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CULTURA E FUTILIDADE

O CARA QUE ENTREVISTOU JENNIFER LAWRENCE É TIDO COMO "CERTO" POR FICAR BRINCANDO COM O WHATSAPP.

Alguns aspectos da crise cultural, não só no Brasil, mas também nos EUA, mostram que a situação não é tão simples de ser analisada e, por isso, não há como montar maniqueísmos com facilidade e imediatismo.

Um episódio lembrado pela atriz Anne Hathaway, quando defendeu a colega Jennifer Lawrence quando foi acusada de "grosseira" ao repreender um jornalista que só ficava olhando para o telefone celular, ilustra o quanto a futilidade não está em quem se imagina estar.

Pois Jennifer Lawrence, por ser ao mesmo tempo jovem e em ascensão, faz parte daquele "seleto" grupo que a imprensa adora atacar, dos quais se inclui também Ashton Kutcher e, na música, fizeram a fama de Supertramp, Duran Duran e, sobretudo o Electric Light Orchestra. Ou mesmo Bryan Adams, cantor pop mas honesto e despretensioso, que paga pelos pecados cometidos por Bon Jovi.

O entretenimento é assim, controlado por uma minoria de jornalistas que se acham "donos da verdade", e que no exterior até são um pouco mais contidos, se comparados com os brasileiros, que praticamente se acham "donos" do gosto musical dos mais antenados, sempre apostando na fórmula "descolada" de impor o culto a "um Mutantes e dois Odair".

Mas os gringos fizeram das suas, se vingando do inglês Everett True, que furou a fila da imprensa estadunidense ao cobrir em primeira mão o rock de Seattle da safra 1989-1990 e os críticos ianques, como revanche, transfomaram o cenário em um hype, tanto para fazer esquecer o pioneirismo de Everett quanto de dar a impressão de que foi a mídia de Tio Sam que "descobriu Seattle".

E aí, vemos no que deu. Os músicos grunge não aguentaram a pressão, Kurt Cobain e Layne Staley morreram por causa dela e grupos como Soundgarden e Pearl Jam não escondiam o estresse do estrelato precipitado. Os caras só queriam fazer um som, ainda estavam começando quando foram transformados em "ídolos mundiais" da noite para o dia.

No Brasil, temos a intelectualidade "bacana", de jornalistas, cineastas e acadêmicos, que mistura vanguarda com breguice e se acha a "elite pensante mais legal do mundo". Eles tentam empurrar idiotas musicais que acham que com um gravador na mão, trajes alucinados e díspares e repertório qualquer nota, vão salvar, senão o planeta, pelo menos a Música Popular Brasileira.

E aí temos nossos jornalistas que crucificam Chico Buarque pelo único pecado que ele cometeu: ter nascido numa família importante. Ele, que nunca pensou em substituir o samba dos morros com sua obra, era acusado de "elitizar" a MPB pela mesma intelectualidade "mais legal do Brasil" que acha ótimo um funqueiro comprar uma BMW importada.

São intelectuais que falam de "coisas bem legais", da maravilha que é ver desempregados virando camelôs (ignorando que eles têm que fugir o tempo todo da fiscalização policial), de como é bom ser prostituta (desprezando as surras que elas recebem de cafetões gananciosos) e de como é fascinante ver grupos de "forró eletrônico" fazerem sucesso (sem considerar a exploração que músicos de apoio recebem e da dispota voraz de qual conjunto irá gravar uma composição encomendada).

Esses intelectuais são âncoras de um mercado perverso, hipócrita e explorador, no qual empresários do entretenimento, tidos como "tão pobrezinhos", comandam toda a supremacia da cafonice e de tudo que foi feito sob o rótulo de "popular" na grande mídia, estabelecendo uma "ponte" entre latifundiários e barões da mídia e os ídolos "populares demais" que se vê nas rádios e TVs.

É esse mercado que acaba corroborando a ojeriza da mídia com certas personalidades. De vez em quando a mídia fofoqueira tenta desqualificar certos atores de televisão, para ver se o mercado desiste deles e coloca subcelebridades no lugar.

Aí inventa surtos vividos por atrizes, para desmoralizá-las e assim abrir caminho para, quem sabe, uma "mulher-fruta" ou uma "ex-BBB" (não confundir com a talentosa Grazi Massafera, que já tinha luz própria antes de participar de um BBB, a exemplo do meu ex-colega da UFBA, Jean Wyllys).

Imagine se Jennifer Lawrence fosse brasileira. Ela seria "massacrada" pela crítica. Ela pode não ser perfeita, mas vejo nela uma pessoa inteligente, talentosa, divertida e bem humorada. E vejo que, se ela fosse nascida e vivendo no Brasil, ela seria "massacrada" para dar espaço a siliconadas sem talento mas que são muito mais respeitadas pela grande mídia.

E o que está em jogo nesse contexto de cultura e futilidade em conflito? Simples. O entretenimento "popular" e seus empresários "pobrezinhos" que escondem que são também latifundiários e investem em ídolos musicais popularescos e musas siliconadas se autoproclamando "modestos produtores culturais", regulam o comportamento que a grande mídia adota para os famosos.

É um absurdo que poucos se atentem que o caráter "seletivo" que a imprensa política faz com certas figuras do cenário político-partidário também acontece no âmbito dos famosos, em que há um esforço de derrubar atrizes globais para abrir o caminho de siliconadas e de desqualificar artistas de MPB para liberar a rota para o brega-popularesco em busca de novas reservas de mercado.

Daí que "correto" é o jornalista que, ao entrevistar Jennifer Lawrence, preferiu brincar com o WhatsApp de seu celular. Ela é que é "grosseira" quando repreendeu, e olha que ela reagiu com a maior simpatia possível.

Mas como ela faz parte do "seleto grupo" dos que a grande imprensa adora derrubar, Jennifer é que fica levando a má fama, pouco importando se o "dedicado jornalista" esteja ou não vendo vídeos de rinoceronte trepando numa vaca no WhatsApp (creio que ele não estava vendo, mas se visse a "galera" acharia muito legal). Como tem gente que adora ser fútil...

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