O jornal The Intercept continua a divulgar material sobre os diálogos da Lava Jato no Telegram.
Desta vez é um diálogo com vários procuradores do Ministério Público Federal, entre eles o próprio Deltan Dallagnol.
Eles reclamavam da demora que a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, tinha em encaminhar delações da Operação Lava Jato para serem homologadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Desde quando assumiu a função, em setembro de 2017, Raquel apenas encaminhou a delação de um caso envolvendo o ex-presidente do Senado Federal, Renan Calheiros.
Ela não deu continuidade a várias delações, inclusive a do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, cuja delação, alterada duas vezes, motivou a prisão do ex-presidente Lula.
Os procuradores acusam Raquel Dodge de nunca despachar e de adotar uma postura centralizadora nos processos relacionados.
Usando metáforas, os procuradores Antônio Carlos Welter e Anderson Lodetti foram os mais agressivos.
Welter queria resolver a coisa "na ponta da faca" e sugeriu ao grupo de discussão que ingressassem todos os procuradores com mandado de segurança contra Dodge.
Lodetti, por sua vez, queria fazer uma campanha para desmoralizar a procuradora-geral.
"Raquel está destruindo o MPF, achincalhando a gente…[...] teria que ser incinerada publicamente, internamente e internacionalmente", escreveu Lodetti.
Juliano Paludo, outro procurador, escreveu: "O barraco tem nome e sobrenome. Raquel Dodge. O Oswaldo instaurou pgea para pedir informações sobre o acordo".
O acordo se refere à transferência bilionária de empresas investigadas pela Lava Jato (como a Petrobras) para os procuradores desta operação.
Oswaldo, no caso, é o corregedor-geral do MPF, Oswaldo Barbosa, e "pgea" se refere à sigla do Procedimento de Gestão Administrativa, medida usada por este corregedor para ter acesso aos documentos do referido acordo.
Deltan Dallagnol manifestou preocupação com a aproximação de Raquel Dodge com Gilmar Mendes.
Dallagnol propôs aos colegas para pressionar Raquel Dodge sobre o prazo dos encaminhamentos ou usasse a imprensa, em off, ou seja, sem o crédito da Lava Jato como fonte, para tal objetivo.
Outro comentário de Dallagnol foi dado: "Dá saudades do Janot", se referindo ao antecessor de Raquel Dodge, Rodrigo Janot.
A saudade de Dallagnol por Janot também foi manifesta em conversa datada de 16 de julho de 2015:
"(Janot) permitiu que esse trabalho integrado acontecesse, a começar pela criação da FT e todo apoio que deu e dá ao nosso trabalho. Você merece um monumento em nossa história".
A procuradora-geral também não se empenhou em destituir Dallagnol depois que surgiram denúncias sobre seu mercenarismo nas palestras da Lava Jato.
Ela alega não ter sofrido pressão para tanto. Raquel Dodge deixará o cargo no dia 17 de setembro. Bolsonaro não garantiu se vai seguir a listra tríplice indicada para ele. Será que Bolsonaro vai colocar um procurador-geral "cristão"?
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