Que a grande imprensa propriamente dita, não contando os portais ligados aos jornalões, porque estes, supostamente, possuem um leque mais amplo de assuntos, ignorou a decisão do Tribunal Regional Federal que inocentou a ex-presidenta Dilma Rousseff de "pedaladas fiscais", isso é verdade. A grande imprensa, propagandista do golpe de 2016, não iria mesmo abrir mão de suas posições.
Mas o que me assustou foi que essa grande notícia, que praticamente representa o reconhecimento da Justiça de que o impeachment de Dilma, ocorrido em 31 de agosto de 2016, foi um golpe contra a democracia, também foi ignorada por quem menos se imagina.
O presidente Lula.
Sim, isso mesmo. Em mais uma estranheza, o presidente Lula ignorou completamente o assunto, da mesma forma que, na cerimônia de posse, o atual chefe do Executivo federal não quis que Dilma lhe transmitisse a faixa presidencial, mas representantes identitários das classes populares, que rendeu um ritual bastante atrapalhado e menos simbólico para a reconstrução da democracia brasileira.
Antes que me acusem de inventar boatos, de criar factoides infundados, ou de me acusar de ser um ressentido ex-esquerdista ou um neo-bolsonarista, tenho que dizer que sou um jornalista e, na busca dos fatos, eu junto as peças dos quebra-cabeças, pois não me contento em ver a realidade fragmentada, com peças soltas que convivem sem se colarem umas às outras. Quem acha que informar é só trazer coisas agradáveis vive no mundo da fantasia.
Sou de esquerda, mas não tenho sectarismo político e, além disso, não estou aqui para defender um Brasil de contos de fadas para agradar fulano ou sicrano e lacrar geral na Internet. Se tenho que trazer informações desagradáveis, paciência. A realidade não pode se tornar escrava da positividade tóxica, o Brasil-Instagram, agora convertido em Brasil-Tik-Tok por causa da idiotização cultural, não pode se sobrepôr à lógica dos fatos.
Eu pesquisei as páginas oficiais de Lula e não vi uma menção sequer da absolvição de Dilma Rousseff. Fiquei um tanto chocado. E não dá para Lula arrumar mais uma de suas habituais desculpas dizendo que não abordou o assunto porque estava ocupado com a viagem para a África, porque a pauta é justamente a ampliação do leque dos BRICS, ou seja, a formação do tal "sul global", um enorme clube de nações emergentes.
Devemos lembrar que Dilma Rousseff é presidenta do Banco dos BRICS, o que significa que ela está envolvida diretamente com o tema. Não há como Lula não mencionar o caso, e foi constrangedor ver que ele não publicou uma palavra sequer. Nenhuma das páginas oficiais principais de Lula, como Instagram, X e o site propriamente dito tiveram a notícia, que só foi comemorada pelo Partido dos Trabalhadores.
Isso sugere que Lula e Dilma Rousseff estão brigados, por conta de divergências profundas. Dilma, mais prudente e cautelosa, não teria gostado da frente ampla demais que Lula formou para viabilizar sua vitória eleitoral, e o hoje presidente da República já cometeu erros vergonhosos como faltar a alguns debates na TV. Lula tornou-se um teimoso, um intransigente que só age por impulsos, ele primeiro faz e depois avalia o prejuízo do que foi feito.
A absolvição de Dilma Rousseff deveria ter sido motivo de orgulho de Lula, pois a deposição da presidenta foi fruto de um processo golpista que influiu, e muito, na prisão do próprio petista. A decisão da Justiça de inocentar Dilma deveria ter sido celebrada por Lula, porque o impeachment contribuiu para ele ser preso. A absolvição da ex-presidenta é uma vitória e tanto contra a máquina lavajatista da qual Lula manifestou o seu mais enérgico repúdio.
De que adianta o jogo de aparências em certos momentos, se, na situação mais necessária, Lula age com muita indiferença? Talvez se Dilma fosse hoje a presidenta e não Lula, o Brasil estivesse num rumo melhor. E Lula, desprezando a boa notícia sobre Dilma, age como quem comete uma ingratidão.
Para quem duvida, eu publico abaixo as três páginas, nas quais Lula só se ocupa na viagem para a África. Outro erro que se deve considerar como tal, e não pelo eufemismo de "estratégia" (quando uma ação equivocada é tida como "acertada"), é Lula querer cuidar do mundo, em vez de cuidar do Brasil.
Mas para a elite do bom atraso, que se acha "pobre" passeando pelas ruas de Paris de chinelos, tanto faz Lula estar fora do Brasil ou não. Essa elite nunca sofreu de verdade, nunca sofreu problemas financeiros graves que forçassem ela a cortar suas longas jornadas de cerveja nos bares, ou as excursões de fim de ano no exterior, e por isso não tem condições para dar a melhor avaliação da nossa realidade.
Aqui estão as postagens em que Lula simplesmente ignorou a absolvição de Dilma Rousseff, oficialmente a sua "amiga de infância":
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