Há doze anos, eu sofri na pele a intolerância dos sociopatas que prenunciaram a ação dos bolsomínions que elegeram Jair Bolsonaro.
Foi aí que eu vi o quanto era forte o reacionarismo de muitos jovens, desmentindo o aparato de modernidade e progressismo tão associado, de forma generalizada, aos jovens brasileiros.
Fui eu criticar uma gíria, "balada", que de tão midiática não era considerada gíria de pessoas inteligentes, e veio uma horda de reaças me esculhambar.
Eles entraram na minha página de recados fazendo ataques em série, primeiro fazendo comentários irônicos simulando um chat.
Depois, passaram a fazer gozações mais agressivas e ameaças.
Eram ataques em série, atos de valentonismo digital (cyberbullying) que, num processo semelhante, passou a atacar outras pessoas, de Malu Coutinho e Taís Araújo a Eduardo Guimarães e Lola Aronovich.
A gíria "balada", sabe-se, é uma gíria de jovens riquinhos frequentadores de boates da moda que, nas mãos do "consórcio" Jovem Pan e Globo, virou símbolo da "novilíngua" tupiniquim.
"Novilíngua" era o termo, usado em 1984, de George Orwell, para definir a reforma linguística tramada pelo poder ditatorial de Oceânia (país fictício e totalitário) para empobrecer o vocabulário, com "novos" termos que acumulam diversos significados.
"Balada", além de inverter o sentido da homônima e tradicional expressão (ligada a música lenta e dramas tristes), iria substituir, numa só vez, as palavras "festa", "jantar entre amigos", "excursão de DJ" e até mesmo "boemia juvenil".
Os reaças me ameaçaram até invadir minha conta, tão furiosos com uma simples gíria.
Tive que desfazer o perfil no Orkut, ficar uns meses sem frequentar o portal das redes sociais e só voltei no segundo semestre.
Esses reaças, com toda a certeza, viraram quase todos bolsomínions.
Alguns deles só eram "centro-esquerda" porque, na época (2005-2007), havia o pseudo-esquerdismo dos reacionários (que defino, para fins de ironia, de "marx-cartistas", "esquerdistas" com QI de extrema-direita).
Esse pseudo-esquerdismo foi necessário porque os reacionários queriam cooptar jovens de esquerda para a posterior oposição ao PT e associados, além de uma mobilização de extrema-direita que se tornaria mais evidente de 2016 para cá.
Creio que a comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo", do Orkut, era neutra, como o próprio Orkut, longe de ter as suspeitas de conservadorismo que se atribuem a Mark Zuckerberg, do Facebook e WhatsApp.
Mas essa comunidade, considerada a maior do Orkut, foi um dos redutos dessa horda de reacionários que a partir de 2015 sairia do círculo restrito da humilhação a anônimos para se transformarem em agressivos odiadores até de gente famosa.
Eu já pressentia a ascensão desses midiotas. Eu só não imaginaria que eles iriam conseguir eleger um presidente da República.
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