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BANDAS SEM INSTRUMENTISTAS? AHN?!

O MENUDO SÓ CANTAVA E DANÇAVA. NEM SEQUER COMPUNHA MÚSICAS. MAS HOJE O GRUPO É CONSIDERADO "BANDA". VÁ ENTENDER.

Virou um cacoete chamar conjunto vocal de "banda".

Muita gente boa, entendida de música, cai na pegadinha, na boa-fé.

O grande problema é que o pop convencional, pegando um jargão roqueiro, que chamava todo artista, solo ou grupal, de "banda", e agora sai por aí rotulando grupos vocais, sem instrumentistas, sob tal condição.

Tudo por causa de um termo que, às vezes, pode ser cognato, em outras, não.

O cacoete veio por causa da expressão band, que tanto pode ser "banda" como "bando".

No caso dos grupos vocais, o termo deveria ser "conjunto", um sinônimo próximo de "bando".

Num país tomado por uma burrice triunfante, por uma arrogante ignorância que se impõe, à custa da humilhação aos outros, qualquer aberração parece natural.

Chama-se equipe, família, turma com o mesmo nome de "galera" e, em vez de simplificar a mensagem, complica ainda mais: tudo fica "galera lá de casa", "galera lá da escola", "galera lá do trabalho".

Se pode complicar, para que simplificar, não é mesmo?

E aí qualquer amontoado de gente que faz, em tese, uma performance musical, vira "banda", assim, sem verificar.

Muita gente boa cai na derrapada na boa-fé. Menudo e Village People, só para citar dois exemplos, digamos, "clássicos", foram grupos vocais que muitos insistem em chamar de "bandas".

Teve até livro da série Primeiros Passos, da Brasiliense, que chamou o Village People de "banda".

Poucos conseguem se dar conta que "banda" só é um grupo musical que contém, pelo menos, dois instrumentistas.

Na Grã-Bretanha, ao menos, alguns boys bands podem ser chamados de "bandas", como Take That e One Direction, porque seus integrantes tocam instrumentos, apenas fazem performances só cantando na maioria das vezes.

Na soul music dos EUA, grupos vocais que aparecem apenas cantando, na verdade, são bandas porque seus integrantes, muitas vezes, tocam vários instrumentos em sessões de estúdio.

Mas o que se vê hoje é um equívoco gratuito, chamar grupo vocal, que, em muitos casos, nem música compõe, de "banda". Grupos sul-coreanos e japoneses só com cantores e dançarinos chamados de "bandas" assim de graça.

Poucos conseguem perceber o trabalho que é um músico aprender um instrumento.

Ele tem que ensaiar, desenvolver acordes ou ritmos, formatar o som exato, compor partituras, decidir pela melodia certa, pelo arranjo certo, unindo o útil ao agradável.

Compare uma pessoa que ensaia uma guitarra e uma pessoa que ensaia uma coreografia.

A coreografia tem sua trabalheira, seu esforço, o dançarino precisa estar em forma, ter saúde física e mental, interagir com os demais dançarinos, acompanhar a coreografia certa.

Mas isso é outra coisa. Não é uma atividade de músico. Tem seu mérito, tem seu esforço e seu valor, mas é outra coisa.

Agora, se usarmos a coreografia como critério para ser músico, a coisa muda, e neste contexto a função de dançarino é bem menos esforçada que a do instrumentista.

Uma coreografia se faz em algumas horas e o que se realiza em seguida é apenas o ensaio para ver se o processo todo ocorre sem falhas. A coreografia já está feita, a ideia é os dançarinos repetirem a dança de forma que ninguém erre um passinho nem um gesto sequer.

Já o instrumentista, não. Ele muitas vezes leva tempo para escrever uma música, fazer um acorde e um arranjo.

Só para compor o seminal álbum Pet Sounds, Brian Wilson teve que largar temporariamente os Beach Boys, porque precisava se isolar para tocar, no seu piano, as melodias que marcaram o álbum.

Jimi Hendrix, músico exigente consigo mesmo, ficava ensaiando no seu estúdio Electric Lady, tocando, ensaiando e compondo muito, com uma dedicação ímpar.

É um acinte chamar grupos vocais de "bandas" porque o termo deveria ser voltado para os instrumentistas.

No episódio da Ordem dos Músicos do Brasil, quando da revolta contra o longo poder de Wilson Sândoli, eu cobrei, em textos da Internet, para a classe dos músicos também alertar para a mania de chamar de "bandas" os grupos com apenas cantores e dançarinos.

Na época, eu, para fazer uma provocação, dizia que as Pussycat Dolls, grupo vocal estadunidense, era "tão ou mais perigoso" que Wilson Sândoli.

Pode ter sido um exagero de minha parte, e eu pessoalmente nada tenho contra as Pussycat Dolls e sua ex-vocalista Nicole Scherzinger, mas era um meio de despertar a classe dos músicos que ignora certas questões.

É certo que os músicos têm que protestar contra a arbitrariedade de um dirigente que fica vários anos no poder sem trazer benefícios à classe que diz representar.

Mas, vejamos, no "mundo afora" tem gente que se considera "músico" cantando mal, dançando e mal rabiscando uns versos só para botar seu nome na co-autoria das composições de produtores de sucessos pop.

Será que a classe dos músicos também não cobra da imprensa que não chame de "bandas" grupos meramente vocais e dançantes, sem instrumentistas, e não chame de músico quem é apenas dançarino?

Ficar reduzindo a indignação da classe dos músicos a aspectos corporativos é ruim, porque essa indignação é correta, mas não é a única a ser feita.

Os músicos dão um duro para ensaiar instrumentos, fazer arranjos, composição, se preocupar com o equipamento de som, entre tantas coisas, o que não é fácil.

E aí tem gente que nem sabe cantar, usa pleibeque, voz robotizada, dança ao lado de outros vocalistas e dançarinos e eles agora têm status de "músicos" e, grupalmente, como "bandas".

Daqui a pouco até grupos de ginástica fitness serão considerados "bandas" e os verdadeiros músicos não vão ter mais o reconhecimento devido.

Devemos levar em conta isso.

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