Está bem, Michel Temer completou o mandato, rindo do "Fora Temer" que não conseguiu tirá-lo do poder, e Jair Bolsonaro tornou-se presidente da República.
Agora, temos que encarar a situação com cabeça fria. Foi perdendo a cabeça que a oposição fez com que a ditadura militar decretasse o AI-5, há 50 anos.
Bolsonaro pretende eliminar o que ele entende como "doutrinação ideológica" nas escolas, que devem retomar as antigas relações hierárquicas entre professor e aluno.
Ele divulgou o novo salário mínimo, abaixo da expectativa. Em vez de R$ 1.006, R$ 998.
Na véspera da posse, ele anunciou ainda que vai decretar leis facilitando o porte de arma do cidadão comum "sem antecedentes criminais".
Isso causará uma espécie de holocausto a varejo. O Partido dos Trabalhadores já encomendou estudos para comprovar o desastre da medida e impedir sua regulamentação (ou desregulamentação, melhor dizendo, porque será o caos).
Jair Bolsonaro ainda falou da "libertação" do Brasil em relação ao "comunismo".
É uma falácia sem tamanho, porque não se tem comunismo desde 1990 e, mesmo assim, ele de fato nunca existiu no Brasil.
"Comunismo" é papo mole para as elites não quererem perder privilégios e não verem pobres crescendo na vida e conquistando novos espaços.
A situação será difícil e eu mesmo tive um Reveillon mais melancólico de minha vida.
Desde o governo Temer, não há como ser otimista neste Brasil. E, agora com Bolsonaro, bem menos.
Vamos dar uma rápida menção à cerimônia de posse.
A festa contou com bolsomínions entusiasmados, fazendo xingações aos inimigos de sempre, sobretudo o PT.
Bolsonaro não permitiu tratamento especial à imprensa, que ficou até sem lugar para sentar.
Ele também proibiu que se houvesse carrinhos de bebês, maçãs, guarda-chuvas e mochilas para evitar ataques de opositores.
O ex-capitão também usou colete à prova de balas.
A cobertura da grande mídia foi entusiasmada. Record News e Globo News disputavam o posto de quem estava mais eufórico.
Isso num contexto em que Dony DiNuccio, do Jornal Hoje, vai ocupar as lacunas deixadas por Alexandre Garcia na condição de apresentador suplente do Jornal Nacional.
Chico Pinheiro, progressista, perde espaço no rodízio dos suplentes.
Por outro lado, a repórter política da GN, Andreia Sadi, se separou do jornalista Paulo Celso Pereira, cujas núpcias tiveram Aécio Neves como padrinho, e está namorando Alê Youssef.
Alê Youssef é ligado à revista Trip, foi casado com a atriz Leandra Leal (com quem gerou uma filha), e é co-apresentador, com Ronaldo Lemos e Hermano Vianna, do Navegador da Globo News.
Fechando esses parênteses, vamos a Jair Bolsonaro.
A esposa dele ainda fez discurso com linguagem para surdos e mudos, com gestos interpretados por uma ajudante, que identificava a mensagem dos sinais.
Michelle Bolsonaro, com a elegância de sua contemporânea Marcela Temer, prometeu que atuará nos "projetos sociais" do governo.
Além do "comunismo", Bolsonaro também prometeu "libertar" o Brasil do politicamente correto, algo que acho muito desnecessário, mas está no contexto.
Se bem que, para mim, politicamente correto e politicamente incorreto são dois lados de uma mesma moeda.
A festa foi como um fogo de palha. Assim como em 28 de outubro, quando a festa dos bolsonaristas fez muito barulho mas durou pouco, o mesmo ocorreu no horário da posse, pelo menos em Niterói.
Isso porque Bolsonaro tenta simbolizar um novo entusiasmo, a grande mídia tenta animar a plateia, os outrora hidrófobos jornalistas agora são umas flores de pessoas, e tentam inserir esperança e otimismo nas veias dos brasileiros.
A adesão de Djavan, no final do ano passado, até deu um tom lilás no bolsonarismo.
E mulheres bonitas como Regina Duarte, Luíza Tomé, Maitê Proença e Ana Paula do Vôlei tentavam dar um ar de "empoderamento feminino" ao bolsonarismo.
Mas não foi possível.
Bolsonaro simboliza a mediocridade política e a chegada ao poder do baixo clero do Legislativo.
Ele representa, no âmbito político, a ascensão de partidos nanicos de direita, pequenos satélites partidários de antigas siglas como o PDS e o PMDB.
No âmbito cultural, Bolsonaro representa a ascensão do "popular demais" que fez uma pegadinha às esquerdas, através do proselitismo da intelectualidade "bacana".
E o espetáculo da posse ainda teve Sérgio Moro, o "herói da Lava Jato", sendo ovacionado pelo público que assistia ao evento.
E Bolsonaro, no seu discurso, prometeu "unir o país" e "proteger a democracia".
Se o governo Bolsonaro for como o governo Michel Temer, será menos mal. Pelo menos, dará para sobreviver.
Em todo caso, o momento é de mantermos calma, mesmo para exercer oposição política ao presidente.
Será difícil pressioná-lo pelas vias tradicionais, e o jeito é que as forças progressistas devem usar mais a criatividade que a agressividade, se aproveitando da mediocridade do governo que se inicia.
Saindo das velhas táticas de greves e discursos raivosos de oposição, usando mais o senso de humor que a raiva, a oposição ao governo Bolsonaro poderá mostrar uma nova forma de pressão.
Não podemos mais perder a cabeça para evitar que o governo reaja com repressão e tortura. Estamos num momento politicamente frágil para nosso país.
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