O cartunista Carlos Latuff causou muita polêmica com uma charge relacionada a um tema delicado, a tragédia de Brumadinho.
O desenho mostra o presidente Jair Bolsonaro, com sorriso cínico e o gesto da mão esquerda imitando um revólver, enquanto recebe soldados israelenses com as mãos cheias de sangue.
Os degraus do avião também mostram sangue escorrendo.
No diálogo, Bolsonaro diz, na charge: "Bem vindos a Brumadinho!".
O militar que saúda o presidente responde, também cinicamente: "Desculpe a demora! Estávamos ocupados matando palestinos!".
Outros soldados aparecem descendo do avião fazendo o mesmo sorriso sádico.
O portal IG, através de uma matéria no sítio Último Segundo, expressou sua indignação com a charge e acusou Carlos Latuff de ser grosseiro e agredir as vítimas da tragédia de Brumadinho.
A charge, no entanto, não faz alusão às vítimas do desastre ambiental.
Carlos Latuff, conhecedor da geopolítica do Oriente Médio, denunciou em várias charges a opressão da política de Israel, através do tirânico Benjamin Netanyahu, contra o povo palestino.
Até hoje os palestinos, tidos preconceituosamente como "terroristas", não conseguem conquistar a causa da criação de um Estado palestino.
Além disso, Israel é hoje um país-cliente dos interesses estratégicos dos EUA nas riquezas do Oriente Médio.
Latuff explicou a charge no seu perfil oficial:
"Militares de #Israel foram requisitados de forma demagógica por Bolsonaro. Nossos bombeiros são capacitados para operações de resgate. Exército de Israel oprime e massacra palestinos. Querem salvar vidas no Brasil enquanto eliminam as palestinas em seu próprio quintal? Hipócritas!".
Em outra postagem, ele acrescentou:
"De acordo com a organização de direitos humanos israelense B'Tselem בצלם, militares de #Israel assassinaram 3.379 palestinos, entre 19 de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2018. E ainda tem gente pra me falar em "ajuda humanitária" vinda de militares israelenses? Canalhas!".
Claro que a controvérsia é muito delicada. A mensagem é bastante agressiva, mas é um desabafo oportuno do desenhista.
Aparentemente, ele está num impasse, porque questiona a imagem generalizada do povo palestino tido como "terrorista" e "sanguinário" pela mídia hegemônica ocidental, mas ele contesta o valor "humanitário" dos soldados de Israel convocados para atender Brumadinho.
É um assunto bastante polêmico.
No entanto, se observarmos o caso, a expedição israelense, ordenada pelo governo de Netanyahu, foi mais um ato de propaganda da parceria entre Brasil e Israel, coroada pela proposta de mudar a embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém.
Portanto, há muita diferença entre a generalização do povo palestino sob a imagem preconceituosa de "povo terrorista" e a expedição aparentemente humanitária que, todavia, é mais uma manobra para Israel e EUA exercerem influência política no Brasil.
Nada temos contra a ajuda estrangeira numa tragédia como a de Brumadinho, mas a forma com que se adota o socorro de Israel, em tarefas que brasileiros já estão preparados para exercer, soa mais como propaganda política de Bolsonaro, Netanyahu e Donald Trump.
A "missão humanitária" apenas seria um gancho para a tripla parceria das três nações governadas por chefes reacionários.
No Instagram, Latuff faz uma comparação da convocação de soldados israelenses com a retirada de médicos cubanos.
"Esse é o governo "sem ideologia" de Bolsonaro. Recusou médicos de #Cuba mas chamou militares do exército de #Israel para Brumadinho, o mesmo exército que oprime e mata na #Palestina. Querem salvar vidas aqui enquanto eliminam vidas lá? Hipócritas!".
Uma coisa se tem certeza. Latuff não fez a charge para agradar todo mundo, mas para tocar na ferida e fazer uma denúncia contundente da opressão promovida por Israel, hoje fantoche dos interesses imperialistas estadunidenses.
Os brasileiros conservadores deveriam ler um pouco mais de História para entender o recado de Latuff, antes de saírem por aí definindo a charge como "grosseira".
Comentários
Postar um comentário