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QUE NOVA MÚSICA BRASILEIRA QUEREM AS NOVAS GERAÇÕES?


A julgar pelo que a imprensa especializada e os intelectuais badalados querem, independente de serem coisas canhestras ou não, a dita "nova" música brasileira, seja de qualidade boazinha ou ruim e pior, não parece ser tão brasileira quanto se parece.

As gerações recentes de brasileiros pecam porque tiveram uma educação sócio-cultural ditada pelo poder midiático e pelo mercado. Mesmo entrando nas universidades, eles não parecem comprometidos com a ruptura com o establishment do entretenimento, antes preferindo se comprometer com isso e fingir que a "cultura de massa" é algo revolucionário e vibrante.

Eles não querem raciocinar, acham que o "mau gosto" é uma causa "libertária" e confundem consumismo e cidadania. Nem sabem direito o que criticam quando ensaiam algum questionamento em relação ao mercado do espetáculo, às sub-celebridades e a problemas como o machismo e a exclusão social.

Observo nessas gerações uma multidão confusa, da qual poucos conseguem se salvar. Filhos da overdose de informação que acumularam desde os anos 90, eles sonegam a consciência do passado e a necessidade de aprimoramento cultural. Acham que a imbecilização e a idiotização culturais de hoje são apenas reflexo de uma genialidade mal-orientada, o que é um equívoco.

Ninguém que seja genial começa se expressando como alguém medíocre. Hoje ninguém valoriza seu compromisso com a cultura, é muito fácil criar qualquer bobagem, fazer sucesso e sentir orgulho com ela, e depois jogar tudo para o alto e dizer que foi "mal orientado" e queria fazer algo diferente.

Isso vai desde o brega-popularesco até a chamada EMoPB de pessoas que parecem achar que fazer música é ter uma ideia na mão e um sâmpler na cabeça. Gente que até vê muita MTV, VH-1, lê muita Rolling Stone e está por dentro das novidades da Billboard, mas parecem perdidos em suas propostas artísticas.

Certo. Há gente que fala que existe um cenário rico e vibrante de música brasileira. Mas, pela maior parte do que se mostra como "genial" e "inovador", o que se observa são apenas releituras alucinadas de diversas informações pop dos últimos 25 anos. E que vale apenas na apresentação de informações, mesmo assim feita de forma não tão inovadora assim.

Há até gente que acredita, ainda, no poder revolucionário de uma guitarra elétrica. Ou gente que acha que vestir roupas transadas e adotar uma postura arrojada bastam. Há quem misture guitarra de reggae com baixo de soul e bateria eletrônica e, só porque canta em português, acha que fez uma revolução na música brasileira.

Fizeram o maior barulho quando eram lançados à fama nomes como Criolo e Emicida. Hoje eles estão entrosados no establishment caetânico, para decepção de quem achava que eles eram a antítese da acomodação da velha MPB.

Mas se tem gente deslumbrada até com nomes como MC Guimê, o ícone do "funk ostentação" que no fundo não passa de uma imitação cafona do Eminem, Os esquerdistas médios achavam que ele iria trazer a Revolução Socialista para o Brasil, até Guimê apunhalá-los pelas costas e virar capa, feliz da vida, na ultrarreacionária Veja.

Por outro lado, existem nomes inofensivos como Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, verdadeiros cordeirinhos da cartilha pop. Mas se temos até bandas carneirinhas no rock cara-de-mau que rola nas 89 FM da vida, a música brasileira em geral parece um rebanho grande demais para nele apostar qualquer "reforma agrária" nessa estrutura extremamente coronelista.

O grande problema desses novos artistas ou pseudo-artistas - independente da má ou da (relativamente) boa qualidade dos novos nomes musicais do Brasil - é que eles querem implantar na música brasileira todas as "novidades" do pop estadunidense. Leia-se "novidades" aquilo que eles assimilaram há 15 ou 20 anos e que só agora conseguiram entender o que se trata.

Será que teremos daqui a cinco anos o tal twerking de Miley Cyrus introduzido por alguma bacaninha pós-moderna da música popcreta brasileira? E os "gênios musicais" brasileiros serão sempre cantores e cantoras que atiram para todos os lados mas fazem um som mais inofensivo?

Será que vamos reduzir a música brasileira ao engodo que é o pop pós-moderno de países italianos e hispânicos, em que os artistas ficam perdidos se inserem um violoncelo ou um sâmpler, ou jogam um solo de guitarra distorcida aqui e ali. Gente que capricha nas tatuagens, nas caras de maus, nas roupas misturadas, que usa muito Internet, patati, patatá.

O problema é que, com toda essa obsessão em parecer "urbano" e "universal", dentro de um contexto de um Brasil ainda provinciano, esse pessoal sempre soará confuso demais para representar alguma renovação que tire a Música Popular Brasileira de sua mesmice.

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