DAVID BOWIE, QUE FALECEU ONTEM, EM FOTO DE 1964.
Como escrever um texto conciso sobre David Bowie? A morte dele foi um baque, uma má surpresa, quando imaginávamos que ele iria retomar a carreira, estava lançando um novo disco e ainda havia feito aniversário de 69 anos.
Foi tudo muito repentino. Mas revelou-se que Bowie estava se tratando de um câncer há mais de um ano, e seu último clipe, da música "Lazarus", sugere, tanto vídeo quanto canção, que Bowie iria nos deixar. Mesmo assim, foi terrível.
Fico comparando David Bowie a José Wilker. Via tanto no cantor e compositor inglês quanto no ator brasileiro falecido em 2014 um semblante de meninos, eles pareciam brilhar nos olhares uma jovialidade surpreendente e um espírito de atualidade e modernidade que os faziam pensar em mais 20 ou 30 anos de atividade, que se perderam definitivamente em suas mentes.
Numa época de mediocrização cultural em crescimento galopante, quando canastrões dos anos 90 já começam a serem considerados "gênios" apenas porque venderam muitos discos e permaneceram entre os mais tocados nas rádios, a perda de Bowie é algo para se apavorar.
Afinal, Bowie era um artista como poucos. Ele sempre queria se reinventar. Ele estava pronto para a próxima década, Seu penúltimo álbum, The Next Day, tinha uma capa que tirava um zarro com o disco Heroes, de 1977, um misto de brincadeira e reflexão que Bowie fazia com seu passado.
Sobre a capa e contracapa do antigo disco, foi inserido um quadrado com o nome do então novo disco e sua sequência, e Bowie fazia uma revisão de sua carreira, uma reflexão entre o passado, presente e futuro.
Bowie era referencial de vanguarda desde os anos 1970, quando ele lançou The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, em 1972, em que Bowie usava o personagem Ziggy Stardust, que ele "incorporava" nos palcos, para fazer críticas às pressões do show business. Num contexto bem diferente, ele fazia as críticas ao mercado da fama com "Fame", de 1976, que tem o ex-beatle John Lennon como co-autor e guitarrista.
O auge de David Bowie foi nos três discos que ele gravou quando ele morou na Alemanha e fez amizade até com músicos do Kraftwerk - foi Bowie que sugeriu a maquiagem usada pelos músicos alemães no álbum Man Machine, de 1978, e o nome do inglês era citado, junto a Iggy Pop (mais tarde co-autor de "China Girl"), na música "Trans-Europe Express" - , referenciais para a música vanguardista.
Os álbuns da "trilogia alemã" Low e Heroes, de 1977, e Lodger, de 1979 - entre os dois últimos, Bowie lançou um disco ao vivo, Stage, de 1978 - , que destacavam pelas participações de Brian Eno (ex-Roxy Music) e Adrian Belew (futuro King Crimson), tinham referências musicais que formataram o espírito do rock alternativo dos anos 80, influenciando decisivamente o pós-punk.
Mesmo nos surtos pop, como "Young Americans" e "Modern Love", Bowie sempre manteve na linha. Se ele não voltou a fazer discos como a trilogia alemã, sempre se manteve na qualidade musical e na atualidade artística, sempre buscando se atualizar, se reinventar.
Daí que a perda de Bowie foi devastadora. Perdemos um dos grandes nomes do rock contemporâneo, um nome dos anos 60 que parecia bastante atual e até futurista. Mas Bowie agora é coisa do passado, e resta agora a divulgação póstuma do novo disco, e a esperança de se aproveitar as sementes que ele deixou para as renovações artísticas de outrem.
Agradecemos a David Bowie pela contribuição que ele deu para a música mundial e pelo seu exemplo de artista, tanto músico como ator, e pelas lições de integridade e invenção que deixou para a história do rock, este que está cada vez perdido no corporativismo e na mediocridade.
Como escrever um texto conciso sobre David Bowie? A morte dele foi um baque, uma má surpresa, quando imaginávamos que ele iria retomar a carreira, estava lançando um novo disco e ainda havia feito aniversário de 69 anos.
Foi tudo muito repentino. Mas revelou-se que Bowie estava se tratando de um câncer há mais de um ano, e seu último clipe, da música "Lazarus", sugere, tanto vídeo quanto canção, que Bowie iria nos deixar. Mesmo assim, foi terrível.
Fico comparando David Bowie a José Wilker. Via tanto no cantor e compositor inglês quanto no ator brasileiro falecido em 2014 um semblante de meninos, eles pareciam brilhar nos olhares uma jovialidade surpreendente e um espírito de atualidade e modernidade que os faziam pensar em mais 20 ou 30 anos de atividade, que se perderam definitivamente em suas mentes.
Numa época de mediocrização cultural em crescimento galopante, quando canastrões dos anos 90 já começam a serem considerados "gênios" apenas porque venderam muitos discos e permaneceram entre os mais tocados nas rádios, a perda de Bowie é algo para se apavorar.
Afinal, Bowie era um artista como poucos. Ele sempre queria se reinventar. Ele estava pronto para a próxima década, Seu penúltimo álbum, The Next Day, tinha uma capa que tirava um zarro com o disco Heroes, de 1977, um misto de brincadeira e reflexão que Bowie fazia com seu passado.
Sobre a capa e contracapa do antigo disco, foi inserido um quadrado com o nome do então novo disco e sua sequência, e Bowie fazia uma revisão de sua carreira, uma reflexão entre o passado, presente e futuro.
Bowie era referencial de vanguarda desde os anos 1970, quando ele lançou The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, em 1972, em que Bowie usava o personagem Ziggy Stardust, que ele "incorporava" nos palcos, para fazer críticas às pressões do show business. Num contexto bem diferente, ele fazia as críticas ao mercado da fama com "Fame", de 1976, que tem o ex-beatle John Lennon como co-autor e guitarrista.
O auge de David Bowie foi nos três discos que ele gravou quando ele morou na Alemanha e fez amizade até com músicos do Kraftwerk - foi Bowie que sugeriu a maquiagem usada pelos músicos alemães no álbum Man Machine, de 1978, e o nome do inglês era citado, junto a Iggy Pop (mais tarde co-autor de "China Girl"), na música "Trans-Europe Express" - , referenciais para a música vanguardista.
Os álbuns da "trilogia alemã" Low e Heroes, de 1977, e Lodger, de 1979 - entre os dois últimos, Bowie lançou um disco ao vivo, Stage, de 1978 - , que destacavam pelas participações de Brian Eno (ex-Roxy Music) e Adrian Belew (futuro King Crimson), tinham referências musicais que formataram o espírito do rock alternativo dos anos 80, influenciando decisivamente o pós-punk.
Mesmo nos surtos pop, como "Young Americans" e "Modern Love", Bowie sempre manteve na linha. Se ele não voltou a fazer discos como a trilogia alemã, sempre se manteve na qualidade musical e na atualidade artística, sempre buscando se atualizar, se reinventar.
Daí que a perda de Bowie foi devastadora. Perdemos um dos grandes nomes do rock contemporâneo, um nome dos anos 60 que parecia bastante atual e até futurista. Mas Bowie agora é coisa do passado, e resta agora a divulgação póstuma do novo disco, e a esperança de se aproveitar as sementes que ele deixou para as renovações artísticas de outrem.
Agradecemos a David Bowie pela contribuição que ele deu para a música mundial e pelo seu exemplo de artista, tanto músico como ator, e pelas lições de integridade e invenção que deixou para a história do rock, este que está cada vez perdido no corporativismo e na mediocridade.
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