Pular para o conteúdo principal

OS BARRADOS NO BAILE LULISTA

SOLTEIROS QUE FICAM EM CASA E TOMAM LEITINHO SÃO AGORA DISCRIMINADOS PELAS ESQUERDAS MEDIAS.

É preocupante esse mundo do faz-de-conta. Afinal, é bom demais para ser verdade sair do pesadelo lavajatista, temeroso e bolsonarista e entrar, sem escalas nem etapas, no paraíso lulista. Fica soando mais um momento de positividade tóxica do que uma época de verdadeira reconstrução democrática.

Quem comemora o suposto triunfo do governo Lula é gente bem de vida e de bem com a vida. Recebe mais de oito salários mínimos, descontando os encargos, e suas contas bancárias têm valores de, pelo menos, R$ 500 mil, com tendência a crescimento, não obstante vertiginoso.

Não se vê uma reconstrução real do Brasil, fora uma relativa arrumação da casa. A felicidade lulista só beneficia mesmo os 30% de brasileiros bem de vida, que vai do "pobre de novela" (o pobre feliz que pode realizar festa na laje todo fim de semana) ao famoso muito rico, mas longe de ter o poder político de um banqueiro.

Nesta festa "democrática", a promessa é de incluir todo mundo na festa lulista, com exceção apenas dos bolsonaristas de carteirinha. O momento é de "amor", de "felicidade", nada de tristeza nem de solidão. Que a rapaziada sem dinheiro se vire para sair à noite, aprender a tomar cerveja e arrumar uma grana para pegar o Uber de volta para casa.

Ver que agora rapazes que são adultos solteirões morando com os pais e que dão preferência para ficar em casa nos fins de semana para beber leitinho, comer biscoitos, ver desenho animado ou jogar Paciência no computador são agora discriminados é coisa muito preocupante.

É surreal o momento em que vivemos, quando as esquerdas médias, na verdade uma elite que envolve uma pequena parcela de pobres remediados, a pequena burguesia hedonista, uma minoria de identitários e o tecnocratas neoliberais com suposta consciência social e alguns esquerdistas de raiz que se enriqueceram, se tornam esnobes e arrogantes, com um protagonismo conquistado no tapetão de uma campanha presidencial suja como foi a de 2022.

O lulismo é uma festa, dentro de um Brasil devastado onde o ódio já fez policiais cometerem uma chacina em Guarujá para vingar o assassinato de um policial da Rota, grupo de elite da PM paulista, a exemplo do BOPE no Rio de Janeiro.

E, portanto, um clima de positividade tóxica esse "grande momento" do lulismo de hoje, onde se tornou "desaconselhável" ficar triste, exercer o senso crítico ou se emocionar fora de situações protocolares, como a comoção fácil em torno da incompreensão da letra de canções como "Disparada" e "Como Nossos Pais" ou de "histórias lindas" da Teologia do Sofrimento, espécie de "contos de Cinderela" para gente grande, que católicos conservadores e "espíritas" em geral tanto adoram.

Esses são, portanto, os excluídos verdadeiros, os barrados no baile lulista, que na prática defende a "inclusão social" de uns, sacrificando a dos outros.

Primeiro, são os artistas que simbolizavam o humanismo emepebista pré-1964 e roqueiro dos anos 1980, agora confundidos erroneamente com bolsonaristas pela falsa associação à meritocracia.

Segundo, são os intelectuais que possuem senso crítico afiado e geralmente não se pautam na agenda lulista do que pode ou não ser debatido.

Terceiro, são os rapazes solteiros com dificuldade nas conquistas amorosas e que preferem passar os fins de semana em casa vendo desenho animado e tomando leite, chocolate quente, Quik ou coisa parecida, ou comer bolos, biscoitos ou frutas.

Quarto, mulheres que não aderem ao Carnaval identitário e, com senso crítico afiado, se recusam a se divertir nas festas da laje ou nos "bailes funk".

Quinto, o humorismo crítico de Stanislaw Ponte Preta e da geração da revista O Pasquim, rejeitados por destoar da "alegria positiva" do lulismo atual.

Geralmente o lulismo desconstrói não só o bolsonarismo, mas aquele Brasil humanista de Juscelino Kubitschek ou mesmo de João Goulart, em que pese o primeiro mandato de Lula se pautar levemente no projeto político do ex-presidente gaúcho deposto em 1964.

Em compensação, se aproveita o culturalismo da bregalização musical, da precarização cultural, do obscurantismo religioso não-raivoso, vigentes no período ditatorial, pois o lulismo de hoje quer apenas se limitar a ser um "milagre brasileiro" repaginado e passado a limpo, como e o AI-5 pudesse ser totalmente adaptado para um AI-SIMco em que, apesar do clima de festa e alegria, continua sendo proibida a expressão do pensamento crítico.

É triste ver essa estranha democracia que, na campanha presidencial, consistia num único candidato. E, agora, uma estranha democracia na qual não se pode manifestar o pensamento crítico nem as emoções mais profundas, como se os lulistas fossem um bando de robôs identitários e quem quiser ter voz e vez precisa ser também esse autômato.

Esse baile da positividade tóxica, portanto, é capaz de excluir também, pois a inclusão só permite que as pessoas estejam sempre de acordo com a agenda temática permitida pelo presidente Lula, uma "democracia do sim", uma estranha reconstrução do país da qual não se pode identificar os entulhos, exceto para botar tudo na conta dos bolsonaristas. Essa alegria toda me entristece, e muito.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

ESQUERDAS CORTEJANDO UMA CANTORA IDENTITARISTA... MAS CAPITALISTA

CARTAZ DA BOITEMPO JUNTANDO KARL MARX E MADONNA NO MESMO BALAIO. O Brasil está tendo uma aula gratuita do que é peleguismo, com Lula fazendo duplo jogo político enganando o povo pobre e se aliando com os ricos, e do que é pequena burguesia, com uma elite de classe média abastada que aoosta num esquerdismo infantilizado, identitarista e indiferente aos verdadeiros problemas das classes trabalhadoras. As esquerdas mainstream do Brasil, as esquerdas médias, são a tradução local da pequena burguesia falada pela teoria marxista. Uma esquerda que quer soar pop e que, através dos “brinquedos culturais” que fazem do Brasil a versão vida real da novela das 21 horas da Rede Globo, quer o mundo da direita moderada convertido num pretenso patrimônio esquerdista. Isso faz as esquerdas soarem patéticas em muitos momentos. Como se observa tanto na complacência do jornalista Julinho Bittencourt, da Revista Fórum, com o fato da apresentação de Madonna em Copacabana, no Rio de Janeiro, não ter músicos e

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul