Pular para o conteúdo principal

BRASIL ACUMULA ENTULHOS SOCIOCULTURAIS DESDE 1963


A elite do bom atraso diz a que veio quando julga que basta remover os entulhos do bolsonarismo e do lavajatismo que o Brasil está pronto para ser potência de Primeiro Mundo, bastando apenas ficarmos calados e deixarmos a "alegria do povo brasileiro" dar uma "lição de fraternidade e paz" no velho mundo desenvolvido.

Na verdade, essas narrativas, que chegam a gourmetizar os entulhos socioculturais do "milagre brasileiro" como se fossem "relíquias vintage", se devem por dois motivos: um é a maioria dos usuários das redes sociais pertence à elite do bom atraso, a elite do atraso convertida agora numa sociedade "tudo de bom" que se acha predestinada a ser o "modelo ideal de humanidade planetária". Outro é o solipsismo das pessoas com 50 ou 60 anos que medem a nostalgia por meio de suas impressões pessoais.

Paciência. A música brega não fica mais genial porque os sucessos tocavam no rádio quando o hoje crítico de plantão era adolescente nos anos 1970 e seus saudosos pais levavam ele e seus irmãos para um passeio de Ford Belina ou coisa parecida.

Caímos sempre no conto das memórias afetivas e esse viralatismo enrustido que existe no Brasil - um viralatismo não-assumido, pois oficialmente viralatismo é somente Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, Carla Zambelli, Monark e companhia - chega a exagerar ate mesmo na valorização do pop estadunidense (aqui incluindo intérpretes europeus, canadenses e australianos que fazem sucesso nos EUA), que mesmo com inegáveis virtudes raramente pode ser considerado excepcional.

Mas se até mesmo o que havia de culturalmente degradante nos tempos dos generais Médici e Geisel é hoje considerado "relíquia vintage", então há algo errado. Significa que quem aprecia isso não tinha ideia real do que era de fato a ditadura militar ou fazia parte das elites que foram beneficiadas por aqueles tempos de "milagre brasileiro".

Temos que admitir que a Internet é consumida por 85% de pessoas conservadoras moderadas, que até admitem alguma mudança no Brasil, mas com limites. E a orientação de todo o senso comum parte, infelizmente, de um número bem menor, dos 30% de brasileiros bem de vida que ditam os parâmetros do que devemos curtir, acreditar, apoiar, questionar etc. Como se o modo de pensar, agir e gostar de todo o Brasil estivesse privatizado pelas mentes restritivas desses 30%.

Mas engana-se que o Brasil está pronto para ser potência ao remover apenas o entulho bolsonarista. Até porque o bolsonarismo existe porque entulhos mais antigos foram acumulados desde quando o governo João Goulart sofreu uma grave crise, no segundo semestre de 1963. Portanto, há exatos 60 anos.

Acumulamos sujeira por seis décadas e somos proibidos de alertar sobre isso. Textos a respeito repercutem muito pouco, dificilmente atingem um nível significativo de leituras e não servem para formar opinião. Pelo contrário, muita gente se sente incomodada e é tanta sujeira que o "novo normal", de 1974 para hoje em dia, é conviver com essa sujeira como se fosse o mais florido dos jardins.

O fedor mais repugnante dos piores esgotos, se não contar com a acidez raivosa bolsonarista, deve ser encarado como o mais belo perfume das mais belas flores. Esse é o tom do Brasil que temos que conceber, por conta dos 30% de "bacanas" que se acham a "porção mais legal" de toda a espécie humana, por ter salário de cinco dígitos, contas bancárias exorbitantes, compram carro do ano com a facilidade de quem compra uma miniatura de Hot Wheels e adquirem diplomas universitários sem esforço.

Por isso é que as pessoas tentam nos fazer crer que basta combater o bolsonarismo para deixar o Brasil limpinho. Mas há muita sujeira, muita podridão a ser denunciada. E não são somente os trabalhos escravos a serviço de empresas muito conhecidas do público jovem, não são apenas os ambientes tóxicos nos bastidores da televisão e nem casos como as denúncias de importunação sexual do ex-craque Paulo Roberto Falcão.

Há muita coisa podre. Quem é que paga para incluir É O Tchan na onda saudosista na televisão brasileira? Que interesses financeiros não estão por trás de Michael Sullivan ao usar a mesma MPB que quis destruir como trampolim para se relançar na carreira?

