Ontem ocorreu um fato que destoou dos habituais rumos do golpe político de 2016.
A juíza da 12ª Vara Criminal Federal de Curitiba, Carolina Lebbos, determinou, na manhã de ontem, que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva fosse transferido para São Paulo.
Ele deixaria a prisão em Curitiba para ir a um presídio que, em princípio, não foi determinado.
Pouco depois, a definição veio: o presídio de Tremembé, no interior paulista, onde ficam vários acusados de assassinato e estupro.
A decisão animaria os reacionários de plantão, que achariam que "Lula, finalmente, iria para um presídio comum, perdendo mordomias e vivendo do dinheiro público".
Os fascistas estavam preparando seus engradados de cerveja, porque, para eles, Lula "praticou crime hediondo (sic) e deveria ser preso junto aos seus colegas assassinos".
Lula correria risco de morrer, talvez devido a uma possível rebelião, talvez por algum envenenamento ou uma outra intriga que vier.
Mas eis que surge uma reação inesperada.
E não estamos falando da reação natural do advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, que prontamente redigiu o pedido para suspender a transferência de Lula.
Até porque Zanin costuma perder suas ações e, pouco destacado pela "opinião pública" (eufemismo para o agenda setting, o hit-parade noticioso da mídia hegemônica), não surpreenderia em uma eventual vitória, pela morna visibilidade que tem.
A reação veio de muitos parlamentares não só das esquerdas, mas também de centro-direita (inclusive o PSDB) e anti-petistas moderados, que rejeitaram a decisão da juíza Lebbos.
Os parlamentares foram ao Supremo Tribunal Federal, para falar com o presidente do órgão, José Antônio Dias Toffoli, para pedir a suspensão da decisão.
O presidente da Câmara e, portanto, o segundo suplente do Executivo federal, Rodrigo Maia, manifestou-se solidariedade ao protesto dos parlamentares.
As justificativas para o protesto envolveram os principais motivos.
Um, que Lula, como ex-chefe de Estado, tem direito a uma cela especial. Outro, que ele já é idoso, tendo 74 anos a serem completos em outubro. O terceiro, é a preservação de sua dignidade pessoal e integridade física, que não seria garantida em Tremembé.
Uma votação dos 11 ministros do STF foi realizada para avaliar a decisão.
Quase todos os ministros votaram pela suspensão da transferência.
Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Rosa Weber, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Luiz Edson Fachin e o próprio Dias Toffoli.
Somente Marco Aurélio Mello votou contra, mas entendendo que a decisão caberia ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Não se sabe por que cargas d'água houve uma mudança nos ventos político-jurídicos atuais.
De repente, vemos a Justiça e a imprensa, ao menos, atuando com um mínimo, digamos, de profissionalismo.
O que se pode inferir é que a decisão do STF está sendo influenciada pelas reportagens da Vaza Jato, que também influenciaram uma leve, embora parcial, recuperação do jornalismo na mídia hegemônica, que havia dado lugar ao pseudo-jornalismo de cunho publicitário.
Recentemente, a atuação de Deltan Dallagnol para derrubar Dias Toffoli e Gilmar Mendes, expressa em mensagens do Telegram, azedou as relações entre a Lava Jato e o STF.
A má repercussão fez até com que Fachin, que chegou a apoiar a OLJ, recuasse desse respaldo.
O STF entende que a força-tarefa dos procuradores do Ministério Público Federal em Curitiba, ligados à Lava Jato, querem ter uma ação concorrente com as competências do Supremo.
Sérgio Moro, como cúmplice de muitas ações de Dallagnol, também está em baixa. Ambos foram recentemente revelados como mercenários a faturar com palestras, inclusive privadas para empresários e banqueiros.
Consta-se que Moro está em baixa até dentro do governo Jair Bolsonaro. Que já está em baixa.
Dizem que o governo Bolsonaro começará a "morrer" depois de concluída a Reforma da Previdência, que concluirá seu ciclo na Câmara dos Deputados para depois ir ao Senado.
O que se sabe é que o golpe político de 2016 chegou a tal ponto no fundo do poço que nem os direitistas aguentam mais.
E se até Alexandre Frota está desembarcando do governo Jair Bolsonaro, se abstendo do voto da Previdência, é sinal que a coisa está pesando, mesmo.
Comentários
Postar um comentário