O presidente Jair Bolsonaro, atendendo a uma promessa de campanha e atendendo à reivindicação dos estúpidos bolsomínions, assinou decreto liberando o porte de armas pelo cidadão comum.
O prazo de registro, renovável, será de dez anos. O cidadão poderá comprar até quatro armas e haverá anistia para quem adquiriu arma de forma ilegal, desde que sem antecedentes criminais.
Essa notícia é terrível e fará o Brasil entrar num clima de bangue-bangue.
Evidentemente, essa medida não trará segurança para a população e, na prática, é uma espécie de "holocausto a varejo".
É uma espécie de holocausto self-service, que causará as mortes de muitos inocentes.
E, num momento em que se discute, nas redes sociais, a morte próxima de dois conhecidos assassinos feminicidas, Doca Street e Pimenta Neves, ambos com indícios de doenças graves e idade avançada, sabe-se que a tragédia também pode rondar os "assassinos do bem".
É como naquela versão de "Hey Joe" de O Rappa, do verso final "Também morre quem atira", ironicamente de uma canção cuja letra original é uma mensagem dada ao autor de um feminicídio.
O feminicídio é um dos piores crimes contra a vida, por se apoiar em falsos pretextos de amor.
Mas também seus autores atraem, para si, sua própria tragédia.
O caso de Maitê Proença é ilustrativo.
Seu pai matou sua mãe quando a atriz era criança e, diante da repercussão do ato, ela também perdeu dois irmãos e o próprio pai, cancerígeno, se matou em 1989. Os irmãos de Maitê sucumbiram um no suicídio, outro nas drogas. O feminicídio transformou a vida familiar da atriz num inferno.
Mas fora do feminicídio, temos também a pistolagem que constantemente transforma os caçadores de hoje em caças de amanhã, pela "reciprocidade" da violência.
E isso fora o fato de que os pistoleiros bebem muito e se alimentam mal e um jagunço ou capanga dificilmente chega vivo aos 60 anos de idade. Se um jagunço de fazenda ou capanga do jogo-do-bicho completarem 50 anos de vida, podem se considerar "longevos".
O ato de tirar a vida do outro por um "pequeno surto de segundos" é a consequência inevitável dessa liberação do porte de armas.
Mas também o atirador atrai para si pressões emocionais tão intensas que incluem até mesmo um transtorno bipolar em grandes doses.
Não raro pessoas que matam também estão sujeitas a viver menos, pelas mais diversas razões.
Estão mais sujeitas a contrair infartos fulminantes, vários tipos de câncer, mal súbito e, nervosas, podem sofrer desastres de trânsito de consequências fatais, quando estão no volante.
Num país cheio de odiadores (haters) nas redes sociais, um "matador do bem" também pode ser morto por outra pessoa, por algum outro motivo.
E no caso do "matador de bem" for assaltado? Não tem essa estória de "peraí, seu ladrão, que eu vou tirar minha arma para atirar". Até a mão tocar no revólver no bolso, o "cidadão de bem" caiu morto.
Enfim, não dá para o cidadão ser justiceiro e depois levar uma vida mansa.
A precipitação de muitos aloprados revoltados é preocupante, e o pretexto de se armar para combater bandido pode se voltar a pessoas inocentes, diante de um pequeno momento de desavenças.
Não estamos mais como há 40 anos, quando o "matador do bem" tinha um pouco mais de blindagem e um relativo sossego social.
O problema da criminalidade não pode ser feito com o armamento da população.
A solução da violência está nas melhorias de condições de vida da população pobre.
Se o poder público ampliasse os direitos dos trabalhadores, em ver de cortá-los, o chamado banditismo reduziria drasticamente suas ocorrências.
Se o poder público oferecesse infra-estrutura para as comunidades pobres, os assaltos reduziriam de maneira significativa.
Se o poder público melhorasse a Educação pública e gratuita, do Jardim de Infância à Universidade, o interesse de garotos pobres pela vida criminosa seria descartado.
Como o Tempo não costuma ser generoso para quem tenta copiar o passado, é bem provável que os chamados "matadores do bem" mais morram do que matem.
O tiro sairá pela culatra e não existe esse negócio do "matador do bem", quando rendido por um assaltante, pedir para ele esperar a vítima pegar o revólver que estiver no bolso.
Quando conseguir tocar nesse revólver, o "pacato cidadão" bolsonarista terá levado dois tiros no peito ou no abdome.
Sabe-se que, no conjunto da obra, o governo Bolsonaro não garantiu a relativa esperança dos primórdios da ditadura militar nem a impressão de aparente estabilidade do governo do general Ernesto Geisel.
Por isso a liberação do porte de armas para cidadãos comuns está mais para a implantação do programa "Minha Arma, Minha Morte".
O maior conselho que se pode dar ao "cidadão de bem" que adquirir um revólver tem que ser este.
Antes de mais nada, esse cidadão terá que, mesmo jovem, preparar seu testamento.
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