Fora da música, a obsessão doentia de muitos brasileiros em cultuar um "médium espírita" muito conhecido e que atuou em Uberaba, um hábito formado durante a ditadura militar - que financiou seitas neopentecostais e o Espiritismo brasileiro com o objetivo de enfraquecer a luta do Catolicismo contra os abusos da repressão ditatorial - , a ponto de publicar nas redes sociais as frases piegas desse suposto "carteiro de Deus", desconhece o lado oculto da trajetória do "bom homem".

Esse lado oculto do "adorado médium" faz o filme O Exorcista parecer comédia pastelão. O "bom médium" apoiou fraudes de materialização, acobertou os crimes do discípulo João de Deus, quase foi para a cadeia por usurpar o legado de Humberto de Campos - por sorte, um juiz suplente com o talento de um Sergio Moro salvou o "médium' da condenação - , apoiou a ditadura mais do que qualquer reacionário histéricoo e ainda teve um sobrinho morto em circunstâncias bastante suspeitas.

Apesar disso, as frases do "bom homem" continuam sendo publicadas, o que mostra o quanto a "boa" sociedade brasileira é retrógrada e ainda se luta para se manterem os entulhos socioculturais mais antigos. A "carteirada" da suposta caridade, nos mesmos moldes que hoje se vê tanto em Luciano Huck como em qualquer campanha eleitoral de cidades "sem lei" do interior do Brasil, blinda o "médium", o que diz muito quanto ao desprezo que a elite do bom atraso dá ao povo pobre.

Afinal, o povo pobre não cultua "médiuns", não se sente representada pelos ídolos popularescos que aparecm no rádio e na TV, veem os jogadores de futebol de maior sucesso como ídolos distantes, como se fossem "apolos no Olimpo", e também quase não usam o celular, pois, quando têm, mal conseguem ir além de seus canais pessoais do Kwai, o "primo pobre" do Tik Tok

É por isso mesmo que textos com forte senso crítico são discriminados e repercutem pouco. A "boa" sociedade não gosta de gente que "reclama demais" e, na verdade, isso não se deve porque o pessoal que reclama "se queixa à toa". É porque nossa burguesia enrustida, que se camufla, invisível, no povo brasileiro como se fosse "uma multidão naturalmente comum", não quer arcar com os ônus de tantos e tantos anos de retrocessos.

Essa "boa" sociedade, hoje a "nata" dos apoiadores de Lula, até tentou, através daquela campanha de "combate ao preconceito" que gourmetizou a degradação da cultura popular brasileira, transformar a pobreza, tradicionalmente um gravíssimo problema social, em "identidade" e até "modelo de vida", apenas fazendo uma cosmética nas favelas investindo em lazer, saneamento básico, tecnologia, eletricidade e alguns paliativos para torar a pobreza "mais confortável", sem realizar uma ruptura estrutural.

Em outras palavras, o pobre continuava sendo, simbolicamente, pobre. Apenas a pobreza era "resignificada" pelo discurso intelectual - desmascarado no meu icônico livro Esses Intelectuais Pertinentes... (Amazon e Clube de Autores) - , deixando de ser um sério problema para ser o artigo principal do discurso das chamadas esquerdas identitárias (um subproduto importado do identitarismo culturalista do centro-direitista Partido Democrata nos EUA).

E isso permite que a "boa" sociedade, sob o pretexto da "consciência social", cultua tanto "médiuns" e funqueiros que zelam pela domesticação do povo pobre, sem combater a pobreza de verdade, mantendo os pobres em suas condições simbólicas degradantes, mas apenas deixando uma cosmética social de falsa emancipação, reduzindo-os aos "pobres" obedientes e infantilizados para o espetáculo da "etnografia para turista ver", com favelas virando safáris humanos, paisagens de consumo.

Vivemos a supremacia dessa elite "invisível", desses herdeiros do golpe de 1964 e do "milagre brasileiro" que agora se acham "tudo de bom", bancando os "donos de tudo", se achando os "melhores do mundo", e discriminando o senso crítico sob a desculpa de "não suportar gente reclamando demais". 

Na verdade, a discriminação do senso crítico tem como real motivo não obrigar nossas elites a pagar pelos prejuízos que causaram ao povo brasileiro em mais de cinco séculos e, num contexto mais contemporâneo, nas últimas seis décadas. Dai o pretexto do não-raivismo, a farsa que consiste em nos fazer acreditar na ilusão de que basta eliminar o entulho bolsonarista que o Brasil fica perfeito.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...