Pular para o conteúdo principal

O CAMINHO QUE MISTURA BREGA, ROCK IN RIO, RÁDIO CIDADE E JAIR BOLSONARO


O Diário do Centro do Mundo revelou que a Artplan, empresa de publicidade de Roberto Medina, dono da marca Rock In Rio, está envolvida com a propaganda do reacionário Jair Bolsonaro.

Tentando promover um Bolsonaro pretensamente humanista, Medina sentiu a dificuldade de desenvolver esse perfil impensável num presidenciável movido pelo ódio.

No texto de Nathali Macedo, informa-se que Medina levou um dia inteiro para trabalhar a cena com Bolsonaro se emocionando ao falar da mulher e da filha.

Machista, ele custou a adotar esta atitude, ainda mais porque o presidenciável de extrema-direita é daquele tipo de homem que não chora.

Medina promoveu o primeiro Rock In Rio, que teve lá sua importância.

Com certo exagero, o primeiro Rock In Rio, de 1985, foi definido como o "Woodstock brasileiro".

Teve seus méritos. Ajudou a profissionalizar o serviço de organização de eventos musicais internacionais, criou uma nova mentalidade de shows, fez atrair artistas estrangeiros para os palcos brasileiros.

No entanto, Roberto Medina não é uma das figuras que se possa considerar progressistas, e foi filiado ao PDS, no final da ditadura militar.

O Rock In Rio usa como lema "por um mundo melhor", mas esse lema publicitário é tão superficial e postiço quanto a caridade fajuta dos "médiuns espíritas" e sua "filantropia de lata-velha" que só serve para adoração a eles, tão medíocres são os resultados sociais alcançados (se é que são).

O conservadorismo de Roberto Medina e seu irmão Rubem, entre outros do clã, é herança do patriarca Abraão Medina, dono da rede de lojas O Rei da Voz.

Abraão empresariou o primeiro ídolo "popular demais" dentro dos moldes da mediocrização musical e do mau gosto cultural calculados para impulsionar o sucesso comercial: Orlando Dias, pseudônimo para José Adauto Michiles, talvez para "ser confundido" com o grande Orlando Silva.

Orlando Dias, contemporâneo de Waldick Soriano, vinha com sucessos com temáticas exageradas com títulos tipo "Tenho Ciúme de Tudo" e "Perdoa-me Pelo Bem Que Eu Faço".

O marketing que a Artplan usa hoje para Bolsonaro usava para Orlando Dias, que era brega quando o termo não existia (só pouco depois Carlos Imperial adaptaria o termo italiano cafone para "cafona").

Consta-se que Orlando Dias se tornou cantor por um suposto sonho em que uma falecida ex-namorada havia lhe avisado de que "sua missão na vida era cantar".

Extremamente comercial e piegas, Orlando Dias foi pioneiro de uma longa linhagem de ídolos "populares demais", entre grupos e intérpretes solo, cujos similares hoje são, entre outros, Luan Santana e Wesley Safadão.

Voltando à família Medina, a marca Rock In Rio, embora tivesse influído positivamente no mercado de apresentações internacionais, corrompeu a cultura rock, transformando-a numa piada.

Daí que, após o Rock In Rio, virou uma praga as pretensas "rádios rock" que nunca passaram de inócuas e chatas rádios pop que "só tocavam rock". De "rock", elas só tinham o vitrolão e algumas medidas de fachada, e sua qualidade deixava muito a desejar.

E aí vieram as pragas tipo Rádio Cidade e 89 FM e experiências lamentáveis como a Transamérica, ou, de âmbito regional, a desastrada 96 FM, de Salvador.

Todas empastelando e envergonhando o legado das rádios de rock originais e acostumando mal o público, que agora digere mais uma programação tipo Jovem Pan FM travestida de roqueira do que uma rádio de rock de verdade.

Até a Kiss FM, para sobreviver, criou seus programas tipo "Jovem Pan", ainda que não vá longe demais como na canastrona Rádio Cidade.

A Rádio Cidade mais parece uma "rádio Rock In Rio" do que uma rádio de rock, e nem a Política da Boa Vizinhança (os órfãos da Flu FM evitavam falar mal da rádio canastrona) manteve a rádio dos 102,9 mhz, hoje escondida na sua sintonia digital.

O nome "Cidade do Rock" dá a deixa: é o mesmo nome do palco do Rock In Rio, o que sugere uma conexão entre a Rádio Cidade e Roberto Medina.

Só que a Cidade "se queimou" forçando a barra na imagem do roqueiro caricato.

Gente bonita nas redes sociais, comentários engraçadinhos, sinal de chifrinho com os dedos, língua para fora e, na rádio, programas de namoro, futebol, besteirol e nada de rock, a não ser os chamados "grandes sucessos", porque a Cidade nada toca além de hit-parade.

Uma rádio que pensa que Deep Purple só gravou "Smoke on the Water" não deve ser levada a sério.

E foi. E por gente reacionária, rebeldes sem causa que pediam o fechamento do Congresso Nacional, faziam cyberbullying nas redes sociais e odiavam ler livros.

Ideologicamente, se dividiam entre as forças que, anos mais tarde, compuseram o golpe de 2016: uns defendendo o PSDB, outros aderindo a Jair Bolsonaro.

E aí entra a ligação com Roberto Medina. O eleitorado de Jair Bolsonaro, em parte, já se expressava na página da Rádio Cidade desde 2000 e nos espaços de debates sobre rádio.

Um bando de fascistas mirins que medem a cultura rock com seus umbigos, pouco importando se Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones existiram ou existem.

Para eles, rock é Guns N'Roses, Rock Bola, Chaves & Chapolim, Mamonas Assassinas, Lobão e Ultraje a Rigor nos momentos de mau humor e Arthur do Val, o Mamãe Falei.

E aí temos esse combo que mistura bregas, pseudo-roqueiros, bolsonaristas, Rádio Cidade e Rock In Rio.

Um Rock In Rio mais preocupado em ter Ivete Sangalo em todos os eventos. E que acha que roqueiro só ouve hit-parade e passa o tempo todo fazendo chifrinho com as mãos e botando a língua para fora.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

BRASIL PASSOU POR SEIS DÉCADAS DE RETROCESSOS SOCIOCULTURAIS

ANTES RECONHECIDA COMO SÉRIO PROBLEMA HABITACIONAL, A FAVELA (NA FOTO, A ROCINHA NO RIO DE JANEIRO) TORNOU-SE OBJETO DA GLAMOURIZAÇÃO DA POBREZA FEITA PELAS ELITES INTELECTUAIS BRASILEIRAS. A ideia, desagradável para muitos, de que o Brasil não tem condições para se tornar um país desenvolvido está na deterioração sociocultural que atingiu o Brasil a partir de 1964. O próprio fato de muitos brasileiros se sentirem mal acostumados com essa deterioração de valores não significa que possamos entrar no clube de países prósperos diante dessa resignação compartilhada por milhares de pessoas. Não existe essa tese de o Brasil primeiro chegar ao Primeiro Mundo e depois “arrumar a casa”, como também se tornou inútil gourmetizar a decadência cultural sob a desculpa de “combater o preconceito”. Botar a sujeira debaixo do tapete não limpa o ambiente. Nosso país discrimina o senso crítico, abrindo caminho para os “novos normais” que acumulamos, precarizando nosso cotidiano na medida em que nos resig...

“ROCK PADRÃO 89 FM” PERMITE CULTUAR BANDAS FICTÍCIAS COMO O VELVET SUNDOWN

Antes de irmos a este texto, um aviso. Esqueçamos os Archies e os Monkees, bandas de proveta que, no fundo, eram muito boas. Principalmente os Monkees, dos quais resta vivo o baterista e cantor Micky Dolenz, também dublador de desenhos animados da Hanna-Barbera (também função original de Mark Hamill, antes da saga Guerra nas Estrelas).  Essa parcela do suposto “rock de mentira” até que é admirável, despretensiosa e suas músicas são muito legais e bem feitas. E esqueçamos também o eclético grupo Gorillaz, influenciado por hip hop, dub e funk autêntico, porque na prática é um projeto solo de Damon Albarn, do Blur, com vários convidados. Aqui falaremos de bandas farsantes mesmo, sejam bandas de empresários da Faria Lima, como havíamos descrito antes, seja o recente fenômeno do Velvet Sundown, grupo de hard rock gerado totalmente pela Inteligência Artificial.  O Velvet Sundown é um quarteto imaginário que foi gerado pela combinação de algoritmos que produziram todos os elementos d...

