Embora as esquerdas tenham razão quanto ao "linchamento" sofrido pela Petrobras, que já cria nos direitistas clamores pela privatização da empresa (o que seria uma festa para as grandes corporações estrangeiras, que entrariam num consórcio de fachada encabeçado por um fantoche brasileiro), a corrupção da instituição traz algo a pensar.
Comparando com as lutas pela criação da Petrobras que, por incrível que pareça, tinham o apoio da UDN (União Democrática Nacional, funcionalmente o PSDB da época, apesar de ser a primeira encarnação do DEM), sobretudo através da figura do deputado mineiro Gabriel Passos, a situação de hoje é algo preocupante diante do neo-golpismo que se articula no país.
A Operação Lava-Jato que investiga os desvios de dinheiro público na Petrobras - que poucos sabem tem o especulador financeiro George Soros, que financia até o "funk carioca" e o Coletivo Fora do Eixo, como sócio - culminou com a saída da presidenta da instituição de economia mista (sócios estatais e privados, com ações majoritárias da União), Graça Foster, que renunciou ontem, substituída por Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil.
A saída de Graça Foster foi motivada por uma série de escândalos, conhecidos pela grande imprensa, e que provocam o desgaste do governo petista, que na atual segunda gestão de Dilma Rousseff já apresenta medidas políticas de caráter conservador, sobretudo através do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e da Agricultura, Kátia Abreu.
O desgaste do PT, há doze anos no poder, cria um impasse social em que, por um lado, há um corporativismo dentro das esquerdas e, por outro, um lunático reacionarismo da direita, e no meio desse caminho toda uma revoada de oportunistas vindos da direita para pegar carona na cauda do cometa esquerdista.
Há dez anos, houve a onda de pseudo-esquerdistas, pessoas que pensavam igualzinho a reaças como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi mas que, por alguma conveniência "pública", se autoproclamavam "progressistas", seja para defender projetos de sistema de ônibus anti-populares, seja para defender a imbecilização cultural pela bregalização.
Era gente que bajulava Lula e se associava a comunidades de Che Guevara nas mídias sociais. Tinha uma visão míope do que era centro-esquerda ou uma esquerda mais ousada, sem diferir uma e outra, e fazia beicinho fazendo falsos ataques a reacionários da moda, sejam eles a revista Veja, o chefão jornalístico Ali Kamel ou a Eliane Cantanhede (ex-Folha e hoje Globo News / Estadão).
O que poucos percebem é que essa fauna pseudo-esquerdista - que deu a falsa impressão de que o Brasil de 2005 era a maior nação socialista do mundo - , assim que Dilma chegou ao poder, migrou quase toda para o lado contrário, e os que ficaram foram só para manter conveniências pessoais, como parentes e amigos ligados à CUT, as verbas do Ministério da Cultura etc.
Eles foram os primeiros "coxinhas" que viraram a casaca e passaram a chamar o PT de "nazi-fascista", numa oposição exagerada que permite teses debiloides e paranoicas do anti-esquerdismo. Já em 2009, se via essa "mudança de jogo" de pessoas que eram "esquerdistas até morrer" e hoje defendem até a intervenção militar para derrubar Dilma.
E isso se deu porque a intelectualidade "bacana" empastelou todo o debate esquerdista. O debate deveria incluir tudo: política, economia, mídia, ativismo social e cultura, etc. Só que, a partir da turma que defendeu a bregalização - como Paulo César Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Denise Garcia, só para citar os "coxinhas" infiltrados nas esquerdas - , esse debate murchou.
O que poderia ser um amplo debate, incluindo um projeto sério de reformulação social, midiática e sobretudo cultural, virou uma discussão morna e privativa de alguns líderes ativistas que aos poucos se isolaram no seu debate político.
Os intelectuais pró-bregalização fingiram estarem solidários com as esquerdas e até ficavam chateados quando algum questionador mais cauteloso os associava ainda ao passado tucano. Achavam que o rótulo "popular" permitia a infiltração deles nas esquerdas e eles tentaram fazer crer que a imbecilização cultural era uma forma "saudável" de fortalecer a cultura popular.
Misturando conceitos populistas com ideias neoliberais, adotando um paternalismo cultural não-assumido e por vezes docilmente reacionário, esses intelectuais chegaram ao ponto de confundir cidadania popular com consumismo e achar que as "boazudas" eram "feministas" porque fazem sucesso sem a aparente influência de um homem. E isso apesar dos empresários dessas musas siliconadas, claramente machistas.
Esses intelectuais empastelaram as coisas. Queriam transformar as classes populares em imbecis, com a bregalização cultural, afastando-a do debate que as forças progressistas estavam promovendo, discutindo pontos importantes como a Educação Pública e a redemocratização da mídia.
Com a bregalização, foi como se seus intelectuais propagandistas, supostamente solidários às esquerdas, tivessem, no calor das discussões, atirado pedras nos edifícios progressistas e depois fugirem. covardemente.
Eles queriam a espetacularização, a imbecilização, o "pão e circo" de funqueiros, tecnobregas, bregas "da antiga" e outros equivalentes. Achavam que o verdadeiro povo deveria se comportar feito idiota e sua visão de "ativismo social" era o povo ir que nem gado à casa noturna suburbana mais próxima para ver os ídolos popularescos do rádio.
Eles faziam tudo isso dentro da mídia esquerdista. Diziam entender tudo de ativismo social e cultura popular, de MPB mais antiga e movimentos sociais. Mas não conseguiram esclarecer as contradições de seus pontos de vista e as circunstâncias revelaram o direitismo enrustido de quem apostava num Brasil mais brega.
Mas aí o estrago foi feito. Eles atiraram na vidraça e foram embora. O povo não pôde acompanhar o debate das forças progressistas, que foram isoladas, os funqueiros, astros maiores dessa pregação pró-brega, apunhalaram as esquerdas pelas costas e correram para os braços dos barões da grande mídia, e todo o debate em prol das classes populares foi dissolvido.
Pior. Os fisiológicos políticos empastelaram o PT, já equivocadamente reduzido a uma Torre de Babel política, com valeriodutos e escândalos da Petrobras, com seus subornos a políticos aliados do governo petista, mas também com seus respectivos passados a serviço de tucanos.
Os intelectuais "bacanas" colocaram o povo à margem das discussões, do ativismo, dos projetos sociais em prol das próprias classes populares. Na medida em que pregavam que "ativismo social" era o povo ir "bovinamente" a um "baile funk" e a moça pobre só poderia ser "feminista" mexendo os glúteos, a intelectualidade associada abriu caminho para os "coxinhas" propriamente ditos.
Com isso, a bregalização permitiu a réplica de intelectuais reacionários, que nunca estiveram aí com a ética, com a qualidade de vida nem com o progresso das classes populares, mas que passaram a falar de "verdadeira cultura popular" como se estivessem pensando em algum momento em favor do povo que sempre desprezaram, feito Justos Veríssimos do Instituto Millenium.
E aí, o que vemos? A corrupção das esquerdas, o empastelamento do debate cultural, as medidas conservadoras do Governo Federal, tudo isso fez do projeto progressista que o PT prometia cumprir em 2003 e que só realizou parcialmente, com resultados frágeis que agora se encontram ameaçados e comprometidos. O Brasil sucumbiu a uma crise séria, que vai muito além da Petrobras.
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