estava entre o final da adolescência e o início da puberdade no começo da década de 1970 - suponhamos, entre 17 e 22 anos em 1972 - , se inspirou através de revistas e seriados estrangeiros de TV.

Naquela época o homem de 47 anos era um quase vovô. Grisalho, sisudo, de semblante ao mesmo tempo carregado e cansado, que defendia a elegância a qualquer custo, era escravo das regras de etiqueta e a única coisa que queria no lazer era não ser perturbado.

Isso é muito diferente dos dias de hoje, em que até um Dinho Ouro Preto é cinquentão, pulando de um lado para outro com o som juvenil do Capital Inicial. E ver hoje cinquentões andando de skate, surfando, passeando de bermudões e tênis, caindo na gargalhada e indo ao Lollapalooza, era algo que em 1972 era típico de gente com menos de 30 anos de idade.

Quem nasceu na década de 1950 se esqueceu que, na sua infância, a revolução do rock'n'roll, em 1954, já desafiava o mundo adulto na época. Mas, no contexto brasileiro, nascer em 1953 ou 1954 era ser muito bebê para entender isso, numa geração que foi nova demais para entender a Contracultura de 1965-1968 e "madura" para entender a revolta punk e pós-punk de 1976-1979.

Para piorar, lá pela casa dos 20 anos essa geração preferiu conviver com os mais velhos. Contrariando seus contemporâneos que, no contexto brasileiro, curtiam tardiamente a Contracultura (havia hippies no Brasil quando lá fora já havia pós-punk, em 1981) e viviam a realidade juvenil, os mais "comportadinhos" conviviam com patrões e professores universitários uns 20 ou 25 anos mais velhos.

Aí essa fatia sisuda dos "nascidos nos 50" viveu a onda yuppie achando o maior barato passear pela rua de terno e gravata, para compensar a sobrecarga profissional que tinham na condição de empresários, médicos, advogados, economistas, publicitários etc.

Por isso, quando chegaram aos 50, 55 anos, lá por volta de 2004 em diante, eles se empolgaram demais e tomaram para si referenciais de vivência que tinham mais a ver com o tempo de seus pais, patrões e professores universitários.

Aí fica estranho um homem nascido em 1954 falar de Glenn Miller como se fosse seu tio. Ou de falar de pintura impressionista do século XIX, de velhos standards da canção estadunidense dos anos 1930-1940 como se fosse a música de seu tempo e de citar grandes literatos dos anos 1940 e 1950 como se tivessem sido autores de cabeceira nas suas infâncias (!).

A geração de 1950, que inventou os anos 80 - desde músicos como Devo e Clash até ativistas culturais brasileiros como Luiz Antônio Mello e Marcelo Rubens Paiva, entre outros - , não tem por regra ser especializada em anos 1940 ou mesmo 1950.

Uma empresa ou consultório médico não garantem, em si, que alguém nascido em 1953 ou 1954 tire de letra o que aconteceu na década anterior. A experiência em palestras médicas, livros sobre empreendedorismo ou até na direção de elenco de emissoras de TV não garante aos "senhores" nascidos nessa época a descoberta dos mais caros segredos anteriores à alvorada de 1950.

E isso sobretudo quando eles se casam com moças 10, 15 ou 20 anos mais novas, para as quais os anos 80 eram tempos de seus momentos mais felizes e que eram marcados de referências bastante joviais e modernas. Que sentido seus maridos têm de desprezarem tais referenciais enquanto desesperadamente eles tentam reinventar os anos 1930 e 1940 que mal conseguem entender?

Por isso, pedimos a esses "senhores": relaxem. Os anos 40 eram a década da "bomba", é preciso manusear com cuidado. Só mesmo pessoas especializadas - poucos conseguem entender com precisão os tempos anteriores de sua geração - para entender o passado com humildade.

Para os "senhores" da geração "nascida em 1950", trancada em escritórios, consultórios e salas de universidades enquanto seus contemporâneos "foram se permitir" - vide "Tempos Modernos" de um Lulu Santos nascido em 1953 - , um conselho: tentem compreender os anos 80 que se esqueceram de viver, em vez de buscar o glamour inexistente da "década da bomba".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...