“GALERA”: OUTRA GÍRIA BEM AO GOSTO DA FARIA LIMA

Além da gíria “balada” - uma gíria que é uma droga, tanto no sentido literal como no sentido figurado - , outra gíria estúpida com pretensões de ser “acima dos tempos e das tribos” é “galera”, uma expressão que chega a complicar até a nossa língua coloquial. A origem da palavra “galera” está no pavimento principal de um navio. Em seguida, tornou-se um termo ligado à tripulação de um navio, geralmente gente que, entre outras atividades, faz a faxina no convés. Em seguida, o termo passou a ser adotado pelo jornalismo esportivo porque o formato dos estádios se assemelhava ao de navios. A expressão passou a ser usada, também no jornalismo esportivo, para definir o conjunto de torcedores de futebol, sendo praticamente sinônimo de “torcida”. Depois o termo passou a ser usado pelo vocabulário bicho-grilo brasileiro, numa época em que havia, também, as sessões de cinema mostrando notícias do futebol pelo Canal 100 e também a espetacularização dos campeonatos regionais de futebol que preparavam...

LULA DEVERIA SE APOSENTAR E DESISTIR DA REELEIÇÃO

Com o anúncio recente do ator estadunidense Michael Douglas de que iria se aposentar, com quase 81 anos de idade, eu fico imaginando se não seria a hora do presidente Lula também parar. O marido de Catherine Zeta-Jones ainda está na sua boa saúde física e mental, melhor do que Lula, mas o astro do filme Dia de Fúria (Falling Down) , de 1993, decidiu que só vai voltar a atuar se o roteiro do filme valer realmente a pena  Lula, que apresenta sérios problemas de saúde, com suspeitas de estar enfrentando um câncer, enlouqueceu de vez. Sério. Persegue a consagração pessoal e pensa que o mundo é uma pequena esfera a seus pés. Seu governo parece brincadeira de criança e Lula dá sinais de senilidade quando, ao opinar, comete gafes grotescas. No fim da vida, o empresário e animador Sílvio Santos também cometeu gafes similares. Lula ao menos deveria saber a hora de parar. O atual mandato de Lula foi uma decepção sem fim. Lula apenas vive à sombra dos mandatos anteriores e transforma o seu at...

A FALSA RECUPERAÇÃO DA POPULARIDADE DE LULA

LULA EMPOLGA A BURGUESIA FANTASIADA DE POVO QUE DITA AS NARRATIVAS NAS REDES SOCIAIS. O título faz ficar revoltado o negacionista factual, voando em nuvens de sonhos do lulismo nas redes sociais. Mas a verdade é que a aparente recuperação da popularidade de Lula foi somente uma jogada de marketing , sem reflexão na realidade concreta do povo brasileiro. A suposta pesquisa Atlas-Bloomberg apontou um crescimento para 49,7%, considerado a "melhor" aprovação do presidente desde outubro de 2024. Vamos questionar as coisas, saindo da euforia do pesquisismo. Em primeiro lugar, devemos pensar nas supostas pesquisas de opinião, levantamentos que parecem objetivos e técnicos e que juram trazer um recorte preciso da sociedade, com pequenas margens de erros. Alguém de fato foi entrevistado por alguma dessas pesquisas? Em segundo lugar, a motivação soa superficial, mais voltada ao espetáculo do que ao realismo. A recuperação da popularidade soa uma farsa por apenas envolver a bolha lulist...

