Lamentável, porém necessário.
Jean Wyllys renunciou ao cargo de deputado federal, do qual foi reeleito por uma pequena vantagem, como exceção numa maioria de reacionários eleitos para o Legislativo federal.
Ele era um dos mais atuantes deputados federais do Brasil e sua experiência de oito anos foi marcada pela coragem, pela dignidade e pela honestidade.
Infelizmente, ele teve que desistir, por ser um dos dois parlamentares do PSOL ameaçados de morte por milicianos, além de Marcelo Freixo.
Os dois perderam a amiga e colega de partido, a vereadora Marielle Franco, covardemente morta junto com seu motorista Anderson Gomes.
Só agora foram presos ou identificados suspeitos do crime. E dois deles foram homenageados e tiveram familiares empregados no gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro.
Jean Wyllys sentiu o peso desse cenário medonho, e teve que zelar por sua segurança, pela sua vida, e deixou o país rumo a um paradeiro oculto.
O motivo não foi exatamente o governo Jair Bolsonaro. Ou melhor, é, em parte.
É porque Jean já sofria ameaças de morte há vários anos, por conta de seu ativismo social de diversos âmbitos, principalmente a causa LGBTT, por ser ele um homossexual.
O governo Bolsonaro, a liberação do porte de armas para cidadãos comuns e as denúncias envolvendo participação de milicianos é que foram a gota d'água.
Wyllys já reclamava que não havia proteção especial garantida por lei para sua condição de parlamentar. O PSOL tinha que arrumar proteção policial para ele.
A Organização dos Estados Americanos, através de sua Comissão Interamericana de Direitos Humanos, lamentou o fato e divulgou nota, assinada pela relatora, advogada chilena Antonia Urrejola Noguera, dizendo que o Brasil falhou na tarefa de garantir segurança ao parlamentar.
Um relato das ameaças sofridas por Jean Wyllys foi descrito no documento. A Comissão havia cobrado medidas para proteger ele e outros políticos e ativistas na mesma situação.
Jean Wyllys havia sido meu colega na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, em 1992 e 1993, e tive a oportunidade de conversar com ele.
É lamentável esse drama, mas a sua saída do Brasil é mais um ato de coragem.
Sua renúncia é, na verdade, uma denúncia da situação degradante da política brasileira, caminho aberto por covardes juristas e políticos que se engajaram no golpe político desde 2016.
Duros com políticos progressistas, os juristas ficam moles diante de políticos reacionários. Abriram caminho para o pesadelo político do governo Jair Bolsonaro, junto a outras condições lastimáveis.
Jean Wyllys será susbtituído pelo parlamentar David Miranda, marido do jornalista Glenn Greenwald, do Intercept.
A qualidade de atuação tende a continuar impecável, porque David Miranda tem competência para seguir o trabalho deixado por Wyllys com o mesmo compromisso social e a mesma coragem.
Fico por aqui desejando ao meu ex-colega Jean Wyllys muito boa sorte no seu exílio.
Pessoas dignas, infelizmente, têm que enfrentar situações assim, para salvar suas vidas e garantir para si a segurança que não se tem no Brasil.
Deixo aqui minha solidariedade ao ex-deputado e também deixo aqui minha moção em favor dos direitos humanos, causa infelizmente ignorada pelo cenário político horrendo que hoje temos.
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