ATÉ PARECE BRIGUINHA DE ESCOLA

A guerra do tarifaço, o conflito fiscal movido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, leva ao paroxismo a polarização política que aflige principalmente o Brasil e que acaba envolvendo algumas autoridades estrangeiras, diante desse cenário marcado por profundo sensacionalismo ideológico. Com o "ativismo de resultados" pop das esquerdas woke  sequestrando a agenda esquerdista, refém do vício procrastinador das esquerdas médias, que deixam as verdadeiras rupturas para depois - vide a má vontade em protestar contra Michel Temer e Jair Bolsonaro, acreditando que as instituições, em si, iriam tirá-los de cena - , e agora esperam a escala 6x1 desgastar as mentes e os corpos das classes trabalhadoras para depois encerrar com essa triste rotina de trabalho. A procrastinação atinge tanto as esquerdas médias que contagiaram o Lula, ele mesmo pouco agindo no terceiro mandato, a não ser na produção de meros fatos políticos, tão tendenciosos que parecem mais factoides. Lula transforma seu...

NEM SEMPRE OS BACANINHAS TÊM RAZÃO

Nesta suposta recuperação da popularidade de Lula, alimentada pelo pesquisismo e sustentada pelos “pobres de novela” - a parcela “limpinha” de pessoas oriundas de subúrbios, roças e sertões - , o faz-de-conta é o que impera, com o lulismo se demonstrando um absolutismo marcado pela “democracia de um homem só”. Se impondo como candidato único, Lula quer exercer monopólio no jogo político, se recusando a aceitar que a democracia não está dentro dele, mas acima dele. Em um discurso recente, Lula demoniza os concorrentes, dizendo para a população “se preparar” porque “tem um monte de candidato na praça”. Tão “democrático”, o presidente Lula demoniza a concorrência, humilhando e depreciando os rivais. Os lulistas fazem o jogo sujo do valentonismo ( bullying ), agredindo e esnobando os outros, sem respeitar a diversidade democrática. Lula e seus seguidores deixam bem claro que o petista se acha dono da democracia. Não podemos ser reféns do lulismo. Lula decepcionou muito, mas não podemos ape...

RADIALISMO ROCK: FOMOS ENGANADOS DURANTE 35 ANOS!!

LOCUTORES MAURICINHOS, SEM VIVÊNCIA COM ROCK, DOMINAVAM A PROGRAMAÇÃO DAS DITAS "RÁDIOS ROCK" A PARTIR DOS ANOS 1990. Como o público jovem foi enganado durante três décadas e meia. A onda das “rádios rock” lançada no fim dos anos 1980 e fortalecida nos anos 1990 e 2000, não passou de um grande blefe, de uma grande conversa para búfalos e cavalos doidos dormirem. O que se vendeu durante muito tempo como “rádios rock” não passavam de rádios pop comuns e convencionais, que apenas selecionavam o que havia de rock nas paradas de sucesso e jogavam na programação diária. O estilo de locução, a linguagem e a mentalidade eram iguaizinhos a qualquer rádio que tocasse o mais tolo pop adolescente e o mais gosmento pop dançante. Só mudava o som que era tocado. Não adiantava boa parte dos locutores pop que atuavam nas “rádios rock” ficarem presos aos textos, como era inútil eles terem uma boa pronúncia de inglês. O ranço pop era notório e eles continuavam anunciando bandas como Pearl Jam e...

A CORTINA DE FUMAÇA DA "SOBERANIA" DO GOVERNO LULA

LULISTAS ALEGAM QUE O PRESIDENTE LULA "RECUPEROU" A POPULARIDADE, MAS OS FATOS DIZEM QUE NÃO. O triunfalismo cego dos lulistas teve mais um impulso diante dos tarifaços do presidente dos EUA, Donald Trump, que pelo jeito transferiu a sua esfera de reality show  para a polarização política. Lula, supostamente vitorioso no episódio, havia se reunido ontem com o empresariado para responder à medida lançada pelo empresário-presidente na pátria de Titio Samuca. Essa suposta vitória se deu pela campanha que os lulistas - que, na prática, são a maior e principal corrente dos movimentos identitários brasileiros - estão lançando, a partir do próprio Governo Federal, defendendo a "soberania" brasileira, em tese insubmissa aos EUA. Lula também anunciou a criação de dois comitês para reagir ao tarifaço do presidente estadunidense. Dizemos em tese, porque nosso culturalismo brasileiro - que vai além das pautas politicistas do "jornalismo da OTAN" - se vale por uma